Eu e eu mesma


Antes de mais nada, peço desculpas para as pessoas que me conhecem desde faz tempo de não tê-las contactado quando vou para a cidade onde residem ou estavam no mesmo lugar por acaso. Muitas vezes meu tempo é contado e tenho hora para retornar também, fora que decido vir em cima da hora.

De muitos tempos para cá, vou sozinha para Tóquio ou Yokohama. Antes que perguntem "e o namorido?", já aviso que minhas idas são para fins de eventos e concertos, o que ele não gosta muito, então ele prefere que eu vá sozinha mesmo.

A não ser que uma amiga também queira ter a loucura de me acompanhar, muitas das minhas idas eu faço sozinha. Porque eu sei que tem gente que não possui os mesmos gostos que eu, como ir em eventos de doujinshi ou concertos dos meus ídolos favoritos. E mesmo porque eu tenho que voltar logo pra casa, afinal, trabalhar pra pagar as contas.


Na verdade, a maioria das minhas viagens eu acabo decidindo uns dias antes. Certo que recentemente já estava programado com três meses de antecedência, como foi o musical "THE BOY FROM OZ", já que comprei o ingresso bem antes, mas em tempos de pandemia, vai que alteram os planos (experiência própria).

Tirando algumas vezes que fui para encontrar as amigas, a maioria estou passeando sozinha, como já mencionei. Motivos eu também expliquei. Afinal, quem gostaria de acompanhar uma pessoa que resolve criar vergonha na cara, encarar uma madrugada de viagem num ônibus e vai em eventos de doujinshi ou concertos de idol ou teatro pra assistir musical aleatório??? Pois é.

Por outro lado, eu acabo perdendo contato com essas pessoas, pois eu poderia ter com elas, uma luz para ver se mudo de vez de vida, mudar de emprego, de cidade... Ou saber se tem algum curso on line de língua japonesa para quem quer aprender business japanese conversation... Essas coisas.

Mas eu vejo o perfil delas no Instagram, as fotos, as postagens, eu percebo que o way of life (que não é a música de encerramento do dorama e filme do Okada, "SP -Security Police") é completamente diferente da minha. Tirando algumas raríssimas exceções, percebi que já não pertenço ao mesmo círculo de afinidades. 

- Ultimamente estou indo em musicais e peças teatrais: quando eu ainda estava no Brasil, eu ia mais assistir peças teatrais do que ir ao cinema, mesmo porque o mais próximo levava meia hora de viagem para a cidade ao lado. Vim parar aqui, e depois de vinte anos e tantos eu criei vergonha na cara e resolvi ir assistir musicais. Já nem chamo alguma alminha semiperdida para ir comigo, porque sei a resposta - "muito caro" e "não vou entender nada" ou "não curto musicais".


- Dificilmente alguma conhecida minha encara horas numa fila de Comic Market ou Comic City ou eventos menores para ver (e comprar) doujinshi. Acho que levei quatro pessoas mas porque elas estavam doidas para conhecer e ainda mais que  elas vieram literalmente do outro lado do mundo. Só não estou mais indo nesses eventos por causa dessa pandemia fdp.

- Talvez isso seja paranóia minha, mas como eu pertenço a uma outra classe social, ultimamente elas nem interagem mais comigo. Exceções dá pra contar nos dedos. Teve muitos casos em que conhecidos meus estiveram perto de casa e nem me avisaram para saber se eu estaria disponível para encontrá-los. Eu reconheço também que já aconteceu de eu estar em Tóquio, por exemplo, e nem ter avisado, mas volto a dizer: vim em cima da hora para fazer algumas coisas e voltar pra casa no mesmo dia, afinal eu trabalho no dia seguinte. E se eu fosse encontrar alguém, ficar no "oi" e "tchau" também nem dá.

Pois é, pode ser que elas também tenham a mesma desculpa que a minha.

(Quando eu digo que eu pertenço a uma outra classe social, seria dizer que eu sou apenas uma funcionária de uma fábrica qualquer, não uma programadora de sistemas, funcionária de uma multinacional, tradutora multilingue, designer gráfico, analista de sistemas, qualquer coisa, menos funcionária de fábrica. Mas estou trabalhando para pagar as contas, comer, viver e ainda fazer meus hobbies, porque tem MUITA gente desatualizada achando que TODOS os estrangeiros que moram aqui, vivem na rotina casa-trabalho-casa. Nem todos levam essa vida - conheço muita gente que fazem cursos diversos, vão em eventos culturais, vão ao cinema, participam de festivais, vão em concertos, se divertem, porque afinal, todo mundo é igual, e por qual motivo elas não podem se divertir, ter um hobby, etc.?)

Imagens: todas da autora, via smartphone AQUOS SH-51A que ainda estou tentando descobrir como otimizar a câmera, porque minhas fotos saem aquela maravilha quando posto sem filtro nem efeitos, mas afinal, não sou influencer nem ganho fundos para isso (obviamente se eu ganhasse, eu investiria numa câmera semi profissional como uma Canon ou Nikon ou Pentax ou SONY).

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