Por Que Meu Copo Nunca Fica Vazio?

Ou: todo final de ano acaba sendo a mesma coisa.

Só pelo relapso de dias que estou escrevendo isso, percebe-se que 1) a autora acabou de acordar do cochilo que deu depois que levou namorido kinguio pra estação e 2) a autora ainda está tentando se recuperar da festa de ontem.

Festa?

Como muita gente que está aqui no Japão, sabe que todo final de ano, os funcionários de empresas, escritórios, que seja, se reunem pra confratenização de final de ano ou bounenkai (忘年会) cujo significado, literalmente seria "encontro de esquecer o ano". Desde que trabalho em escritório, todo final de ano o pessoal se reúne pra comer e beber em algum lugar, uma forma gastronômica de esquecer o ano terrível que passou. Se bem que, até alguns meses atrás, o pessoal do meu departamento costumava ir comer e beber (se bem que era mais beber...) todo mês, especialmente depois que recebíamos o cebolão... ops, o pagamento.

Só que, devido a falta de criatividade de muita gente, por quatro anos (leiam bem: quatro anos...) consecutivos, o pessoal do outro departamento sempre marcava a festa de final de ano no mesmo lugar. Ainda se fossem dois anos seguidos, tudo bem, mas... quatro ??? Nada contra churrascarias mas todo ano indo na mesma, olha, até o mais assíduo frequentador enjoa. Mas quando pedem sugestões, ninguém se manifesta, e quando se manifesta a gente acaba é sendo defenestrado.

Este ano, não sei porque se é que o pessoal ficou meio desanimado com a situação atual, mas até duas semanas atrás ninguém estava falando nada de bounenkai. Eu estava era achando que o pessoal iria telefonar na pizzaria e mandar entregar algumas com aperitivos e comprar a bebida na loja que fica na rua paralela do escritório. Eis que resolveram em cima da hora e sabe como chega final de ano: liga para trocentos lugares e nada. Eu quis dizer resolveram fazer o bounenkai mas faltava o lugar.

Liga pra um lugar, obviamente pela época do ano, já estava lotado; liga pra outro, o horário não ajuda; liga para outro, o horário ajuda, mas falta capacidade; liga pra outro, ninguém gostou do preço e por aí vai. Acho que até se pedissem as pizzas, do jeito que a gente estava com sorte, era bem provável que o tencho (gerente) dissesse "desculpe, mas acabaram os ingredientes".

Sorte que conseguimos em um restaurante estilo americano, com duas horas de comida e bebida a vontade (desde que pagando, claro...) Local marcado, hora combinada e quantidade de pessoas o suficiente para não dar problema na hora de pagar depois (sim, todo ano acaba faltando dinheiro na hora de pagar a conta, bem que deveriam cobrar na entrada, já que o valor já está fixo mesmo).

Duas horas depois de muita comida, muita bebida, mais um ano que se vai. Desta vez, pra não me dar problemas na hora de voltar (sim, do local do evento até onde moro, de trem podem contar uma hora), acabei por beber o que muitos falam "bebidas de mulherzinha", pois minha favorita, a famosa irlandesa Guinness não servia naquele local. "Bebidas de mulher" leia-se como coquetéis leves (mas que sobem e pra mim dá um sono daqueles), exemplo como cassis soda, orange, cramberry soda, screw driver, gim tonica e por aí vai. Não estava a fim de passar mal.

A história de consequências desastrosas pós-bounenkai ou pós-nomikai tenho uma que eu faria questão de tentar esquecer, mas fica difícil. Três anos e tantos atrás, na despedida de uma de minhas colegas de trabalho, foi o pessoal todo (conta-se aí uma dúzia) num pub que ficava perto de uma estação. Eis que, eu meio lesada, depois de dois half pint da Guinness, aceitei tomar um coquetel de metro. Não que eu tomei um metro disso, mas é que a iguaria é servida num recipiente milimetricamente contado.

Resultado: a bebida era tão ruim, que aquilo me revirou toda. Saí em disparada pro banheiro, se é que me entenderam. Ainda bem que estava vazio, pois banheiro feminino nesses lugares geralmente está livre. Mesmo tendo me aliviado, um lesado me fez tomar mais dois desse maldito coquetel molotov. Sim, porque depois disso fui eu correndo novamente pro recinto. E ainda por cima o lesado queria que eu virasse o copo. Foi nessa que eu virei pra ele e disse que, se me fizer virar essa porcaria, eu vou é revirar o estômago em cima da mesa mesmo, o que ele preferia?

Na hora de ir embora, acabei por descer numa estação que não era o que costumo fazer baldeação pra casa para mais uma aliviada no banheiro. Antes perder o trem do que perder a dignidade, que nessas alturas do campeonato nem sei onde foi parar. Consegui chegar no meu apertamento inteira (naquela época, namorido kinguio trabalhava à noite, por isso não dava pra ir me buscar na estação, mas pelo poupei-o de me ver no estado lastimável que estava: pálida feito gesso e passando mal), mas só de lembrar que no dia seguinte eu ia ter que fazer plantão, já estava me preparando pro pior.

Não posso reclamar, porque, perante muita gente que está meio com a corda no pescoço e uma outra parcela nunca ter tido alguma confratenização de empresa qualquer, até que neste ponto posso dar graças aos céus e agradecer por ainda ter um trabalho, poder pagar as contas e ainda poder garantir minha aposentadoria, o que falta poucos anos para isso.

Comments

  1. Essas festas são pitorescas. No ano passado não fui, mas esse ano resolvi aparecer. Fiz a preparação habitual, li todos os artigos relacionados a comportamento em festas, etc. Esse ano novamente a festa foi num sítio. Com piscina, jogos, essas coisas. E claro, os homens querendo devorar as meninas de biquíni. Só que nenhuma menina levou biquíni, ou seja, só os caras foram pra piscina. Foi bizarro, ver todos aqueles colegas que vc só vê em situações formais de sunga e bêbados.
    Teve um dos meus colegas que, cheio de cerveja nas idéias, resolveu mergulhar, aí rolou um pânico geral, pq quando ele levantou, ele tava com sangue escorrendo pelo rosto, pq ele tinha cortado a testa e a parte de cima do nariz, logo embaixo dos olhos. O pior é que ele tava mais procupado com a reação da mãe dele do que qq outra coisa...kkkk.
    Bebi um pouco, mas não o suficiente pra passar mal nem pagar mico. Graças a Deus!
    Fora que o meu chefe tava insistente em tirar fotos com as meninas...
    Bem, no final das contas, sobrevivi.

    Kissu

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  2. Fernanda, as festas que você mencionou, eram bem típicas de onde eu trabalhava enquanto eu estava no Brasil... Mas não sei se o pessoal do interior era mais contido, mas fazíamos em fazenda sim, mas sem cair na piscina (em compensação, jogo de truco corria solto ahahahahah).

    Fora isso, na sexta sobrevivi. Sem pagar mico ahahah

    Alexandre, o mais incrível que os chefes do meu trabalho mesmo sem beber já ficam doidinhos ahahah Mas eu conheço gente que bebe cerveja como água e não passa mal. Eu, se passar do segundo one pint da Guinness, já tenho que parar por aí, não que eu passe mal, mas eu fico com sono!
    Será que esse coquetel de metro foi na mesma rede de pubs que eu vou de vez em nunca?!

    Abraços e beijos!

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