Surtos Psicóticos em um Supermercado


Para quem trabalha na "maior cidade do Japão" (Tóquio) e mora na "segunda maior cidade do Japão" (Yokohama), até que consigo levar numa boa os transtornos e o estresse do dia a dia, do contrário acho que estaria cometendo um sem número de ataques por aí. Mas confesso que teve momentos que eu tive vontade de ter um surto psicótico pra ver no que resulta, mas no máximo que faço é mentalmente soltar um monte de palavrões inimagináveis, rogar trocentas pragas e depois fazer aquela cara de cínica de "ah, nada não..." Pior que se essa vontade calha no mesmo dia que a TPM ataca e que tudo dá errado, espero estar longe, senão nem respondo por mim.

Se existe um lugar que é perfeito para eu ter facinho facinho um surto psicótico, é supermercado. Qualquer um. Pior que não tenho como evitar de ir, porque afinal, a gente precisa se alimentar, limpar e cuidar. Tudo bem que agora existem as compras via internet, mas sou daquelas que precisa "ver com a mão" mesmo, como saber o que tem de algo mais numa lata de molho de tomate ou ver se as batatas estão boas, por exemplo. E ver se tem algum produto novo para experimentar (e quem sabe, comprar de novo ou nunca mais), provar as amostras que  têm em certas gôndolas...

Aí que vem a hora que tenho vontade de surtar quando vou a um lugar destes. Tirando segurar a nossa vontade (minha e de namorido kinguio) de encher o carrinho de tudo o que ver pela frente, o que presencio acho que todo mundo já viu e teve vontade de surtar também... Tá, confesso que também certas coisas eu também fiz, mas pra descontar no que já aprontaram comigo, mas antes que me chamem de psicótica e me internem num sanatório mais próximo de casa, digam que no fundo a gente não tem razão:

1 - Ofertas relâmpago e salve-se quem puder! Volta e meia, alguns supermercados que frequentamos, em determinada hora tem o "Time Service", onde naquela hora certo produto fica bem abaixo do preço normal e uma unidade por pessoa. Dificilmente eu pego essas promoções porque geralmente eles fazem durante a semana e bem no finzinho da tarde, e todo mundo sabe que eu trabalho nesse horário. Uma vez que folguei durante a semana (normalmente folgo às quintas), tive a desdita de ir ao supermercado e claro, aproveitei o "time service", no qual eu fui literalmente estapeada pelas donas de casa porque o pacote de açucar estava muito barato demais e como açúcar é algo que preciso ter em casa. Fico impressionada como as donas de casa aqui adoram uma oferta do gênero e dá-lhe cupons e panfletos para saberem o dia que tem oferta. Tudo bem, quando eu assinava jornal eu também recebia.
- O que dá vontade de fazer nessas horas? O pior que eu fiz: num surto de dois segundos, peguei na cara deslavada o produto que a madame do meu lado ficava pensando se levava ou não. Pior que foi bem na hora que ela foi esticar a mão. Acho que era uma caixa com dez ovos. Devo ter ouvido um monte de impropérios, mas ninguém mandou pensar muito...

2 - Gente que empaca no corredor com o carrinho. Essa todo mundo sofre. Toda vez que vou fazer compras, dá nisso: os corredores com os produtos lotados. De produtos? Não. De gente. Tudo bem, entendo que os supermercados daqui não são são ultramegahiper espaçosos como os Carrefour da vida (bem, perto de casa tinha, mas fechou...), mas o pessoal bem que poderia ter um desconfiômetro e não fazer fila dupla. O corredor já é estreito e ficam dois carrinhos um do lado do outro, empacados, aí é que ninguém passa. Pior do que isso, é quando você está na direção contrária e na hora de sair de ré, outra indivídua fecha sua saída e você não vai e nem vem. Detalhe: tem tanta hora pra pôr a fofoca em dia e resolvem fazer no supermercado...
- O que dá vontade de fazer nessas horas? Já fiz: fiz uma cara de emburrada e fui andando na direção com o carrinho dizendo "sumimaseeeeeeeeeeeeeeeen" (sim, desse jeito mesmo) pra ver se as donas de casa se tocam.

3 - Gente que atropela. Ok, muitas vezes fiz isso no namorido kinguio, mas juro que 90% nunca foi intencional (porque os outros 10% é porque ele pára de repente na minha frente e acabo acertando o calcanhar dele com o carrinho). Mas claro que um dia acabo tendo o troco. Já fui diversas vezes atropelada por um carrinho de supermercado. Como disse, os corredores daqui são estreitos, não tem como evitar. Mas  eu fico danada da vida quando vai pro fila do caixa! Eu sei que também quero logo pagar as compras e ir embora rapidinho, mas o ruim é quando você vai perto do caixa porque certas gôndolas ficam ali e as madames (e os madamos também) resolvem correr em disparada achando que vai tomar o lugar dela (ou dele, tanto faz). Numa dessas, acertaram minha perna em cheio e nem pra pedir desculpas.
- O que dá vontade de fazer nessas horas? Já fiz: naquela vez dei um grito de dor bem alto que até o funcionário do terceiro andar deve ter ouvido. Pra completar, justo naquele dia estava com aquela calça "pescando siri" e minha canela ficou raspada. Bem, é que a parte de baixo do carrinho é um pouco mais comprida e na hora acertou justo na canela... (Felizmente estava sozinha.)

4 - Trazendo a prole a tiracolo - CUIDADO! ITEM COM GRANDE GRAU DE POLEMICA ADIANTE!!! Antes que vocês me chamem de insensível, desnaturada porque não tenho filhos e praguejem "tomara que o(s) seu(s) seja(m) aquela(s) peste(s)", eu sou contra levar os filhos junto para fazerem compras. Bem, só se não tiver jeito mesmo, pois eu sei o quanto é difícil encontrar alguém para cuidar dos filhos se quiser fazer outras atividades sem eles. Sou a favor dos pais ficaram com os filhos, acompanharem os filhos, para viverem melhor. Mas confesso: não creio que levar criança ao supermercado seria uma diversão. Se você estiver com o orçamento mais apertado que calça de funkeira, então... Se não educar os filhos dos limites do consumismo, está perdido. Quando tenta explicar que "hoje não dá pra comprar por tal motivo", aí o berreiro é maior do que o dia que me acertaram a canela. E haja fôlego pra tanto berreiro...
- O que dá vontade de fazer nessas horas? Nada. Se meter o bedelho no meio, aí que a emenda ficará pior que o soneto, então...

5 - Cuidado senão vovó atira! Espero que eu ainda mantenha minha sanidade em dia quando atingir a idade de muitas consumidoras dos supermercados, mercados e mercadinhos. Se vocês pensam que aquela simpática senhorinha que fica na varanda de casa cuidando das plantinhas, com o gatinho no colo, tomando chá é frágil de dar dó, é que vocês nunca sentiram o drama quando elas vão fazer compras. Lugares que temos que tomar cuidado seriam as ofertas relâmpago, produtos tradicionais e hortifrutigranjeiros. Pra não dizer o mercado todo. Elas não perdoam nem os próprios netos que a acompanham. Falo sério: cortam a sua frente, pegam o produto na base do empurrão, te atropelam, furam sua fila, reclamam do caixa quando o código de barras dá erro na hora de ler, reclamam da atendente porque quer o produto pra ontem...
- O que dá vontade de fazer nessas horas? Tentar fazer compras no horário em que elas não costumam fazer compras ou seja, faltando uma hora pra fechar. Ou então, desviar o mais rápido possível, porque nunca se sabe se as distintas senhoras também estão naqueles dias em que acordaram de pá virada e resolveram descontar...

Um supermercado talvez perfeito. O álbum, altamente recomendado!!!


Fotos, via seogugol. 

Comments

  1. Supermercados são parecidos, seja qual for o lugar. Só que eu tenho uma certa tendência a ser pão-duro, a bater perna atrás do menor preço.

    Ofertas relâmpago: Também já aproveitei, e foi uma daquelas de inauguração de supermercado: Melancia por R$0,01 o quilo.

    Acidentes de percurso: Já passaram o carrinho por cima do meu pé, doeu tanto que a vista escureceu.

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  2. Olá Kiyomi, sou mais um de seus leitores "invisíveis" porém assíduo, leio mas não comento gomen ne. Hoje quem parecia estar tendo um surto psicótico acho que era eu, ri muito e alto, se alguém viu deve ter pensado coitado esta enlouquecendo, cada parte do texto que lia imaginava a cena e relembrava as que já presenciei pessoalmente, aqui onde moro também não foge a regra. 
    O pior daqui são as bachan a educação creio que elas largam em casa quando saem para o mercado é impressionante, e outra não podem ver duas pessoas olhando uma mercadoria que já chegam empurrando, achando que tem desconto, minha esposa fica doida, porque ela eles não respeitam muito, no meu caso elas até que são um pouco mais educadas pedem licença e tudo porque gaijin com cara de gaijin sei lá o que imaginam, agora pior que tudo isso é fazer mercado no dia de promoção no que costumamos fazer compra é na Terça  haja paciência porque isso tudo piora, agora alguém do Brasil que ler essa sua postagem vai achar que é exagero ou mentira, porque tem se a idéia que os japoneses  são educados ao extremo, mas como escrevi no começo não quando vão fazer compras, desculpa o tamanho do comentário, acho que é por isso que evito comentar escrevo demais. Um abraço. 

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  3. Kyomi,
    Morri de rir desse post, porque já passei por isso várias vezes....
    Aqui, evito ir ao mercado nas "quartas", porque é dia de feira no mercado, tudo mais barato, resultado: fila para pesar e fila para pagar.
    E realmente, filhos no mercado não dá, porque eles cismam com os produtos que vem com brinquedo dentro, o achocolatado com desenho, e por aí vai.....
    mas o que me tira a paciência, é o pessoal fura fila(que infelizmente tem muito) e os caixas batendo papo, com aquela fila enorme......
    ah, estava esquecendo outra,caixa mal humorada, que praticamente joga as suas compras....
    beijos

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  4. AHahahaha eu me vi nesse post rs... eu ODEIO mercado, shopping e todos os tipos de eventos que eu preciso me estapear com outros para poder ter o que eu quero. No Japão eu gostava de ir no mercado de madrugada e mesmo assim sempre havia uns doidos, a diferença que eu não precisava me acotovelar na frente das velhinhas... mercado de madrugada é o que ha #ficaadica :)

    Qto à crianças, concordo plenamente. É altamente estressante. Se para os pais é, que dirá a criança. Só nos gibis que vemos as crianças se divertindo...

    Kisu!

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  5. Felipe, e eu achando que no Brasil o pessoal ia se estressar um pouco menos por causa dos corredores, que são beeeeem largos (ai, como faz falta o Carrefour aqui...), mas me diz uma coisa: ainda continua aquela história do troco em balas?!
    E continuo dizendo que não sabia mesmo que antes de ser ator de doramas e filmes (vide BECK) ele foi tambem Kamen Rider...
    Abração!

    MP Kouhaku, aqui pelo menos ninguem fica de cara amarrada por dar troco ao pagar um produto com nota de dez mil ienes muito menos em balas! Eu também sou daquelas que corre atrás do menor preço, mas melancia a R$0,01 o quilo, se tiver aqui, namorido leva uns cinquenta quilos e olha la!
    Quanto aos acidentes... Passar em cima do meu pé, ainda não chegou a esse ponto, mas levar uma pancada com o carrinho, isso doi, eu sei...
    Abração!!

    Fernando, seja bem vindo. Quanto ao comentário longo, não se preocupe porque o MP Kouhaku também faz os quilométricos rs Eh, como a gente não generaliza, mas supermercado é um dos lugares que eu prefiro ir bem no final do expediente, onde é um pouco mais tranquilo e evita ser atropelado, espancado e ficar menos estressado.
    Abraços!

    Fabiana, na hora de falar sobre o topico dos filhos + supermercado, pensei muito como expressar, porque eu sei que tenho muito leitor com filhos e eu imagino o drama que eles devem passar. Os pais, não os filhos. Confesso que até eu comprei produto por causa do brinde (imã de geladeira, prendedor de sacos plásticos, post-it...) mas também tenho que me controlar.
    Beijão!

    Bah, supermercado 24 horas por enquanto conheço três famosos aqui (do grupo Aeon-Jusco; Seiyu e Daiei), e costumo ir quando volto do trabalho no Tokyu Store (fecha as onze) ou no Summit (fecha uma da matina). Já consegui cada desconto... Agora, mercado apertado e inevitável de contusões involuntárias é o Donki, voce sabe...
    ahahah Quem vê a gente indo ao mercado altas horas da noite devem pensar "esse casal não dorme, não?"
    Beijao!

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  6. kkkkkkkkkk...ótimo post! Quem nunca passou por tudo isso né? Várias vezes já aconteceu tudo isso mas se tem algo que me tira do sério mesmo é gente que deixa o carrinho no meio do caminho e não tá nem aí se tá atrapalhando sabe? Vontade de sair empurrando tudo...rsrsrs

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  7. Desabafando, carrinho no meio do caminho, dificilmente acontece, se eles deixam num lugar (que dificilmente estorva) é porque o corredor está cheio e só precisa de um artigo...

    Felipe, essa de troco em balas, quando voltei, aconteceu comigo em um bar, porque no supermercado minha mãe tem suprimento otimo de moedinhas, o que deixa o caixa com dupla personalidade: contente porque vai ter troco, com raiva porque a gente costuma dar os miudinhos...

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  8. Passei por todos os itens.
    Sou daquelas que só vai ao mercado quando precisa.
    Gosto de xeretar coisas para a casa - tenho fascínio por canecas e potes de plástico, confesso - mas sempre desisto. Minha aversão pelo conglomerado de pessoas é sempre maior.
    Beijos

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  9. Olá Kiyomi,

    Post hilário hein! lol Por aqui não passo muito estresse não pois geralmente faço compras na "farmácia" ou num jusco velho perto de casa que está quase fechando (quase sempre está vazio). O duro é quando chega aquela muvuca de brasileiros com uns pivetinhas e cada um fica gritando de um corredor pro outro, "VAI LEVAR AÇUCAR? VAI LEVAR ESSE AQUI?".

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  10. Fabiana Yoko, se no Brasil tivesse o IKEA, nos mesmos padrões, você ia enlouquecer, pois tem tanta coisa pro lar muito legal mesmo. Estilo escandinávio (bem, o IKEA é da Suécia, né...) e também aproveitam pros consumidores brincarem de quebra cabeça, pois os moveis que estão nos show rooms, tem uma etiqueta que o consumidor tem que anotar os codigos e comprarem as pecinhas em separado...
    Ultimamente supermercado a gente vai quando está no final de expediente: menos gente e mais barato.
    Beijao!

    Hide, tive que fazer um post comico pois de tragédia já basta quando a gente vai nesses lugares. Atire o primeiro carrinho quem nunca passou por isso, vai!
    Nossa, pensei que era somente o Jusco de Fujisawa (mais ou menos perto de casa) estava decadente... Mas também: fica num lugar longe pra caramba, no meio do nada e construção antiga...
    Imagino a cena que você mencionou dos nossos compatriotas num supermercado aqui ....

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