Mostre-nos o caminho e o resto a gente se vira


Desde os tempos de faculdade, eu ouvia direto da minha ex-colega de TCC a batidíssima mas dolorosa verdade: "se vira, que você não é quadrada". Era uma forma bem "delicada" de dizer que era pra eu também procurar o material para o projeto e não deixar somente ela fazer tudo sozinha. Ainda mais que as duas precisavam passar no TCC para terminar o inferno da faculdade.

Se bem que, na verdade, eu já tinha que "me virar" para fazer os trabalhos escolares. Diria que minha mãe me ajudava a um certo ponto, aka fornecer material, mas o resto eu tinha que fazer tudo sozinha. Talvez um trabalho que realmente meus pais tiveram que me ajudar e muito, foi o "quadro de pregas", um quadro com dupla função: de um lado, era de cortiça para pregar avisos com tachinhas (post-it nos anos 80 sei lá eu se tinha...) e outro era de papel dobrado para colocar cartões postais e cartas. 

Quando a gente acaba morando sozinha, longe de casa, seja por causa da faculdade, ou por causa do trabalho, muita coisa a gente acaba aprendendo sozinha, mesmo correndo o risco de levar um choque ou botar fogo na casa. Vou falar a verdade: fui ter que me virar sozinha mesmo quando vim parar no Japão. Literalmente sozinha, mesmo, porque quem veio comigo no mesmo vôo, eram duas meninas que iam trabalhar no mesmo lugar mas não iam morar no mesmo apartamento.

E vocês pensam que as pessoas que moravam no mesmo prédio que eu, me ajudaram? Só ensinaram o básico e o resto... bem, eu teria que virar, ainda mais que meu nível de japonês era o básico do básico. Mas também foi a época que aprendi muita coisa sozinha, como ir pra Osaka de trem e não se perder, cozinhar e fazer compras. E de tanto assistir doramas e programas de variedades, ao menos meu nível de língua japonesa tinha melhorado.

Mesmo eu tendo passado por poucas e boas, e tendo que me virar sozinha em quase tudo, na medida do possível eu procuro tentar ajudar as outras pessoas, mesmo de forma virtual, por isso que existem as redes sociais. Acho que nunca usamos tanto o Twitter em março de 2011 quando aconteceu o famoso terremoto em Tohoku para informar outras pessoas que mal sabiam o que estava acontecendo.

Nas redes sociais também, indicamos muitos sites de utilidade pública, desde emergência, empregos até dicas para o cotidiano para quem mora no exterior. Inclusive algumas contas sociais de escolas de idiomas fornecem material gratuito para aprender outro idioma, sites de culinária, trabalhos manuais. Claro que a maioria deles fornece o link para consultar o site oficial ou fazer download do aplicativo para ter maiores detalhes.

Volta e meia algumas pessoas conhecidas do meu antigo emprego me procuram para solicitar ajuda no quesito tradução, acompanhar em consultas médicas, idas na prefeitura para obter algum documento... Como não sou experiente no assunto e tampouco trabalho com isso assim como muita gente que eu conheço que mesmo não sendo formada em curso algum, consegue trabalhar como tradutor e intérprete e vive bem assim, muitas vezes não gosto de cobrar financeiramente por um trabalho, mas já aceitei muitos cafés e almoços pagos.

Ser tradutor e intérprete em hospitais e médicos exige muito mais responsabilidade, se me entenderam. Mesmo assim, eu me esforço muito para transmitir a pessoa o que o médico quer explicar, chegando a usar um dicionário. Sério. Próximo investimento será um dicionário eletrônico.

Existem pessoas de bom coração que nos indicam sites e entidades para a gente ter maiores informações para fazer algum curso, ir a um evento, sobre faculdades no exterior, intercâmbio... Mas existem aquelas que criticam e tampouco explicam como fazer o processo disso ou daquilo. Fácil falar que a gente que mora aqui vive na modorra por não querer melhorar de vida e tals, fala sobre intercâmbio, cursos, etc., mas não coloca algum link para que a pessoa consulte e procure. Pois é, vejo isso direto. 

Em algumas redes sociais, eu vejo pessoas da comunidade postando sobre cursos, eventos, dicas sobre bem-estar social, com os devidos sites e locais. Isso me deixa feliz em saber que ainda existem pessoas que ajudam neste mundo caótico. Eu tento ajudar de alguma forma, seja dando RT na postagem por exemplo.

Mas é assim mesmo. Vamos ter os dois lados da coisa - um, que colabora e ensina o caminho para que a gente siga sozinho, e outro, que critica e não ajuda.

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