Entre Caixas, Malas, Treinamento e Trabalho



Quem me acompanha no twitter, ou no facebookson, ou até aqui mesmo, sabe mais ou menos o que estava acontecendo comigo. E acho que chegou a hora de explicar o que aconteceu, na verdade, depois do Grande Terremoto de Tohoku, em 11 de março de 2011.



Bem, digamos que foi seis meses antes quando recebemos a "bomba" de que todos os funcionários de onde trabalhávamos iram ser dispensados aos poucos devido fechamento da empresa. A partir daí foi um misto de apreensão, um pouco de desespero, conformismo e no fim juntou todas essas emoções e seja lá que Deus quisesse.

Mesmo assim, cada um foi tentando procurar o quê fazer depois do dia 31 de março de 2011 (data em que seria o último dia para todos), como enviar currículo para outros lugares, tentando juntar uma graninha para emergências, até encaixotando tudo e mudando de vez... pro Brasil!

Depois do dia 11 de março, muitos de meus colegas já foram decididos a "passar a régua", fazer as malas, encaixotar a mudança e ir embora de vez. Quem restou, resolveu tentar nova vida, nem que seja começar do zero. Voltar a linha de trabalho, de onde tudo começou. Antes que muita gente venha dizendo e tacar pedra por qual motivo nos acomodamos e não procuramos outra coisa melhor, vou tentar explicar...

- A verdade é que muita gente acabou se acomodando ao invés de querer virar a mesa e enfrentar.

- Sobre aprender (mais) a língua japonesa e demais cursos para melhorar nossa vida. Problema seria os horários. E dependendo onde você trabalha, se pedir para mudar seu dia de folga, ou pedir para sair um pouco mais cedo para poder estudar, corre o sério risco de ouvir "estudar pra quê? Você está aqui pra trabalhar e não pra estudar!". Pior que até eu acabei ouvindo um desaforo desses no ano passado.

- Sobre o item acima, um desaforo desses ou você corre o risco de perder o emprego ou enfrenta tudo mesmo custando sua saúde e seu trabalho.

- E mesmo que consiga conciliar trabalho e estudo, o problema seria a parte financeira, porque muitos dos cursos que queremos fazer custam MUITO caro.

Confesso que passei um ano comendo o pão que o diabo amassou. Não porque trabalhar seja ruim, mas quando nada dá certo, desde ambiente de trabalho até as pessoas com quem tem que trabalhar, você perde até a alegria de viver.

(Eu sei que o anônimo ia adorar ler uma nota minha de "acabei com minha vida")


Felizmente quando nossas preces são atendidas, literalmente mandei tudo às favas e estamos na região de Tokai, aprendendo o novo trabalho que faremos em outra província. Podem falar que seria loucura, que a firma anda mal das pernas, etc., mas trabalho é trabalho, e a cada minuto tem um usuário de celular mandando seu aparelho para a assistência técnica para conserto. Vamos dizer ~ serviço não faltará mesmo se aparecerem novos modelos.

Um mês passa rápido, e quando a gente percebe, estamos quase terminando o período estipulado e já de antemão já disseram que todos irão pertencer a equipe de assistência técnica de manutenção de aparelhos celulares em outro lugar. E bora mais de cinquenta pessoas indo de mala, cuia e caixas para Kisarazu (Chiba, sim, quem acompanha aqui, sabe do dorama e dos dois filmes da série, mas isso seria outra história), mas por enquanto somos reconhecidos como estagiários (ou escraviários, como queiram), daí me lembrou de um post que republiquei do saudoso blog "Garotas que Dizem Ni".

(Para relembrar: "Estagiários, esses seres incompreendidos", que republiquei o texto devidamente creditado de "Frodo, vai buscar carbono pautado?")

Logo de cara o pessoal já reconhece um estagiário. Chega no lugar com olhar perdido, se perde nos corredores e sem falar que tem que andar com uma identificação de kenshuchuu  (研修中), que significa "em treinamento".

Mas toda lição é válida em todo treinamento. Quem nunca passou por isso, atire a primeira pedra.

Ilustrações: via google.




Comments

  1. Aii eu tô morrendo de invejinha de vc estar indo para Kisa, apesar de saber que tem uns malas ainda morando por lá da época que trabalhei, enfim... Espero que vc seja feliz naquele lugar pq eu fui, a Denise e o Carlos tb têm ótimas lembranças. Enfim, esperamos que seja uma boa experiência pra vc.

    Sobre o post, não acho vergonhoso em nada começar do zero, olha que eu estou recomeçando pela terceira vez! Começando no Japão, quando voltei para o Brasil e agora aqui na Inglaterra. A vida é feita de experiências. Não adianta nada vc ter trocentos anos de experiência em escritório e não gostar ou sei lá porque cargas d´água vc acaba não se sentindo feliz.

    Eu fui mto feliz qdo trabalhei de "peão" em fábrica, juntei quase nada, viajei muito. O que me permitia viver a vida é o dinheiro que entrava, independente de qual trabalho eu faça. Vc aprende que trabalho é trabalho, mas o dinheiro infelizmente nesse mundo capitalista é o que te permite ganhar cultura e ganhar em dobro viajando.

    Boa estadia!

    Kisu!

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    1. Oi Bah, estou na expectativa para ir pro novo lar. Felizmente tenho otimas referências da cidade, e também por causa do dorama "Kisarazu Cat's Eye", que foi feito inteirinho lá. Inclusive nao esqueceram da lenda da ponte.
      Faltam apenas dez dias para nos mudarmos em definitivo. Por enquanto, estamos no business hotel, se virando como podemos, bem, a empresa está pagando o tempo que estamos fazendo o treinamento ~ que na verdade já virou trabalho.
      Eu não me sinto mal nem vergonha começar do zero, mas o que me deixa inconformada é que a gente traz uma certa bagagem e recebemos um não na cara.
      Eu que admiro mesmo sua coragem ~ ter vindo ao Japao, trabalhado, voltado ao Brasil, começado tudo de novo, estudou, trabalhou e agora nova vida na Inglaterra, que estou vendo que você está ganhando muito conhecimento com as viagens e detalhes que a gente so conhece quando se vive no lugar onde está.
      Na real, eu tambem nao juntei quase nada, mas tambem viajei por alguns lugares.
      E' verdade ~ pra podermos ganhar cultura nesse mundo capitalista, teria que ter dinheiro, e pra ter dinheiro, temos que trabalhar, nao importa onde, mas o importante saber administrar o seu tempo.

      Beijao, sua linda! <3

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  2. Olá!
    Nós acompanhamos um pouco da trajetória de vocês e apesar de ser nessas ciscunstâncias (não como vocês esperavam), ficamos contentes que estão indo para Kisarazu pois foi um período que marcou muito para nós. E também trouxe sorte. Antes de ir eu estava bem desanimado e perdido mas depois que fomos e voltamos, consegui me recolocar. Estou torcendo para que aconteça o mesmo com vocês! Que tenham muita sorte e sucesso nesta empreitada.

    Recomeçar do zero pode desanimar um pouco mas se temos saúde para isso, não há mal nenhum. E pode ser uma oportunidade para resgatarmos o que não aprendemos da primeira vez.

    Vou falar para o Toshi atravessar a ponte carregando você como fiz com a Denise. Afinal vocês estarão lá e não dá para passar batido uma lenda dessas né!?

    Abs,
    Carlos

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    1. Oi Carlos!
      Felizmente este ano começou muito bem mesmo! As coisas estão dando certo, conforme o planejado. Esperamos que este ano também conseguirmos resolver boa parte de nossas pendências e, se tudo der mais certo ainda, tirar um mes de merecidas férias ao Brasil, e encontrar amigos legais e bacanas como você e a Denise!!
      Olha, quanto ao Toshi me carregar atravessando a ponte Nakanoshima, depois que ele soube que era a ponte de pedestres mais alta do Japão...
      Aos poucos vamos descobrindo aqui. Pelo menos, os mapas ja peguei hahahaha

      Abraços!!!

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  3. Nossa eu to perdido, da última vez que li essse blog você tava fazendo bolo e agora consertando celular?

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    1. Pra ver, Hugo, como o mundo muda a cada dia.
      Verdade ~ desde janeiro estou trabalhando com manutenção e conserto de aparelhos celulares da operadora DoCoMo, sendo que fiquei um mês em Minokamo (Gifu), aprendendo o trabalho e agora estamos em Kisarazu (Chiba), agora pra valer.
      Felizmente é um trabalho que ja havia feito desde o Brasil (mas era computadores).
      Mas o trabalho de confeitaria, sinto muito, levar bronca de graça todo santo dia mesmo nem ter feito nada de errado, nem os mais fortes aguentam.

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    2. Eu to tentando mudar de área, algo sem ser fábrica, mas está díficil pra mim por falta de idioma, mas uma hora consigo.

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