Os Limites da Paciência (ou: Cada Postagem ou Comentário que temos que ler...)

ATENÇÃO!!! O intuito desta postagem NÃO É HUMILHAR, RIDICULARIZAR, DIFAMAR (e todos os sinônimos possíveis), MAS PASSAR A INFORMAÇÃO NECESSÁRIA PARA QUE OUTRAS PESSOAS NÃO COMETAM O MESMO ERRO. Especialmente ALERTAR às pessoas que, por causa da diferença cultural, acabam cometendo erros gravíssimos que podem prejudicar além delas mesmas, outras pessoas que nada têm a ver com o assunto.

Caso alguém se sentir ofendido, certamente deve ter cometido algum erro e não quer dar o braço a torcer. Obrigada, de nada.



Eu quase não entro nas redes sociais (FB é uma delas), mas quando acabo entrando porque alguns grupos (de doramas, de idols, de comida) que pertenço, recebo notificação. Mas acho que se eu desativasse, ia passar batido, mas como gosto de alguns grupos que pertenço, acabo entrando. Isso quando eu tenho tempo...


Um dos inúmeros motivos da minha falta de interação de alguns grupos, é que falta paciência. De minha parte, óbvio. Mas em certos casos nem tem como tirar minha razão de às vezes acabar sendo desbocada e uma vontade tremenda de socar a pessoa para ver se aprende a ser menos lesada na vida, porque cada postagem que eu acabo lendo, que olha...

Tá, eu sei que eu também tenho lá minhas gafes, mas em meus vinte e um anos morando (ou vivendo, tanto faz) no arquipélago, eu achava que eu tinha lido e ouvido de tudo, mas de uns tempos para cá, andei deparando com muitas postagens nas redes sociais, que eu fiquei abismada. Diferença cultural? Da comida? Way of life? Falta de noção? Tudo junto e misturado??? Das duas, uma: ou eu que fiquei tanto tempo alheia na comunidade brasileira daqui só porque 80% do tempo que vivo aqui, morei em cidades onde a comunidade brasileira dava para contar nos dedos, ou sei lá que acontece com essa gente, que, por mais informação que passamos, ainda cai no conto do vigário. Muita gente avisa, reforça o aviso, chega até a desenhar (literalmente falando mesmo), mas parece que têm gente que não aprende. Dá vontade mesmo de deixar ela se lascar pra ver se toma jeito.

Vou postar alguns exemplos que andei lendo, só para terem uma pequena idéia de como fico pasmada, decepcionada, abismada, tudo isso de uma vez só...

Pessoas que querem ser o herói igual o das histórias em quadrinhos... Acontece uma discussão feia (chegando a agressão física) entre o líder e o subalterno no mesmo ambiente que você trabalha, mas são pessoas que nada têm a ver com a sua vida. Se ambas fizessem parte da sua equipe, fica algo a se pensar (de repente, pode ser assunto particular com aquela pessoa, por mais que seja do seu grupo, às vezes a bronca sobra para quem foi o (ir)reponsável), mas se ambas nada têm a ver com você, então fica no seu canto antes que sobre para você de graça e o prejudicado acaba sendo você mesmo. Por mais que queiramos ajudar, nesse ponto vai é atrapalhar. Só se meta caso o assunto for parar na delegacia e você ser chamado a depôr, fora isso, fica no seu canto que poupa muita dor de cabeça. Aí teve gente que meteu o bedelho dizendo que "se fosse comigo, enchia o cara de porrada", "tem que chamar a polícia", "eu interveria", coisas do tipo. Perguntei para alguns amigos meus que provavelmente já presenciaram esse tipo de situação, e me disseram que "se for alguém do meu grupo, ia conversar, mas fora isso, deixem que os dois se resolvam" e "a gente fica triste, sim, mas se não é comigo, nem meto no meio, senão sobrará para mim e o final nunca será feliz". Tem que ser muito frio e insensível nessas horas? Melhor ser indiferente e levar sua vida numa boa e na paz, do que tentar ser o "herói" e no final ter inúmeras dores de cabeça.

Ir contra a lei. Li a postagem de uma brasileira cujo marido teve a CNH (Carteira Nacional de Habilitação) vencida no Brasil e queria comprar um carro e até o marido tirar a habilitação aqui, iria dirigir sem a mesma!!! E ainda perguntou se aqui tem muita blitz e se teria problemas. ACORDA, PESSOAL! TÃO PENSANDO QUE MORAR NO EXTERIOR É QUE NEM NO BR??? A postagem foi tão absurda, que acredito que foi o recorde de comentários, ao ponto de até deletarem. Mas deveriam ter mantido, para verem a falta de bom senso de alguns compatriotas que infelizmente saem da terra natal para fazer m*rda no exterior. Para ter a habilitação japonesa, por exemplo, quem tem a CNH ainda válida, tem que mandar traduzir a mesma (no Japan Automotive Federation), ir no menkyo center da província onde mora (menkyo center = local onde prestam exames para habilitação), dar entrada na documentação, fazer exame de vista, teste escrito traduzido (numa forma bem duvidosa) e teste prático (farei uma postagem sobre como eu obtive a minha... no ano 2000!). Assim que você tem a habilitação, pode comprar um carro, porque só dá para comprar o mesmo se tiver a habilitação. Se não tiver, nem pensar.

E dirigir sem habilitação aqui, além de uma multa salgada, pode ficar recluso ao ponto de ter seu visto de permanência cancelado. Aí pode marcar sua viagem de volta sem re-entry.

Dependentes do cônjuge para tudo: Eu confesso - jurava que a maioria das mulheres brasileiras que moram aqui fossem mais independentes, que soubessem se virar muito bem, enfrentar qualquer coisa, até encarar serviços "tipicamente para homens". Temos muitas exceções que servem de exemplo para qualquer uma, chega a ser um grande estímulo para nós, mulheres, arregaçarem as mangas e partirem para a luta. Se por um lado, temos mulheres que, mesmo com ou sem companheiro e/ou prole, conseguem se virar muito bem e até conseguem aprender muita coisa, por outro lado, o lado escuro - infelizmente temos mulheres que dependem do companheiro para tudo, até para ir na esquina. Para piorar, sofrem DV (domestic violence) e elas nem têm como recorrer, porque a barreira cultural é grande, para a maioria.

A verdade é que, até mesmo para as mulheres (de qualquer nacionalidade), o assunto DV é muito sério, e temos que ser mais unidas para ajudá-las a sair do inferno, e não botar mais lenha na fogueira. Mas no caso aqui, principalmente na comunidade, não é isso que acontece na maioria dos casos (vai ser outra postagem a ser feita...).

Mas têm outras que, mesmo sofrendo de DV, infidelidade e outras coisas mais, ainda preferem continuar com sua "cara metade" por questões morais ("família tem que ficar unida", mesmo tomando porrada, né?), com depoimentos que beiram ao absurdo e falta de noção e bom-senso. Na maioria dos casos, se eu fosse elas, eu já teria pulado fora do barco faz tempo, mesmo se eu tivesse filhos, eles iriam comigo.

"Ah, mas você fala isso porque não têm filhos, é descendente, então não depende de conjuge pra visto, etc...." Ok, eu assumo que não tenho filhos, sou descendente de japoneses e nunca dependi do namorido para fazer qualquer coisa, mesmo porque nem no papel somos casados. Vejo que uma parte dos casos é falta de confiança de ambas as partes. E também auto-estima. Teve uma história de uma mulher que pegou o celular do marido e o aplicativo de fotos (Instagram) estava aberto. Ela foi ver e tinha dezenas de fotos sensuais de contas que ele segue. Aí foi uma enxurrada de comentários de que realmente homem não presta, infidelidade, traição, e segue descendo ladeira abaixo. Acho que se fosse comigo, ia tirar sarro da situação, como "pô, Photoshop detonou essa imagem aí, hein?", mas é mais fácil namorido ver meu Instagram e ter que encarar as fotos de comida, de gatos, do Paul McCartney, do Masaharu Fukuyama e do grupo Arashi (principalmente se eu postasse a foto da famosa capa da revista an-an onde Sakurai aparece quase como veio ao mundo cof cof cof), do que eu ficar vendo Instagram dele. Mesmo porque nem celular ele tem. Aliás, existem mil coisas mais interessantes do que ficar fuçando celular alheio, não acham? Fazer amigurumi, ler um livro, aprender uma nova língua, testar aquela receita encalhada na gaveta, sei lá.

Palpites para tudo. Passem os números para eu apostar na Loto 6, pois quem sabe eu ganho sozinha aquele prêmio acumulado, porque gente para dar pitaco na vida alheia, existem aos montes, mas para dar palpite de números para Loto 6 ou Loto 7, Numbers, ou qualquer loteria... Ainda se fosse conselho construtivo, que ao menos iluminasse as idéias apagadas dessa gente, tudo bem, mas nãããão... Pior ainda quando essa gente quer ser moralista, como mencionei no tópico anterior. O companheiro enche a mulher de porrada e essa gente quer que a coitada perdoe o cara porque família tem que ser unida, essa romantização toda?! Pra falar a verdade, nem o mais meloso dos shoujo manga que já li chega a final feliz. A maioria dos comentários sobre depoimentos de mães solteiras cujo parceiro sumiu do mapa e mulheres que sofrem de infidelidade e DV, são de... mulheres, mesmo! Ao invés de procurarem se unir para ajudar (no caso de mães solteiras, procurar ajuda jurídica para conseguir pensão alimentícia, beneficios nacionais e trabalho alternativo; e no caso de DV, ajuda jurídica, proteção e sigilo no caso de conseguir um outro emprego e mudança de vida), ficam romantizando a situação achando que vai ter um final feliz digno de contos de fada. Acho que nem os contos de fada tiveram um final feliz como nos filmes...

Se não conhece o número, nem retorne!!! Algo que cansei de falar para quase todo mundo onde eu trabalhei. Era gente reclamando horrores que veio uma cobrança absurda na fatura do telefone. Aí a gente vai fazer um teste, e a pessoa retornou a ligação para aquelas empresas clandestinas que extorquem dinheiro via telefone. Isso vem desde que eu cheguei no Japão, em 1998, e chamávamos de one-giri denwa, ou seja, o indivíduo ligava e dava um toque de chamada e desligava, deixando o número no display do celular. Aí o usuário vê e acaba retornando, só que atende no mudo. Essas empresas pegam os números tudo no aleatório mesmo. Por um bom tempo, esse golpe tinha parado, ao menos eu não ouvia comentários da comunidade sobre isso. O que acontecia mais, principalmente entre as idosas japonesas, era o golpe do "ore ore", que era um cara que ligava para alguém, e quando atendia, ele dizia que estava em apuros e precisava de dinheiro. Quando era uma idosa, solitária, ela perguntava quem era, do outro lado da linha, dizia "ore ore" ("ore", em japonês, é a forma coloquial que os rapazes dizem "sou eu", mas para muitas famílias, seria um pronome mais pessoal). Aí a idosa ficava assustada, preocupada, que o filho que mora longe estaria necessitado, acabava depositando o dinheiro numa conta que ele passava, dizendo que era de um médico ou advogado, mas na verdade, era uma conta falsa. Embora atualmente não estão havendo tantos casos assim, a companhia telefônica NTT chegou a fazer um CM sobre como evitar esses golpes.

Só que, recentemente, esse golpe do one-giri denwa voltou na comunidade. Li inúmeras postagens de pessoas - especialmente mulheres - reclamando sobre a conta do celular e dizendo que recebeu ligação de um número compriiiiiiido demais e acabou retornando, para saber quem foi que ligou. Aí recebe a conta do telefone, e ficam reclamando, porque infelizmente, nem as companhias telefônicas têm como ressarcir, porque vai alegar que, no momento que você fez a ligação... Prevalece aí o bom-senso: se não conhece o número, não retorne. Mesmo se achar que é amante do conjuge, alguém do Brasil, que seja. Se a pessoa estiver interessada, que ligue de novo e deixe recado, afinal, tem secretária eletrônica pra quê mesmo?

O mesmo vale para o SMS (short message service), que recebemos através de um outro número de celular - de uns tempinhos para cá, muita gente aqui andou recebendo SMS de empresas conhecidas, como Yamato Takkyuubin (aka Kuroneko), Sagawa (outra empresa de entregas expressas), Yahoo! e amazon, dizendo que tem um recado para você e retorne no número tal. Atenção!!! Nenhuma empresa envia SMS avisando que você tem encomenda para receber. As empresas de entregas expressas nem telefonam, imaginem enviar SMS. Yahoo! desconheço os serviços deles, e o amazon envia e-mail no seu e-mail cadastrado na empresa. Aliás, se receber SMS de qualquer empresa, pode deletar, ainda mais que você tem a plena certeza absoluta que não pediu nada desses lugares.

Bem, esses foram alguns exemplos que andei coletando, mas existem muitos. Alguns chegam a ser de utilidade pública (como dúvidas de licença-saúde, seguro e maternidade), mas boa parte beiram ao absurdo, ao ponto de chorar, pedindo para que a Terra exploda e comece tudo de novo. Bem, não cheguemos a esse ponto, mas os erros de português são tantos, que até eu fico na dúvida se é problema na hora de digitar, o corretor é uma desgraça, ou se detesta a língua portuguesa... Mas se eu postar o tanto de postagem que andei lendo, ficaremos até amanhã e não teria mais fim.

Como eu adverti no início da postagem: a intenção desta postagem, é alertar e (tentar) abrir os olhos de muita gente que mora no exterior, principalmente. Não é intenção humilhar, ridicularizar, difamar, ou qualquer coisa semelhante, mas é tentar ao menos dar uma luz para muita gente, que, por motivos de diferenças sócio-culturais, acabam tendo inúmeras decepções e também manchando (muito mais) a imagem do povo brasileiro no Exterior. Existem pessoas muito boas em qualquer lugar do mundo, mas também sempre existem pessoas de má índole, em que fazer o mal para outros, seria um prazer para elas.

Não vamos generalizar, pois existem muitas exceções, e a maioria são voltadas para o bem. Por que nós mesmos não espelhemos esse lado bom para, ao menos, tentar melhorar nossa imagem que anda tão queimada, que ter alguma esperança, será com grande esforço.

Nota: tomei base em várias situações do cotidiano, na minha experiência em diversos setores de trabalho, e em depoimentos nas redes sociais que frequento. Não mencionarei os grupos nem as pessoas, por motivos óbvios.

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