Quando Outros Fatores Interferem nos Nossos Planos

... e a gente faz de tudo e mais um pouco para colocar tudo nos eixos.

Por mais que digam para mim que eu tenho que fazer planejamento para tudo, inclusive para fazer compras no supermercado sob o risco de comprar em excesso e esquecer do principal, muitas vezes que planejei alguma coisa, aconteceram muitos imprevistos (este ano, então, melhor nem falar nada e nem planejar algo a longo prazo), e para refazer tudo, tive que ter uma dose de paciência redobrada.

Daí acompanho alguns sites sobre trabalho, carreira e cotidiano, a maioria aconselha fazer um curso, abrir mão de tudo, jogar tudo pro alto e mudar de tudo, inclusive de país. Falando, parece ser fácil, mas na prática, tem uma série de obstáculos que faria a maioria dos jogos de RPG que meu irmão jogava parecer coisa de amador. 

(Lembrando que não quero que ninguém desista de seus sonhos, de seus planos, mas que nada é fácil nessa vida, até mesmo tentar ganhar sozinho no Takarakuji de final de ano. Temos que ser persistentes não importando o quão duro seja.)

Passei por muitas fases que chegava ao ponto de chutar o pau da barraca e desistir, mas aprendi que muitas coisas não se realizam da noite pro dia. Porém, alguns fatores me fizeram mudar completamente de planos. Um deles era passar um mês de férias no Brasil depois que terminassem os Jogos Olímpicos. 

Aí veio essa pandemia, e acabei adiando para o ano que vem.

Outro caso que até hoje estou me esforçando ao máximo em tentar aprender (mas é complicado) é voltar a estudar a língua japonesa para negócios, mais conhecido como keigo, ou linguagem muito mais formal. Estava estudando em caráter excepcional na Sophia University em Tóquio, a grade "Business Japanese 1", uma vez por semana, à noite. Na época que fiz a inscrição, teoricamente eram 13 semanas de duas horas de aula cada, e como eu tinha folga durante o dia da semana, consegui convencer no local de trabalho para deixarem eu folgar especialmente em tal dia de semana por causa do curso. Estava tudo bem, até que dois fatores estragaram meus planos: 1) como o curso era voltado para estrangeiros, e quantidade bem limitada, o que prejudicou o rendimento da aula, foram alguns alunos que começavam a contar vantagem do trabalho que faziam e com isso a professora tinha que voltar muitas vezes a aula para não perder o fio da meada, e 2) um grupo de senhoras de outra nacionalidade foram em peso no escritório que tinha me empregado para reclamar porque eu só folgava naquele dia, mesmo sabendo que eu tinha que ter um dia para estudar. E como alguns staff gostam daquele grupo, acataram o pedido delas e eu acabei por não fazer o segundo semestre do curso para eu poder conseguir o certificado de conclusão.

(E, também por causa dessa "panelinha", a empresa onde eu trabalhava dispensou todo mundo e transferiu funcionários que tivessem condições de mudança. Nem preciso dizer quem eles resolveram transferir, né?)

Antes que muita gente venha dizer que a gente aqui no Exterior não aproveita as oportunidades que tem para fazer, seja um curso de línguas ou até duas horas de como fazer um bolo por 500 ienes e pode levar pra casa, vou tentar ao menos me defender: nem é o cansaço de doze horas de trabalho, nem ter um monte de tarefas a fazer depois, mas o quesito tempo em todos os sentidos da palavra - quando tem o montante, os dias não coincidem e vice-versa. 

Sem contar o fator que algumas empresas não estimulam os funcionários a fazerem algum curso de especialização que pode fazer bem à empresa (ou cair fora de uma empresa que não valoriza o funcionário com alguma especialização). Se não é isso, sempre tem aquela "panelinha dos invejosos" que farão de tudo para te ver na lama. E não estou exagerando. 

Mesmo se disserem "esqueça essa gente e esses empecilhos", muitas vezes temos que ter uma paciência do tamanho sabe lá onde conseguiu. Não basta ter muita força de vontade e disposição, temos que ter alguma carta escondida na manga para enfrentar uma série de problemas.

Está certo que tenho um pouco de culpa nisso tudo, de acatar tudo e não conseguir falar "não" para algumas coisas...

Mas não é fácil, porém não é impossível. Aos poucos estou abrindo mão de algumas coisas para dar prioridade às outras (sem deixar de fazer as coisas que mais gosto), investindo em mim mesma e deixando de lado a parte inútil. E, claro, descansando na hora que precisa, no momento em que o bloqueio criativo aparece. E quando isso acontece, melhor desligar-se de tudo e recarregar as baterias, para que no dia seguinte esteja preparada e bem disposta para fazer as tarefas.

Tirando essa pandemia, aos poucos estou colocando alguns planos em prática, mesmo que os outros tenham sido adiados para o ano seguinte, porém, tenho que fazer em partes, porque tudo de uma vez só, acabo não fazendo nada. Melhor fazer um, mesmo que a passos lentos e bem feito, do que fazer vinte na pressa e sair uma droga, certo?

Muitas vezes lendo alguns relatos de pessoas que foram tentar uma nova vida em outro lugar, penso se elas não esqueceram que, para conseguir atingir seus objetivos, foi necessário enfrentar uma série de adversidades, inclusive algumas que eu enfrentei. Ou esquecem que muitas vezes nem é falta de ânimo ou de visão ou até condições financeiras que não fazemos isso ou aquilo; certo que cada um tem seu motivo para postergar os planos, mas não generalizar que é por causa da jornada de trabalho ou falta de perspectiva na vida, mas por causa de fatores internos (pessoas que trabalham com você que armam motim para te ver na sarjeta) e logística (como distância, por exemplo. Cheguei a morar num lugar onde o trem para chegar até a capital passava a cada meia hora). 

Então, minha gente, antes de nos julgarem por falta de perspectiva e outras coisas que estou esgotada de ficar lendo por aí, pensem também em outros motivos que nos levam a postergar muitas coisas e ninguém sabe.


O café da sereia (e o do ursinho também) são testemunhas de muitas horas de estudo intensivo após o expediente e nos dias de folga (antes e depois da pandemia).

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