Makenaide.




Recentemente passo numa fase em que tenho que dar um jeito na minha vida.

Pior que toda vez eu vivo nesse mantra mas continuo a morrer na praia. Não me levem a mal, mas eu tento de muitas formas possíveis para sair do lugar, da "zona de conforto". O que me mata é falta de conciliação tempo e dinheiro.

Quando tenho tempo disponível, nada ajuda. E quando tenho fundos para tal, as datas não coincidem. Aí quando as duas coisas coincidem, existe um terceiro fator que se chama trabalho.

Tenho lido muito sobre pessoas que conseguem um trabalho melhor, salário melhor, vida melhor. Mudar de emprego, largar tudo e investir nos estudos, especialização, etc. Pois é...

Em tantos anos que estou aqui, eu deveria ter criado uma grande vergonha na cara e ter arriscado uma especialização, uma segunda faculdade, e tudo o mais. Ok, parte da culpa é minha, que não tive coragem e cara de pau o suficiente para enfrentar as adversidades (e ter juntado fundos), como pedir mudança de turno ou horário especial, mas sabe como é a vida aqui: ou você trabalha ou você fica na rua.

Experiência própria: pelo menos três lugares onde trabalhei consegui conciliar horário e curso, mas foi na base da sorte e bom senso do pessoal. Porque teve lugar que já ouvi cada disparate que daria vontade de desistir, mas fui mesmo assim (morrendo de sono, cansada mas firme).

Por que até hoje não consigo sair do lugar?

Faltam-me coragem, uma boa quantidade de fundos no banco para poder segurar a barra, um currículo bom...

Currículo.

Curriculum Vitae.

Até hoje lembro do ano em que estava desesperada para encontrar um outro emprego, depois que onde eu estava fechou as portas. Apesar de eu ter guardado uma quantia o suficiente para me manter, mais o que eu recebia de direitos trabalhistas, eu estava odiando ficar parada. E nisso cometi um erro: o de não ter aproveitado o tempo livre para me dedicar aos estudos.

Mas falando de currículo. Toda semana, ao abrir o site de empregos, eu via algum que talvez desse para o que eu tinha de experiência, telefonava e/ou enviava e-mail, esperava a resposta e mandava o currículo via correio ou por e-mail, esperava eles derem a resposta se poderia fazer ou não a entrevista... enfim.

Quase todos os meus currículos foram recusados. Uma empresa ainda me chamou para a entrevista. Até aí tudo bem, se não fosse na hora de falar, minha voz deu de não sair.

Os currículos recusados, uns retornaram com a cartinha de "infelizmente você não se encaixa no perfil da empresa" (como disse em um post, talvez um forma mais delicada de dizer "seu currículo não vale porcaria nenhuma; você não serve nem pra pano de chão", bem por aí, mas usam o eufemismo para doer menos. Sei...). Outros nem retorno teve. Pior foi um que marcou a entrevista e na noite anterior da data marcada, me telefonam avisando que não seria possível a entrevista e seria em outro dia a combinar. Dois dias depois recebo o e-mail de que meu currículo não foi aprovado.

Essas coisas deixam qualquer um mais pra baixo que minhoca.

Muitas vezes eu fiquei me perguntando onde estava errado no meu currículo.

Seria a faculdade ou os empregos anteriores aqui?

Oito anos e meio de trabalho ininterrupto em um escritório na área financeira.

Meu nível de língua inglesa, bem três anos de curso de inglês britânico na Cultura Inglesa. Posso atualmente não falar tão bem, por falta de prática, mas escrever, ler e entender, não posso reclamar.

Nível de Proeficiência em Língua Japonesa.

Morro de vergonha.

Pode até ser piada, ou orgulho besta, mas pelo tanto tempo que estou aqui, convivendo mais com o pessoal daqui (sempre morei em lugares em que a contingência de moradores brasileiros nem dava duas dezenas de pessoas), consigo fazer muita coisa sozinha (ou quase, recorro ao dicionário eletrônico) e ajudo muita gente desesperada na hora de preencher formulários e até no exame de saúde da empresa, eu não tenho nível do JLPT suficiente para ser aceita em qualquer empresa que vejo nos classificados.

Minha idade.

Nunca neguei quando me perguntam. Mas não tenho culpa se ninguém acredita.

Já ouvi de muita gente dizendo que depois dos quarenta, encontrar emprego bom aqui, as chances diminuem a cada ano. Que na minha idade ou seria ramo alimentício ou helper. Se bem que já cogitei a idéia de fazer um curso de helper, mas eu não conheço pessoas o suficiente para eu ter uma idéia formada.

Fico me perguntando: será que eu tenho chance no mercado de trabalho?

Ou estaria dando murro em ponta de faca?

Que eu deveria me conformar com tudo e remover a minha idéia de voltar a estudar na minha área, procurar algo melhor para sentir-me bem?

Mas onde você está, não está bom?

Prós e contras.

O bom é que ao menos estou tendo fundos para pagar as contas, comida e onde morar e ao menos estou conseguindo fazer um pouco do que gosto no tempo livre. O lado contra é que acho que estou perdendo meu tempo reparando defeitos em aparelhos e etiquetando. Oito horas por dia, cinco dias na semana.

Eu sei que escolhi vir aqui, mas aos poucos a gente começa a procurar uma nova perspectiva de vida. Que a gente pode melhorar. Em tudo.

Posso às vezes dar aquela maldita procrastinada, mas a maioria das vezes, é enfrentar e ir adiante.

Makenaide.

Não desista.

Outro mantra que me acompanha.

Por mais duro que seja a vida, desistir dos seus objetivos, jamais.



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