Regionalismos

Já ouvi gente que faz de tudo pra perder sotaque. Tanto é que reza a lenda que um certo telejornal faz com que os apresentadores e repórteres façam aula com fonoaudiólogos para manter um sotaque só.

Mas eu não ligo pra isso, não. Da mesma forma que eu acho o sotaque de tal pessoa horrível, os outros também vão achar o meu pior ainda. Oras, é a lei da reciprocidade, claro. Por isso que nunca liguei muito em querer perder o meu sotaque característico do interior paulista.

Fica difícil descrever o jeito que o pessoal do interior fala, pois varia de cidade pra cidade, mas só do fato falar as palavras com o erre puxado e pronunciado, já denuncia tudo. Do mesmo jeito que já conheci muito os habitantes do sul, do norte, do centro-oeste... Tá, às vezes eu tento, mas nunca consigo. Como diria, é da natureza mesmo. Quando estou falando, normalmente, vai lá uma palavra e com o sotaque junto. Só não me peçam pra falar tal palavra, que acabo falando sem sotaque e perde a graça junto.

Mas a língua portuguesa do Brasil não vive somente de sotaques, vive também de palavras que para uns é um significado e outros aquelas mesmas palavras se tornam outras. Alguns exemplos?

Mandioca: paulista e do interior, mandioca é aquela raiz branca de casca marrom que a gente cozinha pra comer quase pelando com açúcar, ou corta cozido pra fritar. Ou ralar pra fazer polvilho doce ou azedo. Ou bolo de mandioca. Mas dependendo da região a mesma mandioca de paulista vira aipim pra carioca e macaxeira pro pessoal do norte. Mandioca no norte é a mandioca-brava pro pessoal do sul. Prova real foi minha prima, também paulista, que mudou-se pro norte do Brasil e pediu mandioca pra fazer bolo. Além do feirante ter ficado espantado, o bolo desandou. Ainda bem, senão ela não estaria entre nós pra contar o resultado.

Quentão: nas festas juninas, ao menos em São Paulo, vinho quente é feito de - claro - vinho, água, açúcar, maçã e cravo (ou canela, se preferir) e servido bem quente, pra esquentar mesmo durante o frio das festas. Agora, uma coisa que eu nunca soube que o quentão paulista (feito de pinga, açúcar e gengibre) é o vinho quente do pessoal do sul. Sim, os gaúchos, catarinenses e paranaenses chamam o vinho quente de São Paulo de... quentão! Só soube disso no ano passado ao conversar com dois colegas meus - uma gaúcha (que essa só falta a cuia de chimarrão) e um paranaense...

Ramona: acho que só o pessoal de onde moro sabe o que significa - grampo de prender cabelo. Sério. Não sei onde o pessoal tirou esse nome, mas até hoje me pego falando: "fulano, tem uma ramona pra me emprestar?". Talvez algum pessoal do centro-oeste que veio morar nas bandas do interiorzão paulista e trouxe essa palavra junto...

Guin-Guin: essa palavra só tem na região onde moro - significa... tampinha de garrafa, aquelas antigas (ou nem tanto assim...) de metal.

E vocês, conhecem mais algumas palavras que só têm onde vocês moram?

Comments