Life is Hard but We Can Make It Happy

*A vida é dura mas podemos fazê-la feliz.*

Em muitos anos (vinte anos) aqui no Japão, acho que aprendi a conviver com as muitas adversidades que a gente enfrenta no cotidiano. Se já é difícil lidar em sua terra natal, imagine morar num país completamente diferente.

Pra quem foi morar literalmente no meio das montanhas, onde tudo era longe e bicicleta era seu único meio de transporte, hoje consigo "me virar" melhor do que vinte anos atrás. Se eu fizer meu feedback, uma das coisas que me arrependo de não ter feito, foi ter me dedicado muito mais do que devia na língua japonesa e estou correndo atrás do prejuízo (porque nessas alturas do campeonato, eu estaria numa posição bem melhor).

Estou estudando em casa (ou indo na biblioteca pública, porque acho que penso melhor do que dentro de casa, acreditem), porque este ano não consegui encaixar um horário que adeque ao meu nível, e a meta pro final do ano são duas coisas - o JLPT e o TOEIC. Porque é necessário e estou chegando ao ponto de que estou quase surtando no trabalho e quero melhorar de vida, ou seja, algo mais ou menos tranquilo, que seja.

Falando em vida dura, nem falo e nem argumento com gente que teve a oportunidade de ir trabalhar "no estrangeiro" e não soube aproveitar. Porque eu sei que vou perder tempo e vou acabar piorando a situação...

Existem prós e contras em qualquer lugar. Não podemos dizer que tal lugar é 100% perfeito, porque nunca vai existir, mas também não existe 100% pior. Questão de saber lidar com esses contras? Ou pelo fato de estarmos num lugar que não seria nosso, teria que se adaptar e se conformar com os contras que existem, mas aproveitarmos os prós que nos oferecem? Difícil, não é?

Muitas vezes me comparo com os primeiros dias que cheguei aqui com atualmente, as dificuldades que passei e como até hoje eu tenho que "me virar sozinha porque não sou quadrada". Sim, mesmo com vinte anos aqui, ainda tenho que procurar saber de muita coisa e às vezes é pior que atualização de programa de computador, muda toda hora. Mas todo dia aprendo algo diferente, até mesmo estudando todos os dias, ops, noites, em casa, depois do jantar.

"Tempo você não tem, você arranja." Pode soar muito absurdo para uns e muitos, mas sempre tentei aproveitar o pouco tempo livre que tenho - quando trabalhava em Tóquio, eu aproveitava meu tempo que ficava no trem para ler (e muito) e ouvir muitos podcasts (na volta, até hoje passo mal em viagens de volta se eu ler algum livro ou assistir algum video no smartphone). Atualmente, treino muito tentando entender algo nos noticiários, doramas e variedades em japonês, porque não dá pra ficar sem entender nada. Ainda mais morando tanto tempo aqui, temos que, ao menos, entender o que se passa.

Quem pensa que a gente leva uma vida de nababo no exterior, é que ninguém passa pelo que a gente passa todo dia. Se nas fotos ou vídeos a gente tenta mostrar o lado bom da coisa, no fundo, trabalhamos duro para garantir as contas pagas e comida na mesa. E se aparecemos nos divertindo, é que temos que ter um tempo pra nos divertirmos, nos desestressarmos, senão enlouquecemos. Já é duro viver num lugar que não estamos habituados, e se não tivermos um momento de diversão, onde iremos parar?

Jamais julguem as pessoas sem saber o quão duro foi chegar lá. Eu sei que existem outras pessoas que chegaram de mão beijada, mas vai saber.

Superação: Não lembro onde li, mas porque não se inspirar em gente com idade bem acima da sua, como "pessoas que tiveram sucesso aos 40 anos". Eu procuro mais saber como essas pessoas conseguiram ser bem sucedidas numa idade que muitos consideram como "velha", "sem chance no mercado de trabalho disputado por jovens" e por aí vai. Vez em quando, eu compro a revista "Nikkei Woman", e sempre tem relatos de mulheres bem sucedidas depois dos 30, 40 anos e em cargos importantes em empresas.

Para conseguir o tal sucesso almejado, já avisam: tem que ter paciência e preseverança, porque não é fácil. Por isso, invista muito em aprimorar uma língua, word, excel, culinária, algum hobby que possa ser útil. De repente, em seu currículo, ter algum hobby pode contar pontos.

Não importa sua idade, o importante é sua força de vontade e interesse em aprender. Nunca é tarde demais para aprender algo, e tem a vantagem de trocar idéias com outras pessoas que estão no mesmo meio.

Ninguém tem limite de idade para algumas coisas: Cansei de ouvir "mas você não acha que está velha pra isso ou aquilo". Enquanto eu puder, e tiver saúde, ainda continuarei a fazer coisas que eu faço, como ir em shows de meus artistas favoritos, ir em eventos de manga independente (aka doujinshi), ir aos cinemas, viajar, estudar... Por que tem gente que insiste em dizer que temos limite de idade pra isso ou aquilo? Existem coisas que realmente a gente tem um certo limite, mas no trivial... Até pra ir assistir um anime já me chamaram a atenção.

Não estou mais ligando pra que terceiros dizem, pensam, acham. Mais fácil eu sorrir e seguir minha vida.

A vida continua: Por mais que seja difícil o cotidiano, tendo que enfrentar as adversidades do dia a dia, temos que seguir em frente, buscando o hoje e pensar no amanhã, mesmo lembrando das coisas boas do passado, o que temos que tirar lições do que esquecemos de fazer, das coisas que deram errado, para não tentarmos repetir no presente. Ninguém é perfeito, todo mundo erra (e repetir o erro já seria burrice, como dizem).

Ficar parado, não leva a lugar algum. Existem formas de aproveitar a vida, como voltar a ler aquele livro que encostou, ler alguma revista, testar uma receita nova, estudar, assistir um filme (existem sites de streaming bons que dá pra quebrar muito bem o galho).

Na verdade, eu presencio muitas cenas diariamente, mesmo em um trabalho rotineiro, tido como monótono, cansativo, sem futuro. Apesar de tudo, eu vejo futuro, sim, por mais que pessoas falam. Porque eu saio da rotina casa-trabalho-casa. Talvez por isso eu seja mal vista por pessoas da comunidade, do trabalho. Porque eu aproveito muito meu tempo livre, tento não me abater com problemas, sei dos meus deveres e das minhas prioridades.

Mas vivo da forma que eu consigo, que eu posso, das condições que tenho.

E lutar para atingir meus objetivos, mesmo sabendo que o caminho será árduo.

(E agradecer todos os dias por eu ter saúde tanto física como mental para poder seguir.)






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