Liquidações

Estação entra, estação sai, e as lojas de departamentos daqui do Japão fazem a maior festa. Literalmente, quando se trata de liquidações, bazares, bargain sales, todos eles sinônimos para mim e muita mulherada para "roupas e acessórios ultra-mega-hiper-abaixo do preço normal". Sabe aquele escarpim vermelho que no início da temporarada custava doze mil? Pode conseguir até por milão! Bem por aí que volta e meia, quando sei de uma liquidação ou quando uma das redes de lojas que costumo comprar algo me envia um cartão-postal-convite para um bazar, acabo por ir. Mesmo sabendo do que me espera.

Quase todo ano acabo por ir num desses. Num espaço amplo de dois, três andares cheinhos de cabides e prateleiras aboletadas de roupas, sapatos, bolsas, acessórios e até (in)utilidades domésticas, tudo bem abaixo do preço mesmo. Certo que eles organizam por seções e acessórios e separam a ala masculina da feminina, mas quando abrem as portas, convites e cartão de fidelidade da loja em mãos e seja lá o que Deus quiser.

Sim, todo bazar que se preze, cada um por si. Bastou entrar no recinto e pegar a sacola, para começar a luta para conseguir uma blusa, uma bolsa, um sapato - "de marca" - com até 70% de desconto na etiqueta. Luta, no sentido literal da palavra, pois aquelas menininhas quietinhas que a gente acostuma a ver todo santo dia nas ruas, em dia de bazar se transformam em verdadeiras lutadoras de luta-livre que nunca vi igual.

Têm horas que me divirto, sabe, quando vejo a mulherada disputar por um sapato que talvez nem seja do tamanho do pé de ambas. Sei que aqui o materialismo come solto, não importa se vai servir ou não, semana que vem lá estará a peça num mercado de pulgas no Meiji-Koen para ser vendido ou escambado. Desta vez já fui preparada, sabendo que só fui no bazar pra comprar a peça mais-ou-menos básica que necessito.

Só que como tudo é separado por marcas e não por tipo de peça e tamanho (exceção feita para sapatos, separados por marcas e tamanhos), tem que ter perna e disposição para percorrer os vários andares e seções. Depois é só festa, esquecendo dos problemas que você deixou do lado de fora do prédio, enchendo a sacola e esvaziando a carteira.

Como diria Vivi, das Garotas, siga os conselhos dela aqui e vá à luta. Eis algumas coisas que aprendi nos meus anos de bazares...

1) Vá com bolsa a tiracolo e só: Aqui não tem lugar onde você possa deixar a bolsa (exceção feita certa vez que fui num bazar de grandíssimas marcas, a convite de um colega meu), portanto, se for num desses bazares, vá de bolsa a tiracolo, na qual deixa suas mãos livres para pegar, experimentar e carregar. Nada de ir nos bazares já com compras feitas com um monte de sacolas. Só servem pra estorvar e irritar as outras que já estão se estapeando nas prateleiras. Deixe pra fazer compras no supermercado no outro dia.

2) Vá de roupa justa e sapatos fáceis de tirar: Assim como nossa amiga Vivi disse, geralmente bazar dificilmente tem provador. E quando tem, você vai ter é que ter muita paciência pra esperar um provador vazio pra provar calça ou saia. Portanto, pra não perder tempo, vá de saia, camiseta justa e como agora aqui é moda, aquelas meia-calças que no meu tempo era chamado de legging e aqui se chamam spats. Facilita na hora de provar também, nem que seja no meio do povo. E nada de ir de tênis, sapatos que dificultam a retirada dos mesmos para provar um. E como também aquelas sapatilhas que parecem àquelas de balé também estão na moda...

3) Vá sem vergonha alguma: Vide item 2, como dificilmente tem provador, o jeito é provar na hora e ali mesmo em cima da roupa ou se esconder por trás de um balcão (se possível) caso você esqueceu de cumprir o item anterior ou não sabia. Assim como todo bazar, não tem devolução. E pra não ficar no prejuízo depois, tentar repassar a peça num mercado de pulgas quando tiver.

4) Não vá em seções de muita gente: Num que fui recentemente, acreditem: o local mais disputado era os da meia-calça. Seja aquelas tradicionais, seja aquelas bordadas, cheias de brocado que mesmo em plena luz do dia elas usam sem pudor algum. Acabei nem passando, pois toda vez que resolvo ir, acabo desistindo. Melhor esperar diminuir a multidão e ir em outra seção.

5) Pegue o que escolheu, segure e depois selecione: Assim como eu, você e muita gente que vai nesses lugares, é normal mesmo a gente abarrotar a sacola. Mas melhor depois separar o que vai realmente usar, pois a maioria das peças em liquidação são aquelas que forarm febre na estação e depois encalharam. Melhor selecionar sempre aquelas que você pode usar o ano todo sem ser tachada de demodé depois, se bem que aqui mesmo se usar uma calça cor-de-cenoura ninguém liga. Ah, e pra depois na hora de pagar, não cair fulminada ao saber da conta.

6) Vá com dinheiro: Sim, a maioria desses bazares não aceita cartão de crédito a não ser que seja da operadora a qual a loja faz parte. Por isso, vá preparada, que nem com cupom de desconto eles aceitam. Se for com o cartão de crédito da loja a qual faz o bazar, dá pra parcelar, mas tente ser racional nessas horas de parcelamento pra depois não estourar na fatura.

7) Freqüente outras vezes: Uma vez bazar, sempre bazar. Não tem jeito mesmo, uma vez que você experimenta da fruta, mesmo sabendo que vai sair esfolada, descabelada, cheirando a mofo, acaba querendo mais. Ainda mais que quando há mudança de estação, as grandes lojas botam tudo pra liquidar. E olha lá nós de novo nessa maratona. Principalmente quando se trata de final de ano e muita loja liquida mesmo. E todo final de bazar a gente promete que nunca mais.

Nunca mais a gente vai deixar de ir novamente...

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