Por uma boa causa

Ou: Gosto é que nem traseiro, todo mundo tem o seu.

Primeiro, uma Feliz Páscoa a todos, tanto leitores do Brasil como no Japão. Pra falar a verdade, desde que estou aqui no Japão, perdi a noção dos feriados móveis, como Carnaval, Páscoa e Corpus Christi, só para terem uma idéia. Só lembro depois que passou ou muito em cima, graças aos blogs que frequento. Tudo bem, vão falar: e calendário pra que serve? Lembrando que aqui, como o país é 99% xintoísta e budista, feriados religiosos como no Brasil, não são inclusos. Cada país tem o seu calendário de feriados, claro. Da mesma forma que o pessoal no Brasil já teve seu feriado prolongado, semana que vem aqui vai ter também, o famoso "Golden Week".

Do alto da passarela doYoyogi Koen, olha a fila...
Como eu havia falado uns dois posts atrás, sim, no primeiro domingo de abril, fui até o Yoyogi Koen, em Tóquio. Sim, pro evento Marching J, promovido pela agência Johnny's Entertrainment (sim, muita gente sabe que é a agência que mais contrata rapazes para criar boybands), para arrecadar fundos para as vítimas do terremoto de Tohoku. Durante três dias de abril (1, 2 e 3), todos os rapazes - veteranos e novatos - se revezavam para conversar com o público, mas cantar mesmo, só foi no terceiro dia, no final.

Visão frontal da autora, na passarela.
Daí, como o evento foi aberto ao publico, imagine como foi: uma filaaaaaaa. E quem pensar que 100% do público era somente de mulheres, enganaram-se. Vi pessoas do sexo masculino de todas as idades, desde de colo até senhores que poderiam ser meu avô. Não estou brincando. Obviamente que uma boa parte vinham com as ecobags dos artistas de shows anteriores e atuais, leques (uchiwa), usando camisetas, carregando toalhas... A maioria, no dia que eu fui, só vi do último show do Kanjani Eito, o "8 Uppers" (confesso que eu imaginei ver um monte de meninas com a ecobag do Arashi, dos últimos shows, mas vi muito pouco em comparação do Kanjani). Acredito que a maioria prefere ir com as ecobags quando tem show mesmo.

Visão da passarela, mas sentido ao portão de entrada
E olha que fui cedo, hein. E para chegar ao palco principal, fizeram a fila de um modo que era pra demorar mesmo, pois nunca dei tanta volta em toda a minha vida, mas o lado bom daqui é que, mesmo a fila não tendo tantos cordões e cercas de segurança (somente para indicar o caminho), o pessoal não furava (tanto) a fila e quando acontecia, ninguém achava ruim.

Logo depois que entrava no portão principal, eles entregavam um cartão com o informativo e no verso todas as assinaturas de todos os membros da agência. Bem, só quem entende bem kanji mesmo para decifrar (os mais óbvios eu matei na hora, imagine se não ia conhecer os kanji dos meninos do Smap, do Arashi, do V6, do TOKIO, do NEWS, do Matchy, mas os outros....).

Tente descobrir de quem são as assinaturas, depois eu tento também com muito mais calma...
E olha que muitas vezes eu fui nesse parque, mas do lado oposto, quem vem de Shibuya e passa pelo NHK Hall, mas como para o evento tinha que entrar de quem vinha de Harajuku, vai imaginando como foi a fila pra complicar, digo, para que muita gente comparecesse e não perdesse a viagem, pois poderia colaborar financeiramente para as vítimas e de quebra ver algum dos artistas (mas claro que muita gente foi pra ver ao vivo e a cores e de perto). E como era rodízio conforme o tempo deles e agência, então teria que ser na sorte mesmo. E por volta das duas da tarde, meus ídalos favoritos, sim, o quinteto Smap, ficaram por um tempinho no palco conversando e cumprimentando. E no sábado eles também estiveram, como é que dá pra saber?

Quem prestar atenção ao lado direito, o Hinomaru está ao
meio mastro, em respeito às vítimas de Tohoku.
Muita gente que deve estar lendo deve estar pensando que todos nós que comparecemos ao evento (nos três dias somaram-se 370 mil pessoas, mas se foram as mesmas, vai saber) "devem ser um bando de malucos que perdem seu dia de folga só pra ver uns meninos sem sal nem tempero, que não sabem cantar, um bando de rostinhos bonitinhos, etc.", mas como a gente sempre fala: gosto nunca se discutiu, cada um tem o seu. Se fomos pra ver eles ao vivo? Ninguém vai negar. Mas que também fizemos nossa parte: fora de casa, economizaria energia nos lares, já que a região Kanto estava até então no rodízio de energia. Doamos financeiramente para quem estava precisando, para reconstruir as províncias de Miyagi, Fukushima e Iwate, já que muita matéria prima vinha dessas províncias e quanto mais rápido elas se recuperarem, mais rápido elas poderão voltar às vidas normais.

Se um dos artistas foram pra Fukushima (a mais atingida) ver os estragos do que só falarem, falarem, falarem? Que eu saiba, sim. Por exemplo, Masahiro Nakai (o líder do Smap) foi logo na mesma semana do evento para Fukushima em um dos abrigos e ficou mais de horas conversando com as pessoas e crianças e doou pessoalmente uma cadeira de massagem e vários brinquedos, jogos de videogame e os aparelhos para as crianças. Na entrevista que concedeu ao jornal Sankei Sports, Nakai disse que ao ver o estado que ficaram as cidades, teve muita vontade de chorar. E que os brinquedos que doou seriam para fazerem as crianças voltarem a sorrir. Bem, só faltou ele jogar beisebol com elas, já que ele adora (e já praticou muito quando ele era criança). Mas final de maio, ele participará com certeza do evento do Johnny's Sports Day - para angariar mais fundos para a reconstrução das províncias.

Eis a prova de que consegui alguma coisa: na hora que cheguei, quatro e meia: estavam no palco 1/3 do Arashi (Jun Matsumoto, Satoshi Ohno e Masaki Aiba - no FB falei que era o Kazunari Ninomiya) e Masahiko "Matchy" Kondo (que está no meio). Se saiu meio desfocada, é que eu estava a nem sei quantos metros dali, usando zoom da minha precária câmera e na pressa, pois acho que nao podia fotografar (mas 100 pessoas na minha frente estavam fazendo o mesmo).

Eu digo: pode ser loucura ter "perdido" meu dia de folga, saindo de Yokohama para Shibuya e ficar mais de quatro horas na fila para tentar ver alguém e doar, muita gente interprete como quiser, mas eu fiz minha parte que é também contribuir financeiramente, nem que seja um pouquinho, para ajudar quem precisa, sem falar que em minha própria casa também contribuo, como economizar energia elétrica, separar e reciclar materiais, pois quem sabe podem ser fontes de energia alternativa...

Felizmente, neste momento, muitos produtos que antes faltavam, voltaram às prateleiras, como papel higiênico, produtos de higiene feminina, fraldas, leite, enlatados, arroz, iogurte. Mas água ainda fica restrito a quatro litros (duas garrafas de dois litros) por pessoa. Sinal de que está tudo voltando ao normal, apesar que no verão pode ser que precise voltar ao rodízio de energia, mas se a população ajudar como está fazendo até agora, pode ser que nem precise cogitar essa possibilidade.

Fotos: todas elas tiradas pela autora, no dia 3 de abril de 2011.

Comments

  1. Oi Kiyomi,

    Fico feliz q vc tenha aliado o seu gosto por este grupo musical, com a atitude de se doar ao próximo. Se tem uma característica q eu admiro no povo japonês, é essa conciência de coletividade, uma pena não podemos dizer o mesmo daqui no Brasil.

    Beijos e um excelente Golden Week, descansa bastante e se possivel fotografe, pq gosto da sua visão das coisas.

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  2. Oi Kiyomi!

    Não acho loucura não. Talvez eu fosse também se estivesse aí.
    Bom mesmo é ver que tudo está voltando ao normal por aí.
    E que o Yoyogi está lá cheio de gente...e no mesmo sítio...rs

    Happy Goruden Wiku!

    Kisu

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  3. Oi Kiyomi, uma boa Páscoa a vc também.
    Aqui também teve campanhas para ajudar as vítimas do Nihon.
    No Paraná havia uma conta do Santander que eu e muita gente contribuiu e também teve um jogo de futebol, organizado pelo Zico, na Arena do Atlético PR para a qual fui assistir. Os jogadores antigos como o próprio Zico (estava robusto demais), o Raí e o Romário jogaram. Como entendo pouco de futebol, os muitos que jogaram no Japão, não conhecia. Sentei-me perto do gol e vi o Romário, de perto, fazer um daqueles gols em que fica só esperando, na grande área, alguém lançar uma bola direto pro seu pé. Foi espetacular, parecia jogo ensaiado... Não sou acostumada a ver os jogos, ao vivo, e não prestava muita atenção, então perdia os lances porque não havia replay, lente zoom e nem telão...perdi muita coisa... Mas, valeu por termos contribuído também.
    Nozomi

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  4. ahhhh ~ eu tb gastaria meu dia de folga com isto, mesmo nem sendo tão fã... vale pela folia, pela ajuda, por tudo... iria contigo certo!

    Uhuuu ~ decifrei a assinatura do Hideaki Takizawa e me dou por satisfeita!!!

    Kiss e FELIZ PÁSCOA... ^^

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  5. São em acontecimentos como esse que eu sinto cada vez mais orgulho do 'meu' país! Só nasci no lugar errado! HAHAHA
    Olha, não fique na defensiva - percebi que você justificou suas 4h de fila o tempo todo - eu faria o mesmo!
    Adoro meus ídolos e ainda por cima eu poderia contribuir com o 'meu' país, isso é honroso. Digno.

    Adorei o post! Tenho um orgulho alheio dessa nação - que se une cada vez mais para se recuperar - orgulho de vc tb! >.< E me sinto MTO feliz por saber que td está voltando, aos poucos!

    Beijos!!

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  6. Hoje na minha atual condicao de mae de 2 criancas eu acho loucura rs, mas certeza que se fosse antes eu nao acharia kkkkk
    legal ne? vamos continuar economizando para ajudar! nos tbm contribuimos com um pouco financeiramente!
    bjks

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  7. Legal a sua iniciativa de enfrentar uma fila do C*** pra fazer uma boa ação. Achei super legal.. é isso aí.

    Kisu!

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  8. Vamos respondendo tudo atrasado rs...

    Paula, melhor a gente fazer doações onde confiamos. Eventos são boas pedidas, mas nem todos podemos confiar. Nesse caso, como a agencia é hipermegaultra conhecida aqui, se fizer alguma besteira, sabe, ne?
    Mesmo quando estava no Brasil, participava de campanhas, como doação de sangue, de roupas, de alimentos...
    Arigatou, mas neste Golden Week terei que trabalhar, mas melhor assim, nao pego tudo congestionado!!
    Beijao!

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  9. Oi Loli! Eh que muita gente (que nao gosta dos grupos desta agencia) acha que seria loucura. Da mesma forma quando anualmente tem o 24 Hour Television, o pessoal faz fila pra fazer doação (ainda mais que os supporters geralmente são os artistas do momento hoho)
    Verdade: o Yoyogi Koen vive cheio independente se tem megaevento ou não, eu costumava ir quando passava na NHK que fica no meio do caminho...
    Arigatou!!!^^

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  10. Nozomi-san, Zico ainda continua sendo muito bem lembrado aqui no Japão, no Kashima. Fico contente em saber que ele organizou um jogo beneficente para arrecadar fundos para cá. Mas ficariamos felizes tambem se eles pudessem ajudar as vitimas daí, pois me entristece saber que aí até agora nao resolveram totalmente o problema da enchente (sendo que aqui, já fizeram residencias provisorias para os desabrigados).
    Beijao!

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  11. Gesiane, se voce estivesse vindo, que eu ia te carregar junto pra passarmos vergonha... ops, ficar na fila pra ajudar, ah, se ia!
    O cartão foi dado para todos que foram prestigiar e doar, dentro do parque.
    Sabia que voce logo loguinho ja ia encontrar a assinatura do Tackey... porque, ne? rs
    Beijao!!

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  12. Lominha, se bobear, em agosto estarei tentando chegar no Budokan pro 24 Hour Television, outro evento filantropico.
    Eu sentia o dever de colaborar, pois afinal, tanto tempo que moro aqui, muita coisa boa esse país me proporcionou (um trabalho, um marido, uma moradia, um montão de amigos, um monte de cultura).
    Felizmente a vida volta ao normal, ainda bem. E o pessoal poupando energia eletrica!
    Beijao!!!

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  13. Ah, Satie. Tinha tanta mamae e papai de familia com a prole junta (já viciando a criançada cedo nos meninos hohoho). E voce ia surtar ao ver o Matchy (se bem que com aquela permanente...)
    E vamos economizar energia eletrica, como sempre!
    Beijao!

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  14. Bah, se eu tivesse companhia, ia ser um sarro, afinal, 370 mil pessoas nao poderiam estar erradas rsrsrs
    No que a gente puder ajudar, seja financeiramente, seja na economia domestica, ja me faz sentir bem melhor!! ^^
    Beijao!

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