O Quê Colocar numa Mala

A finalidade desta postagem é para ver se algumas (pra não dizer muitas) pessoas tentem entender o que a gente, que mora muito mais tempo do que se imagina no exterior.



Eu não sei se eu que andei tão alheia com a comunidade brasileira aqui no Japão, ou eu que tenho um pensamento completamente diferente da maioria, não sei, mas ultimamente ando lendo (e às vezes ouvindo histórias) umas coisas tão absurdas que todas as vezes eu tenho que fechar os olhos e parar para mentalizar que eu não estou lendo/ouvindo isso, só pode ser pesadelo, alucinação ou foi aquela fatia de bolo que não comi na encarnação passada.

Um dos assuntos mais comuns, é a clássica pergunta de quem está pensando em se aventurar no exterior (no caso, Japão):

Sobre "o quê colocar na mala".

Exatamente. Eu entendo que é uma dúvida que eu tenho até hoje quando vou fazer uma viagem de uma pernoite em dois dias (chego a colocar item que nem chego a usar), imagine para pessoas que vem para cá para ficar por tempo indeterminado.

Quando eu vim parar aqui pela primeira vez, em 1998, a companhia aérea que eu vim, permitia duas malas de 32 quilos cada, e a mala de mão tinha que pesar no máximo 10 quilos. Bem, como minha intenção era ficar dois anos (cof cof cof), trouxe uma mala que pesou 32 quilos, uma menor que pesou 15 quilos e a mala de mão que nem chegou a pesar 7 quilos (eu acho). Se abrissem minha mala, iriam encontrar uma lata de achocolatado, de leite em pó, de café solúvel, dez pacotes de biscoito (Passatempo), uns três livros, roupas e sapatos. Ok, tinha uma manta e um travesseiro também. 

Eu sei que vinte e tantos anos atrás, tinha gente que trazia panela de pressão (item que era difícil de achar aqui, e quando achava era muito caro) e no máximo, forma de pudim (porque as formas de assar bolos não cabem nos fornos daqui). Mas a maioria colocava muita roupa na mala, pois quem veio com passagem financiada, por seis meses ou mais, nem pensar em comprar roupa nova. No máximo era permitido comprar roupa de inverno, pois as do Brasil mal aquecem, sério. Isso era até onde eu sabia, já que onde eu morei, a quantidade de brasileiros na cidade, dava para contar.

Vinte anos depois, eu deparo com gente perguntando "o que devo colocar na mala", e as respostas, bem, pelo meu ponto de vista, tenho vontade de chorar. A maioria pede pra colocar batedeira, liquidificador, forno microondas, panela de pressão, TV... Acho que seria mais fácil pesquisar um serviço de entregas pro exterior e fazer a mudança completa, isso se acharem que vai ficar no exterior mais do que cinco anos.

E quando pessoas com noção, mente normal e parafusos no lugar dizem que trazer eletrodomésticos pro Japão (ou pra qualquer lugar no Exterior) ...

... vai pesar e fazer volume na mala e não vai conseguir colocar o que realmente precisa: lembrando que atualmente as companhias aéreas estão padronizando o limite de peso e dimensão das malas de despacho e acompanhada (duas malas de 23 quilos e uma de 8 quilos, respectivamente), colocar eletrodomésticos como batedeira, liquidificador, processador de alimentos, forno microondas, prancha pra alisar cabelo, ferro de passar roupa, vai fazer um peso enorme e mal vai conseguir trazer o que realmente precisa. Mesmo se vierem com a família toda e distribuir o peso. Mesmo porque um liquidificador pesa quase quatro quilos.

... a voltagem é completamente diferente, sem falar do tipo de tomada: O mesmo vale quando leva algum aparelho eletroeletrônico daqui. Experiência própria e do namorido: quando ele retornou em 1993, levou a mudança. Até hoje, o aparelho de som e o combo rádio-cassete-CD têm que usar adaptador para não queimar quando cai a energia na casa. E quando eu retornei em 2017, tive que pedir emprestado um adaptador de tomada pro meu irmão porque as tomadas do Brasil não serviam para conectar meu carregador de celular. Então, se quiser arriscar a trazer sua batedeira planetária último modelo, top de linha, tudo bem. Mas avisamos que vai ter vida curta por causa da voltagem. E não esquecer de trazer um adaptador para tomada, porque cada país, varia. Quem viaja muito pro exterior já deve ter passado por isso.

... não precisa, porque é possível comprar tudo aqui, na voltagem e tomada certas: eu sei que muitas vão reclamar horrores que batedeira aqui é de mão, copo de liquidificador tem capacidade duas vezes menor que o do Brasil, não sabe usar forno microondas daqui... Sugerimos pesquisar na internet sites e empresas daqui, que existem outras opções, pode até encomendar e sai mais barato. Ao invés desse pessoal usar a internet para ficar procurando fofoca, fake news e combustível pra intriga, aprenda a pesquisar produtos que economizarão no seu bolso.

Sugerimos que venda os aparelhos comprados no Brasil nem que seja pela metade do valor pago, ao menos vai ter uma graninha extra para manter. E outra: quando resolverem retornar, a probabilidade de terem lançado modelos melhores será grande que, aquele aparelho que você comprou antes de viajar, ficou obsoleto.

Ah, sim. A famigerada panela de pressão. Aconselhamos comprar aqui mesmo, é bem mais barato, e no caso de alguma peça quebrar (como a borracha que veda a tampa e a válvula, por exemplo), fica mais fácil achar, já que no manual do usuário, tem o telefone da assistência e do fabricante. Quer arriscar trazer na mala, tudo bem, mas pensaram no trabalho de encontrar a peça que quebrar? Nem toda loja brasileira no exterior possui. 

... mais vantajoso trazer o notebook e desbloquear o celular para usar no exterior: Mesmo porque ambos podem trazer na mala de mão, na bolsa, e ninguém vai encher o saco. E quem tiver celular, antes de viajar pro Exterior, pergunte na sua operadora se tem como desbloquear. Assim que chegar no país, no aeroporto já existem lojas que vendem/alugam somente o SIM Card, essencial ao menos para acessar a internet, já que a função principal do aparelho, que seria fazer ligações, ficou no último plano. O mesmo vale pelo notebook, se encontrar um lugar com wi-fi sem senha, dá pra quebrar o galho por uns anos.

Quando passei férias no Brasil, levei o celular e o notebook (que namorido usou mais tempo do que eu), mas como meu aparelho não tinha como desbloquear, dependia muito de wi-fi, ou seja, pra marcar encontro comigo, tinha que avisar um dia de antecedência. Mesmo assim, deu pra quebrar muito o galho, mesmo tendo que usar adaptador de tomada dos outros.

A gente avisa, explica os motivos, porque já passamos por tudo isso, e dá pra fazer um bolo usando batedeira de mão, liquidificador com copo de menos de um litro e panela de pressão barata, mas segura. E assar qualquer coisa num forno microondas, a gente aprende na tentativa e erro. Agora, se mesmo assim quiserem insistir em trazer, mesmo sabendo que vai pesar, vai faltar espaço na mala para colocar o que realmente precisa, vai ter problema no formato da tomada, vai ter vida muito curta por causa da voltagem, o problema não será meu e depois não adianta chorar pelo aparelho queimado.


E também aqui podemos encontrar bons produtos a precinhos razoáveis mesmo sendo de estações passadas, desde máquina de lavar que já seca a roupa até forno microondas que além de amassar, deixar crescer, assa pães.

Imagem: Hitachi Kaden Co.

ATUALIZANDO (20.Outubro.2019): Caso tiver a plena certeza de quer enfiar uma TV tela plana que ganhou/comprou novinha em folha na mala, o risco é seu - a companhia aérea não se responsabilizará em caso o que estiver dentro estiver danificado (todo mundo sabe que os funcionários que se encarregam de colocar as malas na esteira tanto no embarque como no desembarque nos aeroportos, tratam com o devido carinho e cuidado com elas - sqn), e como TODAS as malas passam no raio-x, a probabilidade de abrirem sua mala é grande, e se não declarar, então...

Se ela chegar rachada, esqueça o conserto, porque a garantia só é válida para o país onde comprou. E se for jogar fora, não é botar no saco do lixo ou no meio da rua pra levarem embora - tem que entrar em contato com a prefeitura para saber onde tem que levar ou algum responsável ir buscar na sua casa, e pagar uma taxa para desfazer. Dependendo do tamanho, pode custar cerca de 4 mil ienes.

Mesmo assim, caso sua TV chegou intacta, prepare-se para a surpresa - as TVs daqui do Japão são acompanhadas de um cartão para que o sistema digital funcione, o B-CAS. Sem ele, a TV vai servir mais para assistir vídeos ou usar como telão pra videogame. Fora que o sistema de transmissão é diferente. Não é porque a TV comprada no Brasil é de marca japonesa que vai funcionar aqui. Cada país tem seu sistema interno diferente, e se bobear, até as placas são diferentes também.

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