Rocambole


Acho que muita gente não deve ter entendido a foto de uma fatia de rocambole e o que eu legendei uns dias atrás...

Ou se entenderam, eram pessoas que me conhecem de longa data. 

Uns bons anos atrás, depois de eu ter perdido meu emprego, meu seguro entrando na data final e nada de alguém me contratar depois de ter enviado currículo, tive que partir para o plano "B" - pegar qualquer trabalho só para quitar as contas e ter uma pequena reserva para outro emprego.

Deu que o único lugar que me aceitou foi uma fábrica de sobremesas. Até aí, tudo bem, trabalho é trabalho em qualquer lugar do mundo, mas nesse lugar, vou falar a verdade - acho que eu devo ter sido uma pessoa tão má em alguma encarnação passada e naquele momento eu estaria pagando todos os meus pecados e ainda deixando outros de crédito.

Mas claro que essas coisas variam de pessoa para pessoa, isso depende da sua sorte e da equipe ter gostado de você logo a primeira vista. No meu caso, devia estar num inferno astral dos grandes, porque logo de cara, a equipe em que me colocaram, só faltou me fuzilar apenas com um olhar. E não estou exagerando. Do tipo: parece que, se entra um novato, acham que vai tomar o lugar dos veteranos. Queria desistir logo no primeiro dia, mas como tinha contas a pagar...

Percebia a falta de vontade dos veteranos de me ensinar o serviço, e ainda vinham cobranças. Ninguém acerta logo de primeira, mas parece que esse pessoal não entendia. E muita gente quando entra pela primeira vez, até pegar o jeito, tem que ter paciência.

Nos cinco meses que fiquei, eu não desejaria pra ninguém o que eu passei. Pra falar a verdade, acho que aquele lugar foi o pior lugar que trabalhei em toda a minha vida, nem indicaria. 

E o que o rocambole da foto que abre o post tem a ver com a história?

Onde eu trabalhei, fazia um parecido com o da foto. Fazer a massa e assar, era o maquinário que fazia, mas cortar o bolo em tiras para colocar nas formas e rechear... Porque tinha que cortar de forma manual, e em linha reta. Claro que tinha tamanho exato para que entrasse na forma, e quem disse que eu conseguia cortar sem "mastigar" a massa, ainda mais com uma faca que não cortava direito...

Quando apareceu a oportunidade de cair fora daquele lugar, não pensei duas vezes, mesmo sofrendo ameaças (e aguentei isso por uma semana). 

Por um bom tempo, eu havia parado de comprar doces vindo daquele lugar, tamanho o trauma que tive. Atualmente, de vez em quando eu compro, e fico imaginando o quanto as pessoas que trabalham com isso, os maus bocados que elas devem passar, não somente pelo trabalho em si, mas pelo ambiente e pelo pessoal. 

Por isso que, todas as vezes que compro alguma coisa (geralmente comida), eu procuro dar mais valor para quem faz, porque o processo não é fácil. Aliás, em qualquer trabalho, nada é fácil, passamos por inúmeras provações e dificuldades, e muitos diriam que seria para "adquirir mais maturidade". 

O que aprendi naquela época foi que, por mais que precisemos trabalhar porque as contas chegam, não aceitar qualquer coisa por desespero, porque o resultado nem sempre é o esperado, e, sempre deixar alguma reserva financeira para todos os casos.

Às vezes um doce me trazia amargas lembranças, mas com o tempo, estou superando vários traumas do passado.

Foto: da autora mesmo. O roll cake da loja de conveniência Lawson foi adquirido mediante troca de cupom digital adquirido no sorteio do aplicativo da operadora de celular que possuo.

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