Lar doce lar

Até a fase em que você sonha sair de casa e ganhar independência financeira, quase tudo em sua casa parecia ter saído de fábrica ou sua mãe fazia por você. Quando você concretiza este sonho, para muitos começa o pesadelo: ter que fazer muitos afazeres domésticos, o que antes sua mãe ou empregada fazia por você.

Se você tem grana o suficiente para bancar uma empregada, muito bom. Mas como nem todo mundo tem a sorte de poucos, aprende-se muito na tentativa e erro. Claro que depois de muita comida queimada, muita roupa esturricada e alguns pratos e copos quebrados, a gente começa a tomar gosto pela coisa.

Como eu moro em um país que ter empregada doméstica é tido como coisa de outro mundo ou artigo de luxo para quem tem muita, muita grana sobrando pelas tabelas (aqui, até artista famoso faz questão de lavar as próprias roupas, limpar banheiro e cozinhar), o negócio é pôr as mãos na massa e deixar sua casa impecável, ou deixar sua casa como aquelas "gomiyasan" que volta e meia aparecem na TV, que vão acumulando lixo até no vizinho.

Portanto, como zelo pela saúde e bem-estar meu e do kinguio encantado, então eu faço. Boto o som e começo a fazer todo o trabalho doméstico. Quanto mais agitada a música melhor, mas alternando com algumas baladinhas. Porém, existem tarefas que nem a música mais legal do mundo fazem tirar meu mau humor. Principalmente se estou com o maldito da TPM.

As que fico pensando três vezes se faço ou não, mas precisa fazer senão já sabe, né, são:

1) Limpar o ar-condicionado: Semanalmente tenho que tirar as telas, passar o aspirador, lavá-las e passar um produto dentro do aparelho. O porém é que como o ar-condicionado desta casa é modelo meio antigo, não tenho como tirar a tampa e passar esse produto para lavar a parte que gruda a sujeira que o ar "colhe" para se tornar frio ou quente. E toca cobrir o que fica embaixo do aparelho para não ficar caindo um líquido preto.

2) A coifa do exaustor: Até limpar o fogão não ligo tanto, pois descobri um produto que tira até aquela crosta de queijo esturricado da encarnação passada, mas o que me deixa literalmente queimando de raiva é ter que limpar o exaustor. O de casa tem uma coifa que cobre o aparelho, coisa mais decente. Mas o que é indecente é de tempo em tempo, tirar o filtro, lavar as telas engorduradas e trocar o filtro. Adendo: o negócio é alto e preciso sempre usar um banquinho.

3) Passar camisa: Gosto de passar roupa, mas o que eu mais odeio é ter que passar camisa. Sim, eu uso camisa pra ir trabalhar, bem como marido kinguio só tem camisa no armário. Ele, nem liga, pois as camisas dele são de um tecido que não amassam, lavou, usou amaciante, estendeu direitinho, vai direto do cabide pro armário. Mas as minhas, não. Amassam que é uma desgraça! Se não passá-las, posso correr o risco de ser chamada de preguiçosa até a minha última descendência. Em tempo: infelizmente onde meu marido compra as camisas, não tem uma decente para as mulheres!

4) Tirar cabelo do ralo: Tenho cabelo farto e pra complicar, resolvi deixar crescer. Portanto, não posso reclamar quando tenho que tirar cabelo do ralo do banheiro. Pior quando tem dia que acabo esquecendo e só lembro quando a água demora para escorrer quando lavo o cabelo. E muitas vezes fico me perguntando, de onde vem tanto cabelo assim!

5) Lavar louça com sujeira difícil: Leia-se quando tem comida grudada e não sai nem com bombril. Isso acontece quando a gente deixa a louça suja na pia e esquece de deixar com água pra amolecer. Aí aquela visão dupla dos infernos: uma, a louça largada; a outra, aquele baita trabalhão pra tirar aquela maldita sujeira que teimou em querer ficar.

6) Lavar obento engordurado: Levo quase diariamente comida de casa. Os obentos daqui seriam as marmitas, mas com embalagens bonitinhas e com comida quentinha. Ou requentada, que seja. Mas a parte que mais me irrita é ter que lavar. Não que eu não goste de lavar louça, mas imagine lavar aquele negócio engordurado e se eu levo algo com molho de tomate... E olha que dou uma lavada na cozinha do escritório, mas com aquele detergente barato e aquela esponja que já nem sei quando compraram, prefiro lavar em casa, pois ao menos, o detergente que utilizo, além de dar conta do recado, não acaba com a pele de minhas mãos.

7) Tirar lixo da cozinha: Dentro da pia temos dois lixinhos: o que fica dentro do ralo pra não entupir e um cestinho onde a gente joga resto de comida e outras miudezinhas (leia-se toco de cigarro que marido joga com água junto, pra não pôr fogo na casa). Aí vem a parte que tenho que fazer de estômago vazio: ter que tirar o lixo do ralo ( que coloco uma redinha dentro da cestinha do ralo pra facilitar a retirada) e o da cestinha da pia. E jogar estes dois lixos em um outro saco pra não ficar cheirando o cestão de lixo geral. A parte bem pior é ter que lavar as duas cestinhas. Usando um produto que se não usar luvas, fica com um cheiro totalmente desagradável que nem lavando com sabonete resolve.

8) Tirar cabelo do tapete: Já falei que meu cabelo cai horrores e até agora não entendo como ainda como tenho volume? Pois é, muitas vezes eu me pego praguejando a mim mesma quando tenho que passar o aspirador na casa. Se bem que até passar aspirador não é problema para mim, o lado mais ruim é ter que passar o "coro-coro", um rolinho com papel aderente, no tapete para tirar o cabelo que o aspirador não consegue tirar. E olha que vai quase uma boa parte do rolo de tanto cabelo que gruda, viu?

9) Separar meia: Lavar roupa, quem faz é a máquina, ainda bem. Mas o lado ruim é na hora de estender, volta e meia a manga da camisa enrosca em alguma outra camisa e tem que tirar peça por peça antes de estender no varal, sob risco de na hora de tirar, cair no chão e ter que lavar de novo. O pior é quando eu lavo a roupa do marido e ter que descobrir que pé de meia pertence a qual par. Explico melhor: quase todas as meias que meu marido usa, são da mesma côr e quase da mesma padronagem! Se marcar, do mesmo material. Já teve uma vez que, distraída, estendi pares de meia de mesma côr, mas de padronagem diferente. Mas era tão semelhante que nem me toquei... Moral da história: ainda bem que neste ponto, marido prefere que ele mesmo lave as próprias roupas.

Comments

  1. Eu comecei a cuidar da casa quando tinha uns 10 anos. É que a mamae trabalhava fora, a irmã estudava mais longe e demorava pra chegar e se eu nao quisesse morrer de fome até as 13h30, a hora que ela aportava em casa, tinha que me virar. Cozinhava, arrumava as coisas e aos poucos fui me aperfeiçoando. Hoje claro que eu prefiro empregada pra usar meu tempo livre pra ler e ver filmes, mas elas sao complicadas demais, entaum melhor ligar o som e fazer como voce: com as proprias maos ;)
    Tava com saudade dos seus textos. ainda bem que volte :D
    Beijus

    ReplyDelete

Post a Comment