[Discoteca Básica do Empório]: Paul McCartney and Wings ~ "Band on the Run"



Quando os Beatles encerraram suas atividades em 1970, cada um dos membros fez individualmente o que puderam ~ gravaram álbuns solo, participaram de filmes, especiais de TV, compondo para amigos (mesmo sob pseudônimos para não acharem que tal artista estaria fazendo sucesso a custa da fama do outro).


Chegava o ano de 1973 e Paul McCartney - considerado por uma boa parcela do mundo como "o homem que acabou com os Beatles", "traidor" e outros adjetivos - ainda estava tentando se acertar em sua carreira solo, muito embora tenha emplacado hits como "Live and Let Die", "Another Day", "Maybe I'm Amazed" e "My Love", mas não tinha se acertado. Os primeiros álbuns eram ainda muito experimentais e não tinham ganhado repercurssão como nos primórdios com os Beatles.

Foi quando McCartney resolveu gravar um novo álbum fora da Inglaterra, e pediu para a subsidiária da EMI Records listar lugares tido como exóticos (dizem que até Brasil estava na lista), e decidiu ir para Lagos (Nigéria), em agosto do mesmo ano.

Só que como a vida costuma pregar certas surpresas, muitos imprevistos aconteceram:


- O guitarrista Henry McCullough, da primeira formação do Wings, saiu do grupo semanas antes do grupo embarcar para a Nigéria;
- O baterista Denny Seiwell saiu do grupo na noite anterior ao embarque;
- A região da Nigéria estava, na época, sob governo militarista, com conflitos armados, tanto que, talvez por quesito de segurança, Paul, a esposa Linda com os filhos, Denny Laine (guitarrista do Wings), Geoff Emerick (engenheiro de som, amigo de Paul desde os tempos dos Beatles) e dois roadies, ficaram hospedados próximo ao aeroporto;
- O estúdio que arranjaram estava em estado tão precário, que só tinha um gravador de 8 canais que mal funcionava;
- Uma noite, quando estavam caminhando, Paul e Linda foram assaltados e levaram todos seus pertences, inclusive um caderno com rascunho das composições e algumas fitas pregravadas (tiveram que gravar quase tudo de novo);
- O músico local e ativista político Fela Kuti, acusou McCartney de "roubar" a música local. Paul convidou o músico para assistir a algumas gravações pra provar que Kuti estava completamente enganado;
- Pra completar, Paul teve o que pareceu ser uma parada cardíaca no meio das gravações, quando sentiu falta de ar, mas na verdade foi um espasmo pulmonar (provavelmente de tanto fumar).

McCartney literalmente se virando nos 30 para fazer o álbum...

Mesmo com tantos incidentes, o trio - Paul, Linda e Denny Laine - seguiu firme e forte nas gravações. Voltaram para Londres em setembro daquele mesmo ano para fazerem os acertos finais das gravações (como overdubs e acréscimo de instrumentos e orquestrações) no estúdio que pertencia a George Martin (produtor desde os tempos dos Beatles).

No dia 26 de outubro, foi lançado o single "Helen Wheels", que originalmente não faria parte do álbum a ser lançado, mas quando "Band on the Run" foi lançado primeiro nos Estados Unidos, a EMI norte americana a incluiu. Mas na Inglaterra, não.

O álbum foi lançado no dia 7 de dezembro de 1973, o que teve críticas positivas da maioria das revistas especializadas (Billboard, Rolling Stone, por exemplo), o que levantaram a auto estima de McCartney, provando que ele ainda lembra como fazer bons rocks, mesmo com historinhas, baladas positivas, bom humor e usando teclados eletrônicos.

- "Band on the Run", cuja letra seria a história de prisão, isolamento, planejamento de fuga e a liberdade. E' dividida em três partes: a primeira, mais melódica, fala de solidão e a necessidade de ver alguém; a segunda, um pouco mais pop-rock, seria o planejamento de como escapar (a frase "se algum dia conseguirmos sair daqui", foi proferida diversas vezes por George Harrison, na época em que os Beatles tinham que enfrentar reuniões e audiências com advogados e executivos na época do fim do grupo); a terceira, mais animada, narra a felicidade de estar livre - a ponto de "todo mundo nos procura eternamente, mas jamais nos encontrarão". A música tornou-se obrigatória em todos os shows que McCartney faz.

- "Jet", segunda faixa do álbum, era mais uma historinha da vida cotidiana de McCartney (dizem que a letra foi inspirada em um de seus animais de estimação que tinha), mas não deixa de ser um delicioso pop-rock com uso de metais, riffs pesados de guitarra, batida forte na percurssão.

- "Bluebird", balada romântica e acústica bem otimista, ainda provando que McCartney ainda consegue fazer canções de amor sem cair na pieguice. Segundo o crítico John Blaney "Bluebird seria uma metáfora do poder transcedental do amor e a liberação do espírito dos laços físico e mental". Para muitos críticos, a balada seria mais otimista e soberba que "Blackbird" (composição também de McCartney, na época do "Album Branco" dos Beatles).

- "Mrs. Vanderbilt" foi single principal ("Bluebird", comentada anteriormente, era seu b-side), tem um ritmo mais animado, com solos de saxofone (tocado por Howie Casey). O primeiro verso, McCartney pegou do bordão de um humorista inglês, Charlie Chester, e mudou a segunda parte. Mas era uma das músicas que Paul não cantava ao vivo, até que em 2008, quando fez um concerto gratuito em Kiev, numa enquete feita para os fãs, os mesmos pediram que incluisse no setlist....



- "Let Me Roll It", seria uma forma de homenagear John Lennon, seu ex-parceiro de composições, tapando um pouco as feridas que restaram depois do fim do grupo. Houve maldosos que disseram que Paul estaria "parodiando" Lennon, com uso de guitarras meio distorcidas e efeitos de eco, mas disse que a música "lembra sim, John [Lennon], mas nunca imaginei que minha voz pudesse soar como a de John!"

- "Mamunia", cujo título foi inspirado no hotel que os McCartneys ficaram hospeados quando viajaram para Marrakesh no início de 1973 (o hotel se chamava "Mamounia", que, em árabe significa "refúgio seguro"). Novamente uma música que fala de liberdade e renascimento e também de não reclamar das dificuldades (na música, chuva seria uma metáfora de pessoas que enfrentam tempos difíceis).

- "No Words", única música composta por Paul McCartney e Denny Laine, também seria uma balada.

- "Helen Wheels", primeiro single que foi lançado antes do álbum. Curiosamente, esta música foi inclusa na versão americana e no resto do mundo, mas não na inglesa. Quando foi relançada, acabaram por omitir nos créditos, tornando-se uma hidden track. Na versão comemorativa lançada em 1999, foi inclusa definitivamente, junto com outras faixas inéditas e versões de estúdio.

- "Picasso's Last Words (Drink To Me)", foi composta por McCartney durante um jantar que teve com os atores Dustin Hoffman e Steve McQueen, quando o Beatle estava de férias na Jamaica e foi dar uma espiada no set de filmagens de "Papillon" (protagonizado por McQueen e Hoffman). Hoffman fez uma aposta com McCartney que ele compusesse sobre qualquer coisa e mostrou uma revista sobre as últimas palavras do artista plástico Pablo Picasso (falecido em 1972) - "Drink to me, drink to my health, you know I can't drink anymore" ("Beba por mim, beba pela minha saúde, você sabe que eu já não posso mais beber"). Com violão em punho, Paul gravou uma demonstration tape com essa frase, o que deixou o ator embabascado.

A música foi gravada nos estúdios do ex-baterista do Cream, Ginger Baker, que possuia na Nigéria. Baker convidou Paul para uma visita e que pudesse ao menos gravar lá (já que o que o Wings utilizava estava em condições precárias). O Beatle passou um dia lá, onde gravou a música, com Baker na percurssão (usando uma lata com cascalho como chocalho). A música só tinha a famosa frase de Picasso, incluindo trechos das músicas "Jet" e "Mrs. Vanderbilt".

- "Nineteen Hundred and Eighty-Five", encerra de forma apoteótica o álbum, com uso de teclados (intercalados entre Paul e a esposa Linda), orquestra e mellotron, para dar um efeito "futurista", muito em moda no início dos anos 70. "Ninguém estará vivo em 1985...", iniciava a música e terminava com o refrão da música de onde o álbum começou.

Só que 1985 já passou e estamos todos vivos ainda para continuarmos ouvindo essa obra prima que provou que Paul McCartney ainda sabe como ser um superstar.

(Mais) Curiosidades:

- Foi o último álbum de Paul McCartney a ser lançado pela gravadora Apple (que pertencia aos Beatles);

- Devido ao grande sucesso do álbum, Paul McCartney and Wings ganhou o Grammy de "Melhor Apresentação Vocal feito por Duo ou Grupo" em 1975;


Paul (centro) com as personalidades que participaram na capa do álbum - Michael Parkinson, Christopher Lee, James Coburn, Clement Freud e Kenny Lynch

- A capa, fotografada por Clive Arrowsmith, retratava um grupo em fuga, pego por um facho de luz. Além de Paul, Linda e Denny Laine, mais seis personalidades famosas (na Inglaterra) aparecem na foto, respectivamente, da esquerda pra direita: o jornalista Michael Parkinson, o ator-comediante-cantor Kenny Lynch; o ator James Coburn; o colunista e membro do Parlamento Clement Freud (sim, ele é neto do psicanalista Sigmund Freud); o ator Christopher Lee (famoso pelos seus papéis de Conde Drácula e como o vilão Scaramanga no filme "007 e o Homem com a Pistola de Ouro"); o boxeador John Conteh;

- Além de Paul, Linda e Laine terem tocado quase todos os instrumentos, também foram adicionados músicos extras, como o citado Ginger Baker, o saxofonista Howie Casey, a dupla Ian and Trevor, o músico Toni Visconti (que é produtor e amigo pessoal de David Bowie desde o início de carreira) e o músico nigeriano Remi Kabaka (que estava em Londres quando Paul foi remixar o álbum. Seu filho, Remi Kabaka Jr. é quem personifica a voz e instrumentação do personagem Russell na banda-animação Gorillaz).

- Embora Paul tivesse terminado o restante do álbum nos estúdios de George Martin (produtor e amigo dos Beatles desde o início), o mesmo não participou.

- Nota pessoal: no Japão só conheço duas paródias (ou homenagens, como queiram) da capa do álbum "Band on the Run" - a capa do single do quarteto SPEED - "Breakin' Out to the Morning" (1995) e a home page do programa "Arashi ni Shiyagare" (NTV), que inclusive fizeram quase as mesmas poses dos artistas do álbum (por mim, ou quem criou o programa é fã dos Beatles ou tem dedo, mão, tudo do Jun Matsumoto, que é fã declarado do quarteto de Liverpool...)


Vão me dizer que isso não seria uma homenagem ao álbum do Sir Macca?

Fontes: Wikipedia, The Beatles College, google, NTV.

Comments

  1. Tá lá no meu Facebook uma homenagem a vc que eu tirei na Abbey Road.... :)

    Kisu!

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    1. Eu vi! Eu vi!!!!
      Um dia vou a Londres para passear, conhecer diversos lugares interessantes (e alguns que podem nem ter nos guias), e pagar mico na faixa da Abbey Road!! XD
      Amei demais mesmo!!! Arigatou!!!
      Beijao!!

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  2. I love that photo of Sir Christopher lee with Paul McCartney and wings.

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