Contas do Final de Mês

Lembro-me de uma piada (só não lembro se foi no programa do Jô Soares ou no Ary Toledo) que salário é que nem regra de mulher: demora um mês pra chegar e quando chega, dura cinco dias. Pode achar engraçado, mas o pior é que isso é verdade.

E também a gente chega a dizer que dia 15 (dia que eu recebo o salário) chega a cebola. Mais conhecido como holerite (ou "miserite", como queiram). Por que "cebola"? Por que o envelope é verde? Pode ser, mas quando a gente abre, a gente chora. Além da chegar a cebola, a gente logo diz que "chegou o dia da transferência". Sim, transferência de salário pra pagar as contas.

Let me tell you how it will be
There's one for you, nineteen for me

(Deixe-me dizer como será/ será um pra você e dezenove pra mim)

Isso porque as faturas das contas para pagar/debitar chegam um pouco antes. Já tenho até os dias certos! Antes do salário, as faturas de telefone. No dia do salário, já tem que fazer novo passe de trem. Comprar passe de ônibus. Alguns dias depois, chegam as faturas do cartão, provedora e já me preparando psicologicamente para ter o aluguel do nosso apertamento debitado quase no final do mês, portanto, do dia 15 ao dia 28, tem que segurar o saldo pra não dar pepino depois.

Ainda pra completar tudo isso, junho é o mês que chega o maldito imposto residencial em quatro suaves prestações bimestrais. Cada ano que passa, parece que aumenta! Tudo bem que trabalho pra caramba, mas não desconta dependente não? Bem que deveria ter formalizado o casório na prefeitura e incluido marido kinguio como dependente. Uai, pra ter desconto, vale qualquer loucura, até parece que não me conhecem... (tá, pra quem não me conhece, sou conhecida pelos mais íntimos como a maior mão-fechada que o departamento já conheceu.)

Pois bem, este ano o imposto chegou. E tal como caixinha de surpresa, quase caí pra trás. Imagine, dobrou o valor do imposto!!! Imagine que na hora, lembrei-me da música dos Beatles, de 1966, "Taxman" (ou cobrador de impostos).

If you drive a car, I'll tax the street
If you try to sit, I'll tax your seat
If you get too cold, I'll tax the heat
If you take a walk, I'll tax your feet


Traduzindo: "se você guiar um carro, vou cobrar a rua/ se você tentar sentar, vou cobrar seu assento/ se você sentir muito frio, vou cobrar o aquecedor/ se você for passear, cobrarei seus pés". Tá, vão pensar se isso era hora de pensar em Beatles quando se recebe um imposto no valor de um mês de aluguel. E eu ia pensar em quê? Humor negro de vez em quando é melhor do que ficar tacando fogo em algum lugar por aí!

E olha que tem gente aqui que quando recebe a fatura ou paga compra no supermercado, lá vem os cinco por cento obrigatórios do imposto:

Should five percent appear too small
Be thankful I don't take it all

(Cinco por cento deveriam parecer pouco/mas agradeça por eu não pegar tudo)

Bom, poderia ser pior mesmo. E ai daquele que não paga. Depois vai pedir um favor, olha no que dá:

Don't ask me what I want it for
If you don't want to pay some more

(Se você não me pagar um pouco a mais/nem me peça o que quiser)

E mesmo se for desta pra melhor a gente nem escapa desta:

Now my advice for those who die
Declare the pennies on your eyes

(Agora meu aviso pra aqueles que vão morrer/ declarem o valor em seus olhos)

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