[Discoteca Básica do Empório] Kanjani ∞ - "JAM" (2017)

Entre as janiotas (fãs de grupos da Johnny's and Associates, só que mais hardcore) e até as mais moderadas, o grupo/banda Kanjani Eight sempre vai ser comparado com os seus colegas do grupo Arashi, só que de modo depreciativo - enquanto o Arashi tinha a imagem de "bons meninos que a mãe queria pra genro", o Kanjani Eight era completamente o oposto. Já começa pelo fato do grupo todo ser de Kansai (região onde ficam as províncias de Osaka, Hyogo, Kyoto, Nara e Wakayama), falam até hoje o dialeto local, possuem postura "grosseira" e zero padrão de beleza. Mas a diferença é que o Kanjani Eight investe mais em apresentações divertidas, banda de rock e sem medo de serem originais (desde os cabelos até as roupas).


Sem contar que até hoje detém a proeza de ser o único grupo de toda a agência a conseguir fazer uma turnê compreendendo as 47 províncias do Japão (em 2007), o segundo grupo a se apresentar num festival de rock (o Tokyo Metropolitan Rock, em 2017) e ainda ter um programa dedicado a divulgar compositores e produtores musicais (KanJam Kanzennen Show, TV Asahi). E no quesito musical, o Kanjani Eight mais investiu em outros ritmos, como blues, soul music, funk, folk music, rock, ska e até arriscou um pouco em technopop. Isso porque o grupo começou com... enka!!

Formado em 2002 mas debutaram com o primeiro single "Naniwa Iroha bushi" em 2004. Até 2007, todos seus singles eram temática de Osaka (isso porque dois membros nasceram fora dessa província), e faziam sucesso mais em Kansai do que no resto do Japão todo. A virada de mesa foi a partir de "Zukkoke Otokomichi", em que foi sucesso imediato e tornou-se obrigatória em todos os shows que se prezasse.

Desde que resolveram investir como banda, o grupo dividia os shows em três partes - uma parte de dança, uma parte com skits de comédia e outra parte como banda. Houve gente que disse que o Kanjani perdeu parte de fãs quando resolveu ser mais banda, mas que ganhou novos fãs que curtiam a parte em que era banda, porque eles eram mais autênticos.


A banda era formada por You Yokoyama (percurssão e trumpete), Subaru Shibutani (guitarra e harmônica), Shingo Murakami (teclados), Ryuhei Maruyama (baixo), Shota Yasuda (guitarra), Ryo Nishikido (guitarra) e Tadayoshi Okura (bateria). E quem pensava que o grupo era só banda pra impressionar, errou feio - bastam ver as apresentações desde a tour "8 Uppers" pra ver a evolução tanto como instrumentistas como intérpretes. Claro que em um álbum e outro tem aquelas músicas meio "tapa-buraco" ou solos somente pra diversão, mas em se tratando do Kanjani Eight a gente perdoa.

O nono álbum de estúdio - "JAM" - foi lançado em junho de 2017, logo depois da apresentação no MetRock. Pelo menos oito faixas já eram conhecidas do público pois tinham saído em singles e como tema de três programas de TV. Não seria exagero dizer que "JAM" seria equivalente ao "White Album" dos Beatles - porque o álbum trazia um pouco de tudo - rock, surf music, soul music, folk, ska, hip-hop - e colaborações de artistas conhecidos como BEGIN, Gen Hoshino, Unicorn e Yoshiki Mizuno (ikimonogakari), além de composições dos próprios membros do grupo. 

"Tsumi to Natsu", faixa que abre o álbum, é bem surf music no estilo dos anos 60, com a introdução de guitarra lembrando a banda Ventures, um dos nomes da surf music instrumental. Foi o 35o. single do grupo, lançado no verão de 2016 e foi um dos poucos que não foi usado como tema de algum programa de TV, comercial ou algo similar.

"Ima", que seria lead track (música que seria usada para divulgar o álbum), foi tema do programa anual da emissora Fuji Television, o "FNS 27 Hour TV Nihon no Rekishi". Foi composta por Yoko Kanno e Akira Nise, aka Gen Hoshino (tem bem o estilo das músicas de Hoshino da época do "Yellow Dancer").

"DO NA I" (usada como tema do programa "Pekojani Eight!") lembra muito o estilo da soul music dos anos 60, com uso de metais e piano. 

"Nagurigaki BEAT" (do filme "Hamon - Futari no Yakubyougami", protagonizado por You Yokoyama e Kuranosuke Sasaki) começa com estilo lounge jazz e logo descamba para um divertido e animado ska e reggae, influenciado pela banda Tokyo Ska Paradise Orchestra - por sinal, a banda colaborou na versão 2018 de "Musekinin Hero". Nas apresentações ao vivo, Yokoyama toca trumpete na introdução e no meio da música.

"Yume e no Kaerimichi", balada folk-rock composta pelos membros da banda BEGIN, é uma das poucas vezes em que Kanjani se dá bem com esse ritmo, e de forma bem limpa - violão, órgão e harmônica (tocada por Shibutani). Excelente para amenizar a parte agitada que o grupo tem.

"Egetsunai" traz no meio da faixa um tipo de "rap battle", ou seja, três duplas se desafiando em forma de rap (Yasuda X Okura, Shibutani X Yokoyama, Nishikido X Maruyama. Murakami faz o papel de MC). Ou seja, já anteciparam o boom do anime "Hypnosis Microphone" uns anos atrás. (Pelo menos teria que ter alguma música no estilo Kanjani de ser, senão não teria graça)

"Panorama", animada e dançante, foi usada como tema de abertura nos episódios 1 a 48 do anime "Monster Hunter Stories RIDE ON". Segundo o site oficial da Capcom, empresa que licencia o game do mesmo nome, foi porque Yokoyama, Shibutani e Murakami são fãs do game e resolveram colaborar com a música. Murakami participou no episódio 26, dublando o personagem Ledan.

"Never Say Never", composta por Shota Yasuda, foi usada como tema de encerramento do filme "Spiderman Home Coming" na versão japonesa. O ritmo, lembra um pouco "ER2", rápido e de batida pesada. Anos depois, segundo os próprios membros do grupo, disseram que Yasuda compôs uma música muito difícil de acertar o tom logo no primeiro take.

"Samurai Song", tema do dorama "Samurai Sensei", protagonizado por Nishikido em 2015, tem estilo de folk-rock music, estilo adotado por Nishikido quando partiu em carreira solo (embora já adotasse o estilo nos solos que fazia nos outros álbuns, como "Scarecrow" e "Watashi Kagami"). 

"S.E.V.E.N. korobi E.I.G.H.T. oki", composição da banda Unicorn (liderado por Tamio Okuda), tem jeito de punk-rock estilo Ramones. O título é um trocadilho do provérbio japonês - nana korobi - yaoki -, que seria "a vida tem altos e baixos, toda vez que cair, levante-se e siga em frente".

"NOROSHI", usado como tema de encerramento do segundo filme da série "Mogura no Uta", protagonizado por Toma Ikuta, é tida como a "música mais pauleira que Kanjani já fez em toda a sua vida", daquelas que faltava botar fogo no palco em todas as apresentações que fizeram, especialmente como banda.

"Seishun no subete", balada composta por Yoshiki Mizuno (guitarrista do trio ikimonagakari), foi a segunda lead track do álbum. 

"Ikiro", composta e musicada por Subaru Shibutani, é uma das poucas faixas que traz o grupo todo tocando todos os instrumentos - Shibutani no violão, Yasuda e Nishikido nas guitarras, Maruyama no baixo, Murakami nos teclados, Yokoyama nos tímpanos e trumpete, e Okura na bateria. Outra música que trouxe o grupo todo tocando foi a instrumental "High Spirits", do álbum anterior, "Genki ga Deru CD!!".

"JAM LADY", composta por Yasuda, mistura ritmos de ska, soul music, rock e hip-hop, fazendo uma faixa animada e às vezes sugestiva, mas divertida.

"Traffic", composição de Nishikido, é uma mistura de rock e funk-jazz, abusando de sons de trumpete, guitarra e baixo, com algumas passagens mais calmas e culminando em jam-session, improvisado.


O título do álbum traz dupla interpretação - de jam session, algo que o grupo vem fazendo desde 2015 no programa "KanJam Kanzennen Show" e de geléia, já que as capas das três versões trazem imagens de frutas (e os rostos dos membros escondidas entre as sementes). Mesmo sendo três versões - a regular, que traz todas as faixas mencionadas; e as versões A e B, que não trazem as faixas "Ikiro", "JAM LADY" e "Traffic", mas trazem "Nostalgia" (interpretada por Maruyama, Yasuda, Nishikido e Okura) e "Answer" (interpretada por Yokoyama, Shibutani e Murakami( respectivamente. 

"JAM" é tido como um dos melhores álbuns do Kanjani Eight, e um dos mais criativos musicalmente, pois o grupo ainda tem a liberdade de chamar quem eles quisessem para participar nas músicas e nos programas que possui. E também o epitáfio do grupo, pois foi o último álbum a ter os sete membros.

Embora musicalmente o grupo tem evoluído e muito, graças ao programa KanJam, eles ainda continuam sendo um dos grupos mais injustiçados da agência (os outros dois grupos seriam NEWS e KAT-TUN), mas por outro lado, fez com que eles descobrissem estilo próprio e não se prenderem no estereótipo de serem idols lindos e fofos. 

Trivia e curiosidades:

- Embora sejam atualmente "Embaixadores do Turismo de Osaka", dois membros nasceram fora da província - Maruyama é de Kyoto e Yasuda, de Amagasaki, Hyogo.

- O grupo todo não era exemplo de beleza idol que o Johnny's impunha na maioria dos grupos - por exemplo, Murakami tem dentes tortos (que não arrumou até hoje), Yokoyama tinha visual de delinquente (volta e meia pintava o cabelo de loiro) e Shibutani chegou até a ter uma tatuagem ridicularmente feia na mão (feita na fase mais emo dele, bem antes do debut). O que o grupo ganhava pontos era o entretenimento e sem ter vergonha alguma de falar o dialeto de Kansai.

- Antes do programa KanJAM Kanzennen show", na mesma emissora eles tiveram o "Kanjani no shiwake eito", no qual impulsionaram a carreira da cantora May J., e Okura ter sido campeão no game "Taiko no Tatsujin".

- Em um espaço de seis meses, depois da tour "Kanjani's Eightertrainment", logo já sairam em outra tour, o "Kanjani's Eightertrainment JAM", o que fez o grupo fazer o five-dome tour em um espaço de tempo muito curto entre uma tour e outra. Um dos motivos é que durante os meses de novembro a janeiro, os cinco Domes ficam disputados por muitos artistas, mas durante o verão tem que dividir o espaço para os campeonatos nacionais de baseball.

- Quem comprasse as edições limitadas no dia do lançamento, ganhavam posteres originais. As duas edições vinham em embalagem cartonada, com booklet ilustrado e visual card, ilustrados por vários artistas. A edição normal vinha somente o booklet ilustrado e o poster.

- A capa da edição limitada A, era de um morango; a do B, era metade de uma laranja; e a regular, a salada completa. 

- Fato revelado em julho de 2018 - em fevereiro de 2017, Shota Yasuda foi submetido a uma operação - de alto risco - para retirada de um tumor no cérebro. Embora sua recuperação foi rápida, com o tempo trouxe sequelas - como ter que usar óculos com lentes fotocromáticas para evitar claridade em excesso. 

- Devido a boa vendagem do álbum, boa recepção da crítica e turnê bem-sucedida, pela primeira vez, uma das revistas especializadas para baixistas, a BASS Magazine, trouxe um membro da JA na capa e reportagem - Maruyama.

Fontes: line notes do site oficial do álbum JAM, oricon e capcom

Imagens: pinterest

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