O Dia em que Tudo Parou


Antes de mais nada, primeiro agradecendo as mensagens de apoio, de preocupação e alívio que todos os internautas do Japão, Brasil e do mundo trocaram para todos. A hora que eu postei o artigo anterior, estava em Tóquio (onde trabalho), no escritório onde a irmã de uma amiga minha trabalha, pois onde trabalhamos, sem condições de ficar lá nem que estivesse chovendo ou nevando. Agora, neste exato momento estou em casa, no lar apertado mas seguro (eu acho) lar, em Yokohama (Kanagawa).

Na quarta-feira (dia 9) e quinta (dia 10) tinham dado alguns tremores, mas daqueles "um pouquinho mas logo acaba", ou confundia com o barulho das máquinas da construção do terreno ao lado do prédio onde moramos. Até aí, bem, a gente meio que acostumou. Só que na sexta-feira (11), a hora que começou "aquele leve tremor", estava no trabalho,em Tóquio, e a primeira coisa que pensei "ah, logo passa, como sempre". Ledo engano!

Quando o tremor gradualmente começou a aumentar a ponto da gente não conseguir manter-se em pé, o que estava na mesa caiu, e já estávamos ao ponto de pegar a bolsa e sair correndo pela escada (porque pelo elevador nessas alturas, nem dava). No momento que parou de tremer (dizem que durou dois minutos, mas para quem presencia um tremor dessas proporções, parece que durou horas intermináveis), tivemos que sair de vez, pois parte do teto do escritório e as paredes da escadaria, caíram (calma, não foram pedaços enormes), e as paredes do prédio sofreram rachaduras.

Confesso: em meus treze anos de arquipélago, acho que o tremor mais forte que senti, foi numa madrugada do ano de 2000 ou 2001, não lembro, e já estávamos quase saindo de casa. De pijama e tudo. Mas nunca, nunca mesmo tinha sentido como sentimos no dia 11 de março. Na hora, claro, a gente entra em desespero (chorar, pedir "peloamordedeusparatudoqueprometotomartentonaminhavida"), mas depois que temporariamente tudo passa, as reações, claro, são diversas.

Mesmo estando na área de segurança, no parque no final da rua, os tremores continuavam, sentíamos mesmo em pé e víamos os fios de alta tensão balançando. Nessas horas, tudo pára: trens, metrô, telefone. Sim, quando acontece terremoto de alta intensidade, telefonar fica impossível, via celular. Ainda que consegui ligar pro digníssimo kinguio que estava em casa (trabalhamos em horários invertidos) pelo menos umas cinco vezes e pedi pra que ele ligasse pros meus pais que eu estava bem, só que não conseguiria eu mesma telefonar por motivos obvios, mas a internet do celular conectava bem, conseguia "mais ou menos" comunicar com o pessoal via twitter. Mas o problema se a bateria acabasse e não encontrasse como carregar, por isso que no twitter eu pouco avisei.

Telefonar via celular, por muitas (e põe muitas nisso) horas ficou praticamente impossível. O meu (operadora NTT DoCoMo) vivia dando mensagem de "Mudança de acesso restrito - Serviço de telefone/short-mail bloqueados" e muitas vezes tive que comunicar com o namorido por e-mail, já que telefonar ficou impossível e usar telefone público as filas dobravam as esquinas. A maioria das lanchonetes, cafeterias e restaurantes (pelo menos em Tóquio) fecharam. As conveniências tiveram todo seu estoque de onigiri, cup lamen e pão esgotado.

Antes que me perguntem se Tóquio, Kawasaki e Yokohama tiveram a mesma catástrofe como em Miyagi, Fukushima e Iwate, eu digo que NAO, pois presenciei o fato em Tóquio, algumas construções cairam, como paredes e muretas, vidros de prédios e alguns cartazes. Trens e metrôs parados. Onibus circulares lotadíssimos com filas enormes e ônibus intermunicipais parados, pois as expressas estavam fechadas. A solução de muita gente foi passar a noite dentro das estações, escolas e outras entidades. Ou dormir no próprio local de trabalho ( no meu caso fui dormir em outro lugar, pois do jeito que estava tendo pequenas réplicas seguidas, no 12o. andar era meio que pedir pra ir desta pra melhor, não acham?).

Felizmente para comunicar com parentes, amigos e chegados, a internet está funcionando normalmente, por isso que a Time Line do Twitter estava a mil, mas o uso das redes sociais serve pra isso: passar as informações necessárias para outros. Acho que nunca usei tanto o twitter como antes (mais do que do episódio da Copa), apesar do receio da bateria acabar e não ter como recarregar.

Um apelo: gostaríamos que as pessoas prestassem atenção nos noticiários, pois já recebemos mails informando que Toquio e Yokohama sumiram do mapa (nem foi tão afetada assim!), que teve mais de 88 mil desaparecidos (consta 1000 desaparecidos) e que o fim do mundo estaria próximo, envolvendo questões religiosas algo parecido. O que teria que fazer nesta hora é ajudar as pessoas, informando que ligando de qualquer telefone público com uma moeda de 10 ienes, dá pra deixar um recado pros familiares e a moeda volta; a internet está funcionando? Use o twitter e outras redes sociais, dizendo que "estou bem, vivo e com saúde e não se preocupem e não precisa fazer tamanho escândalo" e ajude a passar as informações sobre trens, estradas e lugares para se abrigarem.

Maiores informações via blogs do pessoal que mora aqui que presenciou, acompanhou e não exagera:

Portal Nippon: http://www.portalnippon.com/
Alexandre Mauj : http://lostinjapan.portalnippon.com/ e no Storify
SuriEmu: http://suri-emu.co.jp/blog/

Acompanhe-nos pelo twitter também.

Sem foto novamente, pois tenho receio que muita gente vai ficar mais preocupado ainda e exagerarem nas notícias.


Respondendo os comentos da postagem anterior, pois não estou com paciência na caixa de comentários (tá bom, preguicite aguda mesmo):


- Andrea Inoue: apesar do susto que levamos, estamos todos bem. Embora eu precisei dormir em Toquio, pois voltar para Yokohama no mesmo dia foi impossível mesmo. Consegui chegar em casa, em Yokohama, no sabado de manhã e ainda os trens trabalham de forma precária (ou seja: 50% do ritmo normal).


- Fabiana, onde seus pais estão, em Hyogo-ken, sequer foi abalada. Só tomar mais cuidado na região litorânea. Não se preocupe quanto não conseguir logo na primeira o telefonema, pois todas as linhas telefônicas estavam congestionadas. A telefonia fixa congestionou, mas funcionava. Mas a do celular, nem sinal dava. Fique tranquila que onde eu, Alexandre, PriAmelie, Hide, igaum, mika e outros blogueiros moramos, não foram afetadas ou foram de insignificante quantidade.


- Alexandre, é que pelo meu celular mesmo o twitter estava difícil, a conexão caía e a carga da bateria estava com 50% de capacidade. Mas felizmente, tirando o susto, estamos bem. Agora, o que está me dando nos nervos, é essa imprensa sensacionalista que exagera os fatos SEM estar in loco. Em Yokohama, talvez tenha visto uma parte de um predio caindo com o pessoal em disparada correndo, mas infelizmente, em Kanagawa teve um morto. Tirando essa fatalidade, o resto está inteiro. A gente vai se falando no twitter na medida do possível!


- Fernanda, pode ficar tranquila que estamos bem, sim. Melhor acompanhar os fatos pelo Portal Nippon, que é feito pelo pessoal que está aqui, e estamos informando no twitter, porque andamos recebendo mails e recados absurdos que não condizem com o que realmente aconteceu!


- Fabiana Yoko, domo arigatou pelas preces e energia positiva! O pessoal das áreas afetadas está botando pra trabalhar e deixar tudo novo. Onde moro, os transportes voltaram a operar aos poucos. Pelo menos aqui, com tudo parado, o pessoal respeita o acidente (sem saques, sem crimes, nem confusões a ponto de gente ir presa).


- Natinha, Anonimo e Georgia, apesar que em Toquio e Yokohama terem sido fortes também, como disse ao Alexandre, felizmente nada de muito grave aconteceu, exceto uma fatalidade. Lembrando que as províncias severamente afetadas foram Iwate, Fukushima e Miyagi.


- Carlos e Denise (Tabeteimasu), desculpa a demora, mas estava num lugar onde a conexão ficou ruim e só fui usar o PC no escritorio onde passei a noite. Não teve destruição nem inundação em Toquio e Yokohama como muitos noticiarios cismaram. Mas os trens pararam e voltar de onibus ficou impossivel. Consegui voltar pra Yokohama logo hoje de manhãzinha e mesmo assim estava tudo lento. Pelo menos estão voltando ao normal. Mas em Ichihara (Chiba) uma refinaria de combustivel está em chamas ainda.


- Natalia, eu aconselharia primeiro ler as reportagens do Portal Nippon, e ir direto nas áreas afetadas, em Miyagi, Iwate e Fukushima. Tóquio e Yokohama sequer foram afetadas, foi coisa bem imperceptível, apesar dos trens e metrôs parados por quesito de segurança. E NAO DEBAIXO D'AGUA COMO ALGUMAS REPORTAGENS DIVULGARAM DE FORMA MENTIROSA E SENSACIONALISTA ! E que viessem ver ao vivo ao invés de muita gente aumentar e exagerar os fatos bem como inventarem notícias. A gente dá o maior trabalho de conseguir falar com os familiares que está tudo bem e a imprensa vem e aumenta, exagera e inventa os fatos? Pensem nisso, por favor.


- MP Kouhaku, como recomendei, melhor acompanhar o site Portal Nippon, pois é feito pelo pessoal que está aqui e acompanha o ocorrido in loco e direto. Yokohama e Toquio nem foram afetadas. Não confie no noticiário do Brasil porque estão exagerando no numero de mortos e desaparecidos (teve um individuo que disse que aqui tinha 88 mil desaparecidos, sendo que por enquanto são 1000 pessoas), que as cidades de Toquio e Yokohama estão submersas, e outros absurdos.


- Cacá (The Doramas), espero que esse pesadelo acabe. Não do terremoto, mas das notícias falsas e sensacionalistas que estão proliferando e a gente que mora aqui está tendo trabalho para desmascarar tudo.


Abraços e Beijos e se cuidem também.

Comments

  1. Sei que deveria ter passado aqui, mas devido aos acontecimentos da minha vida (fica até chato colocar isso aqui num momento desses), não consegui passar... mas mesmo não dando pra passar no seu blog, do Lelê, e de outros blogueiros no Nihon, meus pensamentos positivos sempre estarão em vcs... pra que tudo dê certo.

    Kisu!

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