[Dia de Jishuku] O Quê fiz (e ainda faço) para não Desanimar

Até o presente momento, acho que poderia dizer que esta semana seria a última que fico em casa e, talvez dia 18 volto às atividades mais ou menos normais no trabalho fixo. Isso se não houver alteração como tive nos dias 30 de abril e 8 de maio... (mas parece que não, ainda mais que dia 14 vão decidir se 3/4 das províncias sairão antes do prazo do Estado de Emergência, que tem data final no dia 31 de maio, mas tudo pode acontecer nos 45 do segundo tempo)

Daí muita gente andou me perguntando o quê andei fazendo para não morrer de tédio, porque muita gente "de fora" (e "de dentro" também) tem aquela visão de que todo (generalizando total) dekasegi não faz outra coisa a não ser "casa-trabalho-casa-e-dormir-o-dia-todo-nos-finais-de-semana".

Talvez eu seja uma das poucas pessoas que foge (e muito) dessa linha de pensamento dessa gente e acabo "chocando" a sociedade dekasegi. Pra essa gente querer me internar num hospício, é um pulo. Mas não ligo pra essas coisas, não. Já me conformei com a idéia de que "cada um faz da sua vida o que quiser, desde que não interfiram na minha e eu não interferir na dos outros", e, se eu estou postando o quê andei fazendo (ou não) durante todo esse tempo, é mais pra tentar expressar o que sinto. Ou tentar responder as algumas perguntas que já me fizeram nos SNS, ou tentar fazer parte da "privilegiada minoria dos quem moram no estrangeiro e consegue sair da rotina mecanizada" (se comparar com muita gente por aí, pode até ser, sei lá).

Na verdade, eu não faço tanta coisa que possa ser algo deslumbrante ou maravilhoso. O que normalmente faço, acho que desde que estudava no Magistério e depois na Faculdade, é ler algum livro (ou mangá), escrever algo, estudar (ainda mais que leio muita revista em japonês, eu exercitar a leitura de kanji, gramática e vocabulário...), assistir aos programas de variedades e/ou dorama da temporada (ou da passada, ou de anos atrás), ouvir música, fazer algum trabalho manual (como crochê, tricô e bordado). E o que tenho que fazer em casa, como tirar o pó, lavar roupa (ok, a máquina cuida do serviço pesado, o trabalho que tenho é colocar a roupa na máquina, dosar o sabão e amaciante, programar, retirar e estender no varal), cozinhar algo pro almoço ou jantar. 

Aí sempre vai ter um chato que vai jogar na minha cara "você consegue fazer isso porque não tem filhos, queria ver só se você iria conseguir fazer tudo isso com criança em casa". Bem, como não tenho, nem tenho como imaginar como seria minha vida com filhos. Mesmo porque tinha chegado numa fase da minha vida que concluí que maternidade estava definitivamente riscada na minha vida, mesmo porque nunca foi nosso sonho ter filhos e nunca idealizamos isso. E que ninguém venha me condenando por isso, porque respeito pessoas que têm filhos (e admiro muito aquelas pessoas que conseguem conciliar tudo com eles, mesmo sendo mães solo) e respeito aquelas que, assim como eu, optaram por não tê-los por inúmeros motivos.

Mas o quê você faz para não desanimar em situações como essa, por exemplo?

Eu tive que tirar vantagem disso tudo. Ia ter muito tempo sobrando? Não vou negar, tive e muito. E aproveitei para dar nó em algumas coisas que procrastinei. Mesmo nem ter feito tudo o que planejei, acabei pondo na lista "coisas que ainda vou fazer". Tive sim, uma lista de "coisas que odeio fazer mas tenho que fazer" e outra "coisas que quero fazer mas não consigo". Aos poucos, mesmo antes de entrar nessas férias, eu fui eliminando itens das duas listas mencionadas e acabei criando uma mais motivacional, que seriam "coisas que ainda vou fazer". Eu estou [tentando] ser positiva, acima de tudo.


Talvez por eu pensar no lado positivo das coisas é o que está me fazendo animar para fazer determinadas coisas que antes nem passava na minha mente para fazê-las. O detalhe agora, seria não deixar a peteca cair mesmo depois que eu voltar à minha rotina "normal-para-muitos-dekasegi-aqui", ou seja, organizar meus horários livres e meus finais de semana. Se bem que, no final do ano passado, uns dos itens na minha lista de resoluções de 2020, era "fazer curso profissionalizante", já que em dezembro de 2019 fui em uma feira da educação em Nagoya, e me inscrevi em um seminário de design. Resultado: comecei a frequentar as aulas que, no momento estão suspensas, e acredito que logo que sairmos desta pausa, pelo menos um mês teremos aulas intensivas aos sábados. Outro item que faz parte da minha lista desde sei lá quando, é levar muito mais à sério nos estudos da língua japonesa. Como eu disse, o café da sereia que fica no caminho de volta pra casa deve ter lucrado às minhas custas, pois foi dessa forma que consegui obter o N3 na prova de proeficiência ano passado. Mesmo ela estando fechada temporariamente, descobri nestas férias que, se eu ficar na sala de jantar, eu consigo pensar melhor do que no quarto onde fica meus materiais de estudo e hobbies. Já pego uma garrafa de chá, deixo um bloco de anotações, lápis e borracha, sento diante do notebook e vou eu postando algo, ou estudando via on line ou traduzindo produtos para o projeto que desde o ano passado estamos tentando sair do papel.

Oras, a gente tem que se concentrar num lugar onde a gente se sinta bem. Se tem compositor ou escritor que, para ter sossego, escreve até dentro do banheiro...

(Música ambiente também ajuda para relaxar, ainda bem que as amigas de Instagram sugeriram o canal do YT do Chilled Cow, que traz músicas instrumentais em batida hip-hop mas bem relaxantes - estilo lofi radio - para animar para quem estuda e quer esquecer o resto dos problemas, porque numa altura do campeonato dessas, tem que ser algo bem calmo mesmo.)

Um dos motivos que voltei ao hábito de ter um bloco de papel e lápis à mão, especialmente quando estou fazendo traduções, é para não esquecer, especialmente quando aquela mesma palavra ou frase aparece novamente e você já tem ela anotada. Além de passar no papel as idéias que você teve naquele momento e registra para algum evento posterior. Isso acontece muito onde eu trabalho - surge a idéia de postar algo interessante no Empório e não anotava nada no papel. Chegava em casa, sentava diante do notebook, e... bloqueio criativo!!! Minha sorte é que, onde eu trabalho, eu posso deixar um bloquinho para anotar detalhes do trabalho, então, quando surgia um fio de inspiração, anotava no papel. E ninguém fala nada, porque ainda bem que meu trabalho não exige tempo e sim, paciência e atenção.

Essa tática nunca foi novidade para ninguém, muita gente tem o costume de anotar alguma coisa para não esquecer depois, mesmo em tempos de uso de smartphone, tablets, notebooks. Estava lendo recentemente na revista Nikkei Woman, o hábito de anotar qualquer coisa no papel (tem gente que anota no iPad, tudo bem) faz com que exercitemos a mente, tenhamos mais produtividade, e ter foco no planejamento. Eu tenho mais o hábito de anotar o que tenho que fazer, o que vou fazer e qual a finalidade. Até mesmo lista de compra (mesmo sabendo que alguns itens saem fora do foco).

Uma das coisas que na verdade não deveria fazer, mas acabo na maioria das vezes fazendo, é anotar algumas coisas enquanto assisto a algum programa de variedades ou mesmo dorama. Um assunto interessante ou palavras desconhecidas (já que assisto usando close-caption). Mas também depende do contexto ou tema. Já me peguei assistindo, por exemplo, o Keimin Show (sobre particularidades das províncias) e estar anotando o que a província traz de melhor (ou pior). O bom é que aprendo vocabulário novo.

Mas também é OK você ter aqueles dias em que você quer desacelerar e se desligar, porque ninguém é de ferro, e ninguém está participando de alguma competição. Volto a falar: nesse isolamento social, estado de emergência, período de jishuku, seja como for, ninguém é obrigado a ler 200 livros no dia ou maratonar séries 24 horas por dia só pra mostrar pra todo mundo que "olha, tô aproveitando o tempo". Pra mim, sinceramente, nunca funcionou. Ler livro por obrigação, já bastou os anos de escola e no vestibular, que tinha aquela lista de livros que você tinha vontade de passar adiante ou nem lia (e sempre caía na prova), aí você passava a ter raiva de ler certo livro que poderia ser bom, se não fosse a obrigatoriedade. Ou assistir aquela série porque todo mundo fala que é bom, "você tem que assistir senão seria desonra bla bla bla". 

Agora dá pra entender um pouco por que eu não assisti os hipermegaultra comentados em todo o fandom de j-doramas "Hana Yori Dango" e "1 Litro de Lágrimas"? (e nem tenho interesse, me deixa) Foi de tanto essa gente me torrar o saco, mencionar toda hora, colocar sempre na lista, primeiro nome que vêm à mente, que aí peguei raiva e não assisti mesmo. (E, por favor, não me façam a não gostar de "My Boss, My Hero", que eu gostei mas todo mundo só menciona esse quando falam do Nagase).

Voltando...

Eu ainda tenho esse tipo de vida faz muito tempo, mesmo sendo em dois, um respeita o espaço do outro. Se eu estou estudando ou traduzindo, eu quero sossego e, para isso, necessito da colaboração da minha outra metade. Assim como respeito o dele. Quando eu ia nas cafeterias para ter mais sossego ainda, não é porque briguei, essas coisas que muita gente leva pelo lado ruim da coisa, é hábito desde meus tempos de faculdade - comprava um pingado (café com leite) e matava o tempo ocioso na biblioteca, já que tinha cabine individual.

Cada um faz da vida o que acha conveniente, né. Se tiver gente reclamando de que não fez nada o dia todo, ou faltou tempo para fazer tudo, vai de cada pessoa. O bom seria ignorar esse tipo de comentário, levantar a cabeça e cuidar da própria vida. Quem vai julgar o que você fez ou você deixou de fazer, vai ser você mesmo usando sua autoavaliação. Ou como diriam aqui - jishuku, que seria para você pensar e julgar a si mesmo se vale ou não a pena.

Imagem: creditado na imagem, via Instagram.


Comments

  1. Hoe, Kiyomi-chan! Tudo bem? :)

    Meodeos, que chatice o pessoal julgar a forma com a qual você aproveita seu tempo! Na verdade, até entendo que haja muita pressão em volta, sem a gente dizer nada, só com as pessoas expondo as suas respectivas formas de lidar com o isolamento, mas poxa: vai ganhar o que implicando com isso, né? Haha!

    Gosto também de ter um bloquinho de papel comigo, ajuda demais porque dou muita brisada nas atividades mais aleatórias, geralmente lavando a louça e tomando banho! Algumas ideias dos stories do podcast, inclusive, brotaram diante de belas louças ensaboadas, haha! Não consigo brisar com TV, contudo, e essa investigada por vocabulário acaba ocorrendo enquanto leio mangá (*cof* BL *cof*), tanto em inglês, quanto em japonês.

    By the way, a sua formação é como professora, Kiyomi-chan? Juro que não sabia, mas faz super sentido, ainda mais porque, a meu ver, você é super disciplinada com os estudos! ♥

    Por fim, é isso, né? Você está no caminho mais que certíssimo de não ligar para julgamentos. Como diria Jair Rodrigues, "deixa que digam, que pensem, que falem"... Quem vai viver a sua vida é você ♥

    Beijos~

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    1. Ohe, Karupin!!! Aqui estamos tudo bem, aos poucos voltando a normalidade. Pra falar a verdade, logo depois que subi a postagem, o pessoal do escritório telefona pra mim avisando que por motivos da ordem da matriz (que fica em Tóquio...), voltaremos às programações normais dia 1o. de junho! Até lá, ainda ficar em casa e sair quando precisar, embora a província onde moro, saiu do estado de emergência... com restrições, claro.

      Sério, talvez por eu fazer parte dos "dekasegi fora dos padrões estipulados pela comunidade", muita gente de fora critica, mas nada fazem para ajudar a si mesmo. Assim não dá, por isso meu lado antissocial fala mais alto nessas horas. Parece que essa gente tem prazer em implicar aquelas que estão cuidando da própria vida, eu, hein!

      Sim, sou formada em Magistério (eu não cursei o Colegial ou o Ensino Médio porque na época era noturno e já estava matriculada no Curso Técnico em Administração hahaha), cheguei a exercer a profissão por três anos ao mesmo tempo que instalava placas-mãe de computadores, mas resolvi vir pro Japão e... Mas minha disciplina (hahaha) vem de família mesmo, pois ter pais que foram comerciantes, tinha que aprender muita coisa nisso XDD

      A tática do bloquinho de papel para anotar as coisas vem desde que ajudava meus pais no comércio, que vinham os fregueses e pediam para fazer a lista de compras e depois enviar para eles. Aí, na escola, a gente anotava as explicações numa folha, mesmo com pressa, para tentar entender o que era mesmo?

      Lendo mangá também está me ajudando a melhorar o vocabulário, ainda mais quando você pega uns que não tem furigana. Por isso que tenho um dicionário de kanji ao lado para procurar o dito cujo sem tirar o foco da história XD (ainda mais BL, ops).

      Mas vou eu vivendo a vida como eu acho melhor, afinal, como você mesma disse, quem tem que viver a vida sou eu mesma ^^

      Beijao!!!

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