Balcão de Reclamações



Uma das coisas que eu consegui diminuir aos poucos, foi reclamar demais de tudo. Não somente do trabalho, mas no geral. Até se o dia estava lindo e maravilhoso e estava de folga com dinheiro na carteira. Mas também tive que levar um monte de bronca em tudo o que era lado, desde em casa até em redes sociais (o que já custou para mim até unfollow, essas coisas acontecem). Depois a gente para e pensa: não vale a pena ficar se queixando por coisas que você pode resolver.

Mesmo porque, só reclamar da vida não leva a nada. Ainda se resolvesse... Agora, se reclamar e AGIR, aí a história é outra. Nada adiantava eu ficar reclamando que minha vida era uma droga se eu não fazia nada para melhorar. Da mesma forma quando reclamei uma vez que o almoço do refeitório estava com a carne dura através da folha enquete que deixam para a gente dar sugestões. Resultado: melhoraram (um pouquinho) a comida. Ao menos nunca mais comi carne requentada pela 12948482 vez. Daí, por que eu não poderia ao menos tentar me melhorar?

Como eu havia dito em alguns posts: um bom tempo atrás eu passei por uma fase muito ruim tanto profissional como pessoal. Daí eu vivia reclamando e chorando pelos cantos, e bem que eu tentava me reerguer, ter um pouco mais de ânimo, mas foi difícil. Com o tempo, eu passei a tolerar algumas coisas e aceitar outras. Depois de tanto "levar na cabeça pra ver se toma jeito".

Foi duro aceitar as condições na época. Cheguei a perder peso, ganhei sei lá quantas alergias, só faltou eu ficar desidratada de tanto que chorei. Mas se eu não tivesse fé, ia ser mais complicado ainda. Talvez não tivesse me recuperado e permanecesse na modorra.

Hoje talvez uma das coisas que eu reclamo muito é quando está MUITO quente (sofro horrores no verão, e pelo visto, aqui em Inazawa, vai fazer um calor daqueles, e olha que venta pra caramba) ou viro comida de pernilongo (já providenciei aqueles repelentes de insetos pra pendurar na varanda e na entrada da casa). Sono e estar com fome são coisas normais, mas reclamar da vida, pelo menos eu não estou reclamando tanto no Twitter como antes.

Tá, existem coisas que a gente fica indignada, decepcionada, com raiva, e não tem como disfarçar e passar batido, mas ultimamente estou contando até 20 e ignoro. Mais fácil fechar a página e ir cuidar da vida, né?

O duro pra mim é no trabalho. Conheço gente que reclama de tudo, pior do que eu. Teve horas que eu fiquei me perguntando "por que raios está aqui, entào?". Ou gente que generaliza (prática comum: onde um faz a c*gada, todo mundo acha que o grupo todo faz também, da mesma forma que muito estrangeiro acha que todos os brasileiros gostam do combo samba-futebol-carnaval). A gente sabe que nem todo mundo age da mesma forma que uma acaba agindo, mas...

Um tempo atrás, um antigo colega de trabalho do namorido vivia se queixando de tudo. Desde o lugar de trabalho até o modo de vida daqui. Concordo que ninguém é perfeito, nada acontece como a gente quer, cheio de flores e purpurina, mas generalizar porque não deu certo (incluindo tratamento xenófobo, etc.), aí, até pra quem ouve, vai dizer "então por que está aqui?"

Acho que se tive tratamento diferenciado por ser estrangeira (apesar da minha cara e aparência de japonês, mas esperem quando eu abro a boca), passei muito batido porque pra eu pegar as coisas no ar, eu sou um zero à esquerda. Ou ignorei mesmo e nem percebi.

"Se eu soubesse falar , eu falaria um monte para tal pessoa para deixar de ser idiota. Sou estrangeiro, mas não sou burro!", é o que eu ouço e muito. Para evitar que eu passasse por constrangimentos e saber reivindicar o que teria direito, tive que abrir algumas brechas no meu horário já apertado e aprender o idioma. Não sou fluente, mas ao menos consigo dialogar em alguns lugares. Mesmo em inglês quando eu tive que pedir para que mudassem o endereço de entrega de uma encomenda e a atendente foi curta e seca, e pedi solenemente para um grupinho de estrangeiras no trabalho que não entendem um pingo em japonês para diminuirem a algazarra na sala de descanso porque tinham outras pessoas que estavam morrendo de dor de cabeça.

Por essas e tantas que fui percebendo que não vale a pena mesmo ficar reclamando pelos cantos se o atendimento é ruim, se nada dá certo, se o mundo conspira ao seu redor. Aos poucos fui caindo em si e ver as coisas por outro lado, mudando minha postura e meu ponto de vista. Mas também se a pessoa ao meu lado não pára de reclamar, melhor eu ficar quieta senão a situação piora (porque de boas intenções o inferno está cheio). Mas que às vezes isso incomoda, isso eu sei.

Ultimamente estou preferindo estar no meu canto, lendo meus mangas atrasados, assistindo meus filmes prediletos e encontrar com pessoas com quem a gente já conhece, confia e pode passar horas trocando conversa fiada. A gente já leva uma vida muito estressante aqui, é óbvio que a gente quer alguns minutos de paz e serenidade, e não ficar se estressando mais do que já está.

Pelo menos aqui existe um cantinho nos estabelecimentos onde podemos responder as enquetes e dar nossas sugestões e reclamações mesmo de forma anônima. Por que existem esses questionários? No fundo, para que as empresas tentem se conscientizar da qualidade de atendimento e do produto que estão vendendo/oferecendo. Bem, se é verdade ou não, da maioria das enquetes que respondi (aquelas que precisam se identificar), uma boa parte tive resposta (e até amostra grátis eu ganhei).

Depende de cada um, mas se a gente faz a reclamação de forma mais educada, sem gritar nem se alterar (mas ser firme e forte), talvez as coisas se resolvam de forma um pouco mais fácil.

Mesmo porque ter um pouco mais de tolerância e paciência, talvez melhore um pouco a qualidade de vida (em todos os sentidos - tanto pessoal, quanto emocional).

Imagem: eu tinha salvo do site snoopy.co.jp muitos anos atrás.

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