O Dia em que Tudo Parou - Mudando de Assunto...


Antes que muita gente venha jogar lama e pedras em mim por causa desta postagem - "p%$*@, mesmo depois dessa tragédia, vem falar de coisas fúteis???" - volto a dizer: para quem estava trabalhando num prédio de doze andares em Tóquio, estar no último andar, na hora em que houve o terremoto na região de Tohoku, com o prédio literalmente chacoalhando, objetos em cima da mesa caindo, o que estavam nas prateleiras vieram ao chão, fora que muita gente já achou mesmo que a hora de partir chegou (bem, naquelas horas, a gente pensa em tudo, desde tentar manter a calma até chorar), a maior cidade do Japão ter todas as linhas de trens e metrôs parados (por segurança), ônibus lotados, linhas de telefonia móvel em funcionamento precário (mas e-mails e internet tudo funcionava perfeitamente), cabines de telefones públicos com filas a dobrar a esquina, lojas fechadas em plena luz do dia, tentar voltar pra casa andando, dormir em escolas, ginásios e entidades, sentindo tremores de hora em hora, lojas de conveniências com estoque de comida quase zerado, acho que, no meu caso, deixa eu descansar meu corpo e espírito de tudo isso, certo?

Ontem, literalmente fiquei em casa junto do dignissimo kinguio que nem dormiu, pois na hora do acontecimento eu estava em Toquio a trabalho e ele em casa, dormindo, devido ao turno do trabalho dele. Fiquei ontem praticamente desde nove da manhã até onze da noite com um olho no PC e outro na TV acompanhando os eventos, twittando, atualizando o blog e também desfazendo muitos boatos que surgiram durante nossa time line por horas. (Se Yokohama e Tóquio estivessem debaixo d'água, ou meu PC é a prova d'água ou virei Ariel, a pequena sereia e não percebi).

Que Yokohama teve alguns locais danificados, claro que teria, senão meu dignissimo nem teria saído duas vezes de casa quando houve os maiores tremores (testemunhas oculares: os dois tencho da loja de conveniência no terreno do apartamento, o nosso vizinho da loja de bebidas, e a esposa dele), mas foram fissuras nas calçadas e alguns prédios danificados.

Dormir foi necessário: na madrugada de sexta pro sábado, não consegui pregar o olho. Nem dentro do trem nem no metrô voltando pra Yokohama. Acabei "apagando" de vez quase meia noite de ontem a pedido do digníssimo que viu meu estado: sem dormir, comi muito pouco e só saí do PC pra tomar banho e jantar quibe (sim, leram bem: quibe). Se bem que estava precisando dar uma bela hibernada.

Tinha feito inscrição para a prova da TOEIC cuja prova era hoje, dia 13. Obviamente foi cancelado. Conferi no site oficial da prova ontem (nota: vou ter um pouco mais de tempo pra estudar).

Bem, como a vida continua e temos que seguir adiante, aos poucos estamos levando nossa vida normal de sempre. Dormir, acordar, almoçar, jantar, trabalhar, ouvir música, assistir aos j-doramas que estão pendentes, ir à esquina e comprar sorvete com o digníssimo e tomar um café enlatado no banco da loja de conveniência que costumamos ir quase todo dia.

Pode ser um post fora de utilidade pública, mas afinal, pelo menos hoje eu preciso algo pra amenizar minha dor de cabeça que meio que lateja depois de sexta-feira caótica e um sábado ajudando massivamente a comunidade divulgando notícias [reais] do ocorrido, sites e tudo o mais. Não que vou deixar por isso mesmo, ainda estarei no twitter colaborando com os RT (ReTwitter) divulgando ajuda para quem precisa.

Embora a música tivesse sido lançada meses antes do famoso terremoto de Hanshin-Awaji (muitos conhecem como o "Terremoto de Kobe"), a música "Gambarimashou" acabou sendo mensagem de apoio durante a apresentação no programa "Music Station" em 20 de janeiro de 1995 ( três dias depois do ocorrido), tema do "24 Hour Television" em agosto de 1995 (toda a renda na época arrecadada - mais de um bilhão de ienes - foi revertida para a cidade de Kobe) e também para o campeonato anual de beisebol colegial no mesmo ano.


Sabemos que o povo japonês é preserverante e vai reconstruir novamente as províncias - e como disse uma twitteira - @erikayoshidajp "Pensando hj em td q aconteceu! O japao vai construir uma cidade linda como Kobe! E vai gerar uma economia forte!"

Comments

  1. Kiyomi,
    Eu deixei de assistir ao noticiarios daqui(choro demais), e venho buscar informação no seu blog, do Alexandre e de outros amigos que vivem no Japão.
    Concordo com o que o Alexandre disse, noticias assim vendem muito e aumenta-lá, renderiam muito mais.
    Infelizmente, ficamos refens dessas noticias e principalmente dos boatos que saem por aí.
    Mas apesar da tristeza, acredito sim que o Japão vai ser reerguer.
    Com certeza, morei perto de Kobe durante muito tempo, e a cidade ficou linda!
    beijos

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  2. ola queridona,
    certissima vc,a vida continua e temos mesmo que seguir com a nossa,
    e vc, o ale e tantos outros blogueiros estao de parabens pelo servico de utilidade publica que estao prestando,tenho certeza que muitos,assim como eu,prefere saber informacoes por aqui do que em alguns veiculos sensacionalistas.
    um beijao.

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  3. Ótimo post, chega de alarmes, agora tudo aos poucos vai voltando ao lugar...

    Bjus.

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  4. Alexandre, eu penso que, levar a vida normal, seria melhor coisa para tentar desestressar do evento ocorrido ainda mais que senti os efeitos. Felizmente nao houve devastação, nem danos piores, mas agora sentiremos o racionamento de energia temporariamente (mas vai ser numa hora que estarei ausente de casa).
    Apesar que nos noticiarios passarem direto sobre o ocorrido, vemos que a população já está se mobilizando para por tudo em ordem.
    So que nosso trabalho de mostrar que estamos bem, vivos, e levando a vida normal, pra mim estou levando a fama de "chata, ociosa e enojada" no twitter porque fui desfazer um boato. Quem me conhece, vai continuar do meu lado, espero. Mas quem não me conhece, vai levar pelo lado desagradavel da força, mas não me importo porque tenho pessoas que me apoiam, como voces que acompanham o blog.
    Abraços e obrigada pela força! Podem contar comigo nos sites.

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  5. Fabiana, fico contente em saber que confia na gente, no pessoal que esta aqui no Japao e que passam noticias reais, sem exageros nem firulas.
    A região de Tohoku vai se reerguer, sim. Assim como foi Kobe, como voce tambem já visitou depois do terremoto.
    Se cuide e nao se preocupe que seus pais estao bem, sim. Problema foi que as linhas telefonicas ficaram com as transmissoes precarias no dia.
    Beijos!

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  6. Felipe Nasca, apesar da tragédia, das dificuldades, o povo japones nao se deixa abater, arregaça as mangas e estão em trabalho de limpar a cidade, procurar as vitimas, sobreviventes e por em ordem...
    Por isso que pensar somente em tragedia, tragedia, tragedia, nao vai levar em nada. Pensar em outras coisas mais amenas, distrair e tentar levar a vida normal aos poucos, faz a gente mais humano.
    Abraços!

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  7. Andreia, agradeço mesmo o apoio e a força, mesmo estando no Brasil, mas sabemos que voce ja morou aqui e ja sentiu esses tremores, felizmente sem intensidade, mas o suficiente para dar um susto leve. Mas desta vez, foi de assustar mesmo.
    O importante é passarmos as informações de que estamos bem, voltando aos poucos a vida normal, porque a vida continua.
    Beijos!

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  8. Georgia, vai dar tudo certo, o país vai se reerguer, sim. Apesar de sofrermos agora certas restrições, mas será necessário para que a região seja reerguida e volte como era antes, ou quase, pois tragédia deste porte dificilmente será esquecida.
    Beijos!

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  9. Caramba, fico imaginando como deve ser complicado isso não? Assim que fiquei sabendo do terremoto lembrei de vc, do ALexandre e da Elisa. Mas sabe achei interessante seu relato, dá para ter uma visão melhor da realidade, ao contrário das coberturas jornalísticas.

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  10. Ola Kiyomi,
    Que bom que aos poucos você já está retomando a vida habitual. Não é futilidade retomar a própria vida. Com certeza você e mais um monte de gente está preocupada e triste com esta tragédia mas de nada adianta ficar apenas lamentando e repetindo as mesmas coisas.

    Por mais que seja doloroso, é preciso tocar a vida para frente pois apesar da ajuda dos outros países, quem irá trabalhar para levantar o país novamente são os japoneses e pessoas como você que estão aí. Acho que por isso o povo japonês conseguiu se reerguer várias vezes.

    Mas uma coisa ainda questiono. Porquê acontece tanta coisa ruim por aí. Vemos outros países com povos radicais fazendo coisas ruins e não acontece nada. Parece que os japoneses "jogaram pedra na cruz"...não é possível viu...Acho que o povo japonês já sofreu demais....

    Bjo e boa semana,
    Carlos

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  11. Olá Kiyomi,

    Eu sou aquela anônima do posts anteriores. Morei no Japão por 4 anos com meu esposo, na região de Gunma. E daí que acompanho o seu sítio a pouco tempo, e admiro demais a sua garra de aprender o idioma japonês e até entender os programas da tv japonesa.

    Quando fiquei sabendo do terremoto, sinceridade não fiquei tão alarmada, pq todos sabemos q a maioria dos prédios são anti-terremoto. E que os próprios japoneses já tem um treinamento para este acontecimentos, kits etc.. O duro é àquela massificação da notícia trágica nos jornais daqui, por isso na dúvida desligo a tv e vou ouvir as minhas músicas e trabalhar.

    Dei uma passada no seu blog, preocupada justamente com o seu retorno para casa, afinal as linhas de trens com certeza seriam interditadas. Li com alívio, que vc iria pernoitar no escritório de sua amiga.

    Quanto a retomar a vida depois do terremoto, acho mais que justo. Nada mais gostoso do que um bom café de lata, um sorvete de combini, e até um ôfuro se for o caso. Tenho fé que tudo se restabelecerá em breve nas províncias que foram afetadas, como ja aconteceu anteriormente.

    Beijos e vê se deixa o seu corpo e mente descansarem. Na minha opinião vc já ajudou bastante a comunidade, via twitter.

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  12. Desabafando, certo que eu demorei um pouco para relatar os fatos porque na hora do ocorrido estava no trabalho e meu celular so funcionava a internet, mas nem dava para informar tudo pois a bateria estava no fim. Felizmente correu tudo bem, sem atropelos, correria, panico, etc. A postagem curta era porque estava no escritorio de outra amiga minha (onde eu estava nem pensar em ficar, era no 12o. andar) que ficava no terreo e nao teve danos, e tive que usar rapido a internet pois a qualquer momento a gente poderia perder a conexão.
    Ainda bem que as redes sociais nesse ponto são confiaveis, pois quem viveu o fato, nao tem como inventar ou aumentar.
    Beijos!

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  13. Carlos e Denise (Tabeteimasu), aos poucos estamos tentando voltar a rotina de sempre, mas como o pos tremor causou certas sequelas, os trens operam de forma precária, alguns com intervalos grandes de espera, mas isso era previsível para um acontecimento que afetou ate Kanagawa. Domingo praticamente hibernei, assisti ao noticiario, acompanhei e colaborei com as informações e dei uma saida pra conversar com a vizinhança, que estava passeando com a familia, comprando o que dava pra comprar... Afinal, a vida continua, não dá pra viver somente falando de tragédia, tragédia, tragédia. Nos dois primeiros dias, é compreensível. Passou disso, falar o necessário e de utilidade e mãos a obra, se bem que a população logo se mobilizou em providenciar abrigos, comida e informações sobre parentes e amigos.
    Aos poucos vamos levando nossas vidas normais como sempre foram. Vamos lembrar dos ocorridos? Muita gente ainda lembra o de Kobe (o de Kanto, seria exagero, afinal foi em 1923), mas foram lições que foram aprendidas.
    Temos fé, esperança e... paciência para enfrentar tudo, podem acreditar!
    Boa semana para voces e todos nós, blogueiros e twitteiros do Japão, agradecemos as palavras de conforto e apoio!

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  14. Paula Yumi, arigatou pela mensagem e apoio. Como voce tambem já morou um bom tempinho aqui, sabe que aqui muitos estão preparados para um acontecimento como este. O tsunami foi surpresa, devido a forma de como ocorreu o terremoto (foi de forma horizontal e depois vertical). Agora o pior já passou, muita gente volta ao ritmo normal, aos poucos, porque tudo de uma vez, impossível.
    Dizer que seria fútil depois desse desastre levar uma vida normal? Na minha opinião, não podemos ficar sempre falando de tragédia sempre, temos a vida pela frente e seguir adiante e pôr as maos a obra pra trabalhar pro futuro é a melhor forma de (tentar) esquecer a tragedia e melhorar nossas vidas.
    Beijao e obrigada mesmo pelo apoio e o pessoal dos blogs e twitters tambem agradece!

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  15. Fico tão feliz que está tudo bem com vcs... entendo a apreensão de vcs por ai... mas acho que com o tempo as coisas vão se ajeitando... como tudo na vida, né?

    Kisu!

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  16. Bah, com certeza as coisas vão se ajeitando, sim. O teiden (blackout ou apagão) era previsto duas vezes no dia, agora são três horas no dia... O problema é falta de agua e pão, mas a gente consegue chá e ferver água como antigamente. E da-lhe arroz! Pelo menos ainda encontrei biscoitos mesmo de 100yen na conveniencia ao lado de casa.
    Vai ser temporario tudo isso, mas nada na vida a gente consegue se nao passarmos por desafios, ne?
    Beijao!! =D

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