[Discoteca Básica do Empório]: "Cloud Nine", de George Harrison


John Lennon era o "gênio". Paul McCartney, o "bonitinho". Ringo Starr, o "palhaço". E George Harrison? Era um beatle difícil de descrever. No palco, ficava no meio dos dois principais criadores da banda, com sua guitarra e fazendo belos solos. E quietinho no seu cantinho. Sentia-se incomodado por ter a dupla Lennon-McCartney dominando o pedaço? Tímido demais? Ou porque era o caçula dos quatro e quando se é o mais novo era "o último que fala mas o primeiro que apanha"? Piadas à parte, Harrison era o que mais poderia ter sido bem aproveitado: autodidata, sabia tocar melhor guitarra do que os companheiros. Tinha uma técnica que seria difícil explicar, mas quem ouvir os álbuns do grupo e carreira solo, fica impossível resistir.

Harrison também era aquele que, na hora certa já tinha a piada pronta. De extrema acidez mas tinha. Mesmo ter perdido a primeira mulher pro melhor amigo (no caso, o guitarrista Eric Clapton), não perdeu foi a piada. Muito pelo contrário: continuaram amigos, tanto que no álbum da resenha de hoje, fez questão que participasse.

"Cloud Nine", de 1988, quebrou o jejum de seis anos que Harrison não lançava nada de novo. Ficou recluso dos estúdios e dos palcos depois da crítica negativa do álbum anterior - "Gone Troppo", que misturava o bom humor entre o rock e baladas. Na época, sentiu-se magoado: "De que adianta gravar um disco se não vão tocar nas rádios?". Neste período dedicou-se à família, a jardinagem e ao cinema (teve uma produtora de filmes, a HandMade Films, que lançou bons filmes como "Mona Lisa" e "A Vida de Brian"), mas a vontade de voltar a tocar e cantar falou mais alto, eis que num momento de inspiração, compôs e chamou os amigos para ajudarem no álbum novo.

Apesar que desde a dissolução dos Beatles, Harrison lançou boas músicas como "My Sweet Lord" (que depois lhe deu um processo e mais uma piada pronta com a cômica "This Song"), "Dark Horse" (nome da gravadora que possuiu), "Bangladesh" (sabiam que ele foi o pioneiro de concertos pra arrecadar fundos ?), "Faster" (que declarava sua paixão por Fórmula Um. Foi tanta que em 1979 apareceu ao vivo e em cores no autódromo de Interlagos no GP Brasil). Mas desistiu de turnês depois de 1974, que apresentou-se totalmente rouco, quase sem voz e muita gente não gostou. Seu envolvimento com o Hare Krishna - uma forma que encontrou para descobrir a si mesmo na época mais psicodélica dos Beatles - foi tão forte que muita gente achou que Harrison havia surtado. Muito pelo contrário...

Ao chamar os amigos - Eric Clapton, Ringo Starr, Elton John e Jeff Lynne - para participarem do álbum, poderiam achar que "ah, vai sair mais um álbum que é ouvir uma vez numa roda quadrada de gente regada a cerveja e só", mas quem ouvir, vai entender que valeu a pena esperar tanto tempo.

A faixa título "Cloud Nine" é uma gíria inglesa para "desencanado". Acho que era o que Harrison estava ao lançar o álbum. Logo na introdução, reconhece-se os acordes da guitarra de Eric Clapton, que colaborou no álbum. A irônica "Devil's Radio" é um recado pra tablóides e revistas de fofocas que pipocam por aí. "Got my Mind Set On You" é um cover bem obscuro dos anos 50, do tipo "one-hit wonder" mas até hoje toca nas rádios. Na versão de Harrison, digamos de passagem.

Para não dizer que ainda estaria magoado com os ex-colegas de Liverpool, a mudança definitiva foi em "When We Was Fab". Fab four ou quarteto fabuloso era o apelido que os Beatles tinham no auge da carreira. Quem viu o promotion video, as evocações aos Beatles ficam bem claras, como o uniforme que usou na capa de "Sgt Pepper's...", a maçã verde e principalmente na segunda parte em que Harrison aparece ao lado de uma morsa canhota e de Ringo Starr (que tocou bateria no álbum) e um transeunte passa com o álbum "Imagine" de John Lennon, mostrando a contracapa.

Uma pena que, depois do projeto dos Travelling Willburys (falarei em uma oportunidade sobre esse projeto), Harrison acabou voltando ao low prolife em matéria musical, apesar de ter participado do projeto dos Beatles - "Anthology", em 1997. Só que, devido aos problemas de saúde que acabou tendo depois de muitas décadas de tabagismo (sem contar que em 2000 quase foi desta pra melhor por um outro doido que invadiu sua casa e o esfaqueou, mas só não foi pior porque sua esposa desarmou o rapaz com um abajur na cabeça), em 28 de novembro de 2001, Harrison acabou partindo para a eternidade.



Aos dois minutos do segundo tempo: notem a morsa canhota (seria Paul McCartney numa referência de uma música dos Beatles em que John Lennon falava "The Walrus Was Paul"?), Harrison disse que era Paul, mas vindo dele, fica a dúvida, e o transeunte passando com o álbum "Imagine" mostrando a contracapa da foto de Lennon...

O post de hoje é uma pequena homenagem a George Harrison que, se estivesse ainda aqui, "in the Material World", estaria com 67 anos.

Comments

  1. Muito interessante seu post. Sabe que aprendi a gostar dos Beatles desde pequena graças a meu pai que vivia escutando essas músicas? Até hoje gosto muito. Meu pai tem até poster deles em seu escritório..rsrsrs...e meu pai já é velho viu, mas pouco sei sobre as histórias de cada um deles.

    Vim aqui pq vi vc no meu painel de seguidores e resolvi xeretar...rsrsrs...espero que não me leve a mal.

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  2. Desabafando, eu comecei a ler quando vi no da Elisa, Alexandre e Bah. Gosto de seus posts, muito bons mesmo! Vou ler o resto com mais calma!
    Fico feliz em frequentar este pobre mas limpinho sítio, seja bem vinda mas não repare a bagunça rs
    Eu diria que sou fã dos Beatles desde o inicio da adolescencia. Só não tenho um poster em casa porque 1) namorido vai me olhar torto e 2) nao posso pregar nada na parede (se bem que tem um relogio pendurado)

    Beijos!

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  3. ahahahah Alexandre, a verdade é que a ex-mulher de Harrison e também acabou sendo ex do Clapton, ela tirou Clapton do vicio de heroína. E ela ainda mantem amizade com o segundo ex-marido e guarda boas lembranças com Harrison. Um livro que li da autobiografia dela, talvez a unica frustação da Patti era não ter podido ter filhos.
    Realmente, quase ninguém fala de Harrison, mas se falar dos melhores guitarristas, ele está dentro!
    Beijosecuida!

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