Tentando descobrir talento oculto

Esses dias durante o feriado do Golden Week, estava conversando com uma amiga de longa data, quando tudo era mato, até os blogs, sobre alguma forma de conseguir alguns trocos a mais fazendo algo que goste, do tipo, algum hobby que depois pode acabar sendo fonte de renda. Afinal, já estou na fase que eu tenho que pensar na aposentadoria, porque mais dia, menos dia, ninguém mais vai me contratar e isso é sério, muito embora eu nem comente aqui e ali.

Eu sempre dizia que, se um dia algum hobby que eu tenho virar obrigação, como por exemplo este Emporio, pode ter certeza que vou acabar fechando ele. Mas se tem algo que eu gosto e gostaria muito me especializar para me profissionalizar, é tradução de textos. Já começa com as resenhas que eu faço dos doramas e filmes que assisto, pois como eu assisto sem legenda (no máximo em japonês quando eu assisto TV), aí eu tenho que procurar na internet no site oficial do dorama ou do filme para não tentar resenhar besteira. 

Isso porque eu fiz um template no meu caderno como fazer as resenhas de dorama, filme e da discoteca básica, com a tradução de quem fez o quê, porque era toda hora correndo procurar no dicionário o kanji de direção, roteiro, produção...

Cheguei a traduzir alguns textos para as colegas de trabalho, como formulários e panfletos, mas sem fins lucrativos, porque eu nem profissional sou. Mas elas acabavam pagando minha conta no café da sereia como forma de agradecimento...

Algumas amigas mais próximas a mim perguntavam porque raios eu nunca fui fazer entrevista pra tradutora. Fiz mais de cinco e só levei não na cara. Teve lugar que foi bem sincero ou insensível, tanto faz, que respondeu que eu não tenho perfil para o cargo. Ou outro que na carta respondeu que além de eu não ter perfil para o cargo, minha aparência iria assustar os clientes. 

E olha que não foi falta de tentar - tudo o que era anúncio que precisavam de tradutores de texto, entrei em contato e enviei o currículo. Teve outros que nem retornaram a resposta. E querem que eu tenha experiência como, se nunca me dão a chance de tentar? 

Esse tipo de tratamento acaba desanimando qualquer um. 

Um dos poucos lugares que pude ajudar em traduções, foi na época que eu trabalhei quase nove anos em um escritório, em Tóquio. Mas quando eu fazia hora extra, era a hora que tinha condições de ajudar. Depois a empresa fechou e nunca mais consegui emprego em nenhum escritório, nem para inserir dados que nem exigia tanto assim...

Talvez seja pelo meu modo de falar, de agir, sei lá. Mas bem que esses lugares que anunciam que precisam de tradutores pudessem dar uma chance e dar um treinamento antes, por falta de experiência anterior. Afinal, muita coisa a gente aprende na prática.

Era a mesma coisa quando a gente cursa uma faculdade em tempo integral e nem tem como ganhar experiência trabalhando, porque muitos lugares querem que a pessoa trabalhe em tempo integral. Daí a gente se forma, vai procurar emprego e a vaga desejada exige que você, recém-formado, tenha pelo menos tantos anos de experiência...

Muitas vezes eu fico revoltada quando esse tipo de situação me acontece? Não nego, eu fico ao ponto de ficar quase o dia todo chorando num misto de raiva e frustração, mas como não dá pra ficar chorando sobre o leite derramado, é enxugar as lágrimas, erguer a cabeça e partir pra próxima. 

Pode ser também falta de eu procurar as coisas muito à fundo, mas é muito difícil encontrar aqui algum curso mesmo on line de técnicas de tradução, o que precisa realmente para entrar nessa vida de traduzir textos e até mangas. Anúncio que precisa de tradutor, eu vejo e muito, mas que ensinem como traduzir algum texto que fique com sentido e de fácil entendimento... E olha que fiz muitos cursos de língua japonesa para entender o básico e ver se eu perco a vergonha de falar na frente dos outros, mas ninguém soube dizer direito o que precisa para ser tradutor de textos, e antes que digam "mas você nunca perguntou", eu já perguntei, sim...

Será que eu vou precisar cursar uma segunda faculdade, o equivalente a Letras? Muitas vezes eu me pergunto como existem pessoas que trabalham em lojas de celulares e prestadoras de serviços conseguem, talvez porque fizeram a vida escolar - desde o jardim-de-infância até o colegial, ou na melhor das hipóteses, graduou-se em alguma faculdade - aqui no Japão, mas na verdade, eu nunca vou saber.

Claro que ao mesmo tempo eu fico me indagando essas coisas, eu me empenho em tentar melhorar em alguma coisa, como modo de falar, ouvir melhor, estudar mais, seja lendo ou escrevendo, que seja. Mesmo se eu tenha que começar por baixo de novo, mas aos poucos vou tentando ganhar algum espaço no trabalho ou fazer com que o quê tenho de melhor mas está ainda escondido, sair do casulo logo.

Foto: da autora, no dia que fui no Misonoza, um teatro no estilo kabuki mas que também são realizados outros trabalhos fora do estilo tradicional, como musicais e peças teatrais.

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