Renovando o Dicionário

Ano vai, ano vem, e um dos mais conhecidos dicionários de expressões japonesas, o Gendai Yoogo no Kiso Chishiki traz nova edição com novas expressões e frases que marcaram o ano que passou. Seria do tipo "Dicionário de Gírias", mas sempre atualizado conforme novas expressões vão sendo difundidas.

Por um lado, para quem quer aprender mais sobre a língua japonesa ( que já é difícil falar pelo modo convencional, pelo modo polido e imagine com gíria...), o dicionário é prato cheio. O lado ruim é que todo ano tem que se manter atualizado e comprar a nova edição. Será que a loja aceita o dicionário do ano anterior como abatimento no preço de um novo? Oras, melhor do que jogar fora por aí, a onda não é reciclar?

Este ano que passou, eis as dez frases que marcaram o vocabulário entre a população e a mídia em geral. A premiação foi feita no dia 3 de dezembro, conforme o site oficial da singo jiyu:

Dogen ka sen to ikan "É preciso fazer algo (por Miyazaki)", Hideo Higashikokubaru (governador da província de Miyazaki). Para quem não sabe, Hideo Higashikokubaru era conhecido na mídia como o comediante "Sonomama Higashi". Sabe lá como ele conseguiu se candidatar a governador da província de Miyazaki (extremo sul do Japão), mas acreditamos que o pessoal tenha se cansado de inúmeros políticos corruptos (isso soa familiar) e resolveu eleger uma pessoa que nunca foi político em vida alguma. Seria mais ou menos São Paulo eleger o Sílvio Santos pra governador do Estado, mas isso seria outra história.
A frase (que ficou em primeiro lugar) foi e continua sendo dita pelo atual governador, em seu dialeto local. Ao menos parece que economicamente, a província vem crescendo, depois que Sonomama Higashi, ops, Higashikokubaru-san assumiu o posto.

Hanikami Ooji "O príncipe tímido e sorridente", por Ryo Ishikawa (jogador de golfe amador). A frase "hanikami" vem do inglês traduzido pro japonês "honey coming", que foi também um programa de variedades no ano passado, que acabou abreviado para "hanikami", que acabou sendo o apelido para o jogador de golfe Ryo Ishikawa, que aos 15 anos ganhou destaque por ser um dos mais novos jogadores de golfe na atualidade. Até aí, tudo bem, mas mais destaque ainda por ser sorridente, novinho e simpático. Será que o jogador Kaká se encaixa nesse adjetivo também?



Hideo Higashikokubaru (esq.) e Ryo Ishikawa, os primeiros lugares na premiação das "novas frases pro dicionário".


(Kieta) Nenkin "Pensões (que desapareceram)" Yoichi Masuzoe (Ministro da Saúde, Trabalho e Bem-Estar). Pra quem não acompanha noticiário japonês, mora aqui e nada quer saber, então vamos soltar esse petardo: durante o curto tempo de governo do premiê Shinzo Abe, descobriram-se que milhões de pensionistas tiveram as contribuições que pagaram no passado "apagadas" e estão dando no que falar até então. Antigamente, eram tudo feito à mão. E como os sobrenomes dos contribuintes podem ter sido alterados devido aos ideogramas serem muito mas muito antigos (segundo dizem), acabaram por constatar que desapareceram e quase não tem muito o que provar. E ainda por cima, de tempos em tempos mudam a papelada do lugar, guardam em lugar inapropriado, vira comida de traças e cupins... (está parecendo muito familiar...)

Sonnano kankee nee "Isso não tem nada a ver" Yoshio Kojima (comediante). Imagine você assistindo um programa de TV e de repente aparece um rapaz mais magro que um palito e mais branco que Wacko Jacko no alvejante, de sunga colorida e fazendo uma coreografia parecendo que está usando uma bomba de encher pneu falando o bordão supracitado. Daí você pára e pensa: "dá pra dar levar à sério um cara desses?". O pior que agora temos que levar: a frase do Kojima virou verbete de dicionário. Agora, a gente aqui não sabe se sentimos orgulhosos (o avô nasceu no Brasil, e Kojima nasceu em Okinawa, sem falar que é formado em Letras na Universidade de Waseda) ou a gente morre de vergonha mesmo (eu é não apareceria no meio de palco desse jeito, não. Aliás, nem posso...).



Você daria crédito numa persona dessas? Não? Nem eu.

Dondakee~ "que tanto.." ou "o quanto..." Ikko (artista de maquiagem). Ela (ou ele, sei lá) faz sucesso atualmente como artista de maquiagem e presença obrigatória no programa (agora às terças, na Nihon Television) "Ones Man", no qual muitas personalidades muito pra lá de alegres e que tem muita grana sobrando passam por situações muito cômicas. Ikko já publicou alguns livros sobre a arte da maquiagem e vai muito bem. O mais engraçado é que usa vestidos, pra lá de decotados e salto altíssimo e não botou enchimento nos peitos.

Donkanryoku Insensibilidade - Junichi Watanabe (escritor). Vem do livro no mesmo nome do escritor Junichi Watanabe, que trata sobre a indiferença até para as pequenas coisas. Para um país que é tido como personalidade indiferente, o uso desta palavra soa estranho para muita gente.

Shokuhin gisoo Falsificações de alimentos - Autor desconhecido. A palavra ficou na palavra da população depois do escândalo da confeitaria Fujiya, depois os croquetes da Meat Hope (que faliu), os chocolates da Shirokoibito (famosos em Hokkaido) e os manjyus da Akafuku. Tudo porque ambos tiveram algo em comum - data de validade de produtos adulterados na fabricação dos mesmos, bem como também casos que frigoríficos estavam vendendo frango brasileiro como se fossem daqui mesmo.

Sem contar também que quatro lojas da rede McDonald's foram acusadas de venderem salada vencida.

A repercurssão foi tanta que o kanji para representar o ano que passou se chama... Falsidade!!!

Netto cafe nanmin Refugiados nos internet cafés, por Shohei Kawasaki (autor do livro homônimo). Aqui em qualquer cantinho (geralmente próximas às estações ) têm-se as "internet cafes", no qual paga-se para ficar de uma até a madrugada toda para navegar na internet, tomar café na faixa e ler mangás. Ou até dormir. Uma boa pedida para aqueles que perdem o último trem e não quer ficar ao relento (confesso que fui uma dessas pessoas), então, por menos de dois mil ienes, pode ficar a madrugada toda na cabine da internet dormindo, se quiser.

Ultimamente, essas "net cafes" estão virando refúgio para aqueles que não tem residência fixa e fazem pequenos arubaitos na cidade, ganhando por dia o suficiente para comer um domburi (tigelona de arroz com carne, acompanhada de sopa e chá) em alguma rede 24 horas e pagar uma madrugada na internet cafe. Com direito a usar o chuveiro, somente pagando pela toalha, a parte.

Até que ponto esses estabelecimentos vão suportar isso, não sei, mas devem estar ganhando horrores na madrugada.

Oogui Comilão ou comilona , por Natsuko "Gal" Sone (talent - personagem da tevê japonesa). Quando vi essa menina pela primeira vez num programa de variedades, achei muito suspeita. Usando unhas postiças, jeito de gyaru de Shibuya, pensei: "que ela faz na vida?". Impressionou-me o quanto ela come. Ela chegou a comer quarenta pratos de yakiniku, certa vez, para pagar uma aposta com um comediante. E ainda por cima é magra de ruim. Dizem que ela tem o intestino pra lá de regulado. Ou tem um estômago muito grande. Ou o metabolismo dela queima o que come muito rápido demais. Seja como for, ela não pode ir de forma alguma para um lugar "tabehoudai" (pague tanto e coma à vontade), ou o local vai à falência, pois ela come o equivalente para quatro ou cinco pessoas...

Mooshobi Dias com temperatura acima de 35 graus, por Yasokazu Takizawa (presidente da associação de lojistas de Kumagaya, Saitama. A cidade mencionada ficou conhecida no ano passado por ter atingindo no pico do verão a temperatura de 39 graus. Tá, pra quem mora no sul do Equador, parece normal, mas aqui, já pode dizer que está no ponto de fritar um ovo no meio do asfalto. Este ano, a cidade de Kumagaya até colocou um termômetro tamanho gigante para indicar a temperatura da cidade no verão.
Conseguiu atingir 40,9 graus.

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