[Discoteca Básica do Empório] Paul McCartney - "Pure McCartney" (2016)



Falar de Paul McCartney é muito chover no molhado, pois o moçoilo acabou de completar 76 anos no dia 18 de junho e vai muito bem, obrigado. Sem falar que, sim, ele está vivo e já deixou um álbum no forno pra ser lançado em setembro ("Egypt Station"), sem antes ter postado algumas imagens estranhas no seu Instagram o que levou muita gente achar que Paul tinha entrado numa seita e por aí vai - mas eram imagens das capas do seu duplo single - "I Don't Know"/"Come On To Me" (aqueles que faz quatro anos que não lança nada novo e quando resolve, já manda tudo de uma vez).

Em 2016, ainda colhendo o sucesso que teve em seu álbum "NEW", resolveu lançar sua quarta coletânea, mas esta seria contendo músicas de álbuns experimentais, b-sides e nada de covers. Como o título diz, seria o conceito de "puro", que mostra toda a carreira do músico pós-Beatles.



Apesar que não contém músicas dos álbuns "CHOBA B CCCP" (que foi gravado ao vivo em Moscou), "Flowers in the Dirt" (foi o que fez Paul voltar a fazer turnês nos anos 90), "Run Devil Run" (álbum de covers de rock obscuros, por favor ninguém confunda com um de um grupo coreano ou achando que Paul plagiou eles, porque o álbum é de 1999) e "Driving Rain" (tido pra muitos um dos mais fracos da carreira do ex-Beatle), "Pure McCartney" traz músicas de muitas fases dele, desde a primeira música solo ("Another Day"), da época que liderou sua banda Wings ("Jet", "Band on the Run"), após 1980 ("Coming Up", "Here Today"), sob pseudônimo como The Fireman ("Sing the Changes") e as recentes ("New", "Save Us", "My Valentine", "Hope for the Future").

Se fosse adquirir, recomendo mais o Deluxe Edition, que são quatro CDs e seria mais completo, mas ainda ficaria com um gosto de "quero mais" (e também aqueles comentários de sempre, como "faltou tal música", "essa nem faz falta", e aí vai), mas sabe como é coletânea - não dá pra agradar todo mundo, mas se for assim, melhor comprar todos os álbuns, de preferência aqueles que têm os bonus track.

São 67 músicas desde 1970 até 2016 (ano que o álbum foi lançado), que dá pra ter a noção de que como McCartney manteve sua criatividade após o fim dos Beatles. Manteve a mesma qualidade apesar de seus altos e baixos, perdas familiares, conflitos judiciais. Mas soube dar a volta por cima, sabe fazer militância sem alarde (ele é vegetariano, mas ele não fica falando pra todo mundo parar de comer carne - ele faz parte da campanha "Meat Free Monday", que conscientiza a população de que ficar um dia sem comer carne pode ajudar na preservação do meio ambiente), não usa seus shows pra ficar panfletando. Pode ser que tenha feito isso no passado, mas pelo menos nos shows que fui no Tokyo Dome ("Out There" e "One On One"), o negócio do Paul era entreter a platéia com músicas novas, antigas e nem tanto assim.

Sobre o álbum: pra quem não conhece quase nada do Paul, melhor começar com essa coletânea, pois como eu mencionei, cobre todas as fases dele. Ainda mais que foi o próprio quem selecionou, como se fizesse uma playlist para tocar quando quiser, na ordem que mais convém - afinal, as músicas nem na ordem cronológica estão (como se tivesse posto no shuffle mode pra tocar). Daí dá pra perceber que, apesar do Paul arriscar bem em outros estilos musicais e instrumentações, ele não deixa a peteca cair.

Músicas que não podem faltar nem na set list da turnê do Paul [senão o pessoal não deixa ele terminar o show], eram óbvias, como "Jet", "Band on the Run", "Live and Let Die", as baladas "My Love", "Silly Love Songs". Mas traz várias que raramente eram tocadas mesmo na época que foram lançadas, como "With a Little Luck", "Beautiful Night", "Nineteen Hundred and Eighty Five", "Wanderlust", "Junk". As recentes "Save Us", "Appreciate", "New", "Hope for the Future", dedicadas às esposas "Maybe I'm Amazed" e "My Valentine", aos amigos "Here Today" e "Little Willow".






Muitas delas existem histórias que levaram Paul a compô-las, que ele já havia contado em algumas entrevistas (na época em que ele lançou "Flaming Pie"e o documentário "The McCartney Years", de 2007, por exemplo), fora algumas "lendas urbanas" que os fãs costumam fazer (e a gente acaba achando que é verdade).

- "Maybe I'm Amazed" ele dedicou à primeira esposa Linda, que o apoiou fortemente depois que os Beatles terminaram;
- "My Valentine", do álbum "Kisses on the Bottom", é para a atual esposa Nancy;
- "Here Today" e "The Song We Were Singing" eram para John Lennon;
- "Little Willow", embora não mencione explicitamente na nota do álbum "Flaming Pie", eram para os filhos do Ringo Starr, cuja primeira esposa havia falecido;
- "Let 'em in", cuja introdução usa as primeiras oito notas de Westminster Quarters (muita gente já ouviu/ouve todo dia), as pessoas mencionadas eram da família (Tia Gin, o irmão Michael e o cunhado John), os Everly Brothers e Martin Luther King;
- "Another Day", foi a primeira música que Paul lançou após o fim do grupo;
- "Mull of Kintyre" é sobre uma das propriedades que Paul possui na Escócia, onde já passou muitos anos lá;
- "Flaming Pie" é sobre uma das histórias que John Lennon costumava contar sobre a origem dos Beatles - "veio um homem numa torta flamejante e nos disse 'a partir de agora vocês se chamarão Beatles com A'";
- "No More Lonely Nights" possui duas versões - a segunda seria a "playout version", que seria mais dançante. A que está no álbum é a original, que é mais melódica e termina com um belo solo de guitarra de David Gilmour;
- "Hi, Hi, Hi", que saiu só em single, foi proibida de ser executada em rádios por conteúdo sexual (a frase "get you ready for my body gun", mas Paul disse que originalmente era "for my polygon", mas não adiantou muito...);
- "Silly Love Songs" foi meio que uma resposta de Paul para muita gente que o criticava por ele compôr baladas, músicas bobas e sem valor algum. "E o que tem de errado?", é a pergunta que ele deixa no fim da música.
- O baterista Ringo Starr contribuiu em vários álbuns de McCartney, como "Tug of War", "Pipes of Peace", "Give My Regards for Broad Street", "Flaming Pie". Na coletânea, ele contribui em "Wanderlust" e "Beautiful Night".
- The Fireman era uma dupla de pop experimental que consistia de McCartney e o produtor Youth (o baixista Martin Glover, da banda Killing Joke), que gerou três álbuns. "Sing the Changes" era do último álbum, "Electric Arguments".
- O útimo álbum de estúdio, "New", teve quatro produtores diferentes, entre eles Giles Martin (filho do produtor George Martin) e Mark Ronson (produtor da cantora Amy Winehouse).
- "Kisses on the Bottom" (2012), trouxe apenas duas composições de Paul - "My Valentine" e "Only Our Hearts". E foi quinto lugar na categoria jazz. Traz colaborações de artistas como Diana Krall (piano), Eric Clapton (guitarra) e Stevie Wonder (harmônica).
- "Memory Almost Full" (2008), foi o primeiro álbum de Paul com a nova gravadora, que era parceria com a rede Starbucks. Houve fãs que o título do álbum seria um anagrama de "My Soulmate LLM" (LLM seriam as iniciais do nome da primeira esposa de Paul, Linda Louise McCartney), mas Paul disse que não foi intencional, disse que a frase veio no seu aparelho celular.



Apesar de uma música ou outra não ter tido a necessidade de ser incluida na coletânea, ou faltou alguma - o que é normal nisso tudo -, o álbum vale o investimento, mesmo sendo a edição deluxe, que a gente sempre acha que tem algo mais.

Mas no caso do Paul, a gente sempre fica com aquele gosto de "quero mais", mesmo ele estar com 76 anos, e lançando esporadicamente álbuns, mas quando lança, traz agradáveis surpresas.



Fonte: wikipedia (em inglês), paulmccartney.com 

Fotos: MPL International.

Comments