Tempos de Literatura


Segundo minha mãe, eu comecei a ler aos quatro anos através das revistinhas da Mônica, Cebolinha e Pato Donald que meu pai mensalmente comprava para meu irmão mais velho ler. Se bem que na verdade, era meu pai quem gostava. Felizmente tive pais presentes talvez pelo fato de eles terem tido comércio próprio, o que contribuiu para que minha mãe passasse mais tempo com a gente, e acompanhar nas lições de casa.

Das revistinhas a placas de sinalização, minha mãe ensinava antes de eu entrar na escola em si. E mesmo no primário, não abandonei os hábitos de leitura: toda semana, na biblioteca, pegava dois livros adequados para a idade, afinal, tinha sete anos. Meu irmão mais velho já estava lendo Monteiro Lobato. E eu lendo Contos de Fada. E daí que era sobre uma princesa que só dormia, outra que resolveu comer uma maçã ou perdia um sapato de cristal antes da meia-noite? Eu estava aprendendo a ler, puxa vida!

Da biblioteca da escola para a biblioteca municipal, graças ao meu irmão que trazia toda semana três a quatro livros do Monteiro Lobato pra ler. E quando ele terminava de ler, eu lia depois. Claro que existiam palavras que eu não conhecia e tinha que recorrer ao dicionário mesmo.

No ginasial, foi a coleção Vaga-Lume (vai com hifen mesmo!), onze entre dez estudantes dos anos 80-90 leram se não toda a coleção completa.

Quando se entra no colegial, na preparação pro vestibular, começa a fase de "leitura obrigatória". Alguns livros li e gostei mesmo sabendo que era leitura obrigatória pra encarar a fase do vestibular, como "A Confissão de Mário", "Quincas Borba" e "O Amor segundo G.H.", mas se existem livros que comecei a ler e só fui ao final porque precisava mesmo, o pessoal que gosta pode me bater, jogar pedras, mas "Memórias de um Sargento de Milícias" e "Os Lusíadas", precisava de um motivo muito maior pra ter chegado até o fim, pois no meio da leitura dava uma angústia sem fim.

Mesmo hoje estando aqui, continuo a ler. Desde revistas até livros, embora em inglês mesmo, pois acho difícil encontrar bons livros em língua portuguesa (sem ser de auto ajuda, perdoem-me quem gosta, se eu leio, é pra rir um pouco), a não ser comprar via internet -mas nesse ponto sou tradicional, gosto de sentir o cheirinho de papel impresso (será que os tempos do mimeógrafo me deixaram assim?), ver com a mão, entendem?

Apesar de muitos autores já terem partido, na parte literária, eu prefiro ler os livros do que saber mais sobre suas posições políticas, opiniões polêmicas e particularidades - se Haruki Murakami (calma, ele ainda está vivo) é crítico ferrenho no way of life do Japão atual, eu prefiro ler sobre isso através de seus livros, como "Norwegian Wood". Se Luis Fernando Veríssimo poderia sofrer disso ou daquilo pelo peso de ser filho de Erico Veríssimo, as crônicas sobre "Comédia da Vida Privada" são uma delícia de serem lidos. E por aí vai.

Esqueçam o quão polêmico poderia ter sido Jose Saramago, devido as suas opiniões próprias sobre política, comportamento e religião, mas se não fossem suas opiniões e seu modo de pensar, talvez nunca fosse reconhecido mundialmente (talvez mais do que sua terra natal, Portugal) e jamais tivesse um Nobel de Literatura.
Li o livro que abre o post um pouco antes de vir para cá e digo: leia com calma, sem pressa, pois a leitura de Saramago, como me recomendaram, necessita de atenção. Mesmo em língua portuguesa, mas o importante em uma leitura, é tentar imaginar como seria, até por vezes, incorporando o(s) personagem (ens).

Comments

  1. ainda bem que la em casa minha mae sempre nos incentivou a ler,comprava quadrinhos,a serie vagalume,entre outros.
    Tenho alguns do Saramago, e com certeza se nao fosse as polemicas que ele causa,nao iria impactar tanto a ponto de chamar a atencao do mundo inteiro.Li caim,nao gostei,mais nao julgo um autor por um livro.
    beijaoo.

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  2. Seu post trouxe boas recordações da minha infância. Eu adorava os gibis da Monica e tb li quase a coleção vagalume inteira...rsrsrs...alguns li mais de uma vez! Era tão bom não? rsrsrs...tb adorava frequentar uma biblioteca que tinha perto de casa só pra pegar os livros do Monteiro Lobato, mas esses nem sempre eu conseguia ler até o fim.

    Li tb o Ensaio sobre a cegueira e fiquei totalmente presa na leitura. Quando terminei pensei: esse autor é um gênio, como ninguém pensou e escreveu sobre isso antes, porque com certeza essa seria a realidade se algo parecido realmente acontecesse.

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  3. Alexandre, meu caro, não esqueci do site que você me passou, da coleção inteira do Vagalume. Por mim eu comprava tudo. Por que nao fiz isso quando eu lecionava e a gente conseguia "na faixa" por sermos docentes? Acho que porque lingua portuguesa e matemática só ia ter coincidência no infinito.
    O triste é saber que até aqui não estamos livres de certas pragas, como você mencionou no ultimo paragrafo: mas a vizinhança não reclama, não?! Ah, se sou eu...

    Andreia, quem me conhece, vai pensar que pirei: fiz faculdade de exatas e adoro letras e artes rs. Tudo bem que tem alguns livros que fui OBRIGADA a ler no tempo do magistério e no vestibular, afinal, nem "Amor de Perdição" salvava. Porém, ultimamente, até bula de remédio ando lendo ahah

    Desabafando, sabe que até hoje ainda leio os gibis da Monica, se cairem na minha mão? Se bem que eu prefiro as antigas mesmo...

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