Teste de Proeficiência

Ou: teste para ver o quanto ainda perco tempo com essas coisas.

Creio eu que, desde a faculdade, eu presto exame de proeficiência em língua japonesa, mesmo no Brasil. Tentei duas vezes e passei na segunda, no nível de principiante (acho que era o nível 4). Era um tanto previsível, porque, quando prestei pela primeira vez na minha vida, eu mal estava no nível principiante, aqueles que começa do zero mesmo, então era mais do que óbvio que não ia ter pontuação suficiente para conseguir o certificado.

Na realidade, naquela época acabei prestando por insistência de minha professora, que era para testar mesmo, e, bem acabei prestando duas vezes. Mas depois eu terminei a faculdade, arranjei emprego e fazer curso de língua japonesa era inviável, porque não tinha uma associação perto de onde eu morava, a não ser que eu arranjasse trabalho em São Paulo, capital.

O tempo passou e eu resolvi vir parar aqui, e, bem, o resto acho que nem preciso prolongar muito. Voltei a estudar a língua japonesa, prestei o JLPT nem lembro quantas vezes até eu conseguir o N3 (que seria o nível intermediário), um pouco antes da pandemia.

Durante a pandemia eu bem que tentei focar nos estudos para o famigerado N2, mas o lado péssimo de estudar sozinha, é realmente o foco. Tenho um lado ruim que eu me distraio fácil, e se estudo em casa, a situação piora, por isso que muitas vezes eu tinha que ir numa cafeteria e passar o tempo lá estudando. Dei muito lucro no café da sereia para eu conseguir o certificado do N3.

O motivo pelo qual eu estou tentando o N2 (que seria o nível avançado) é meramente profissional, ou seja, um emprego melhor e que pague um pouco a mais. Só que mesmo eu tendo experiência em trabalho de escritório (oito anos e meio), eles querem que eu tenha N2. Para eles, não interessa se eu tenho nível superior ou anos de experiência - tem que ter o bendito certificado de que eu passei no N2 no exame de proeficiência em língua japonesa aka JLPT.

E vou falar a verdade - pra eu ter conseguido o certificado do N3 foram pelo menos uns três anos tentando e estudando com o que eu tivesse, como livros e assistindo muito dorama e filme japonês sem legenda (o que eu sempre falo que assisto na força do ódio pra tentar entender pelo menos a metade).

O paradoxo: língua inglesa eu aprendi muito fácil, de tanto ouvir música dos Beatles. E olha que o inglês deles é britânico. E fui fazer curso depois que terminei a faculdade e ainda estudei três anos de língua inglesa no sotaque britânico. Tanto é que, eu entendo mais o Paul McCartney falando inglês britânico com sotaque de Liverpool do que qualquer norte-americano... Agora, língua japonesa têm horas que me dá boas travadas... Escrever em caracteres de hiragana, katakana e alguns kanji, ainda vai. Ler, depende muito. Se tiver algum kanji que eu tenho que apelar pro dicionário, eu apelo sem dó.

Se teve gente dizendo pra mim que prestar JLPT na idade que eu estou é perda de tempo e dinheiro, isso teve e nem ligo mais. 

Domingo que passou (3) fui prestar para o N2 depois de muito tempo (eu havia tentado uma vez, isso faz muito muito tempo mesmo), e as regras continuavam as mesmas na hora de fazer a prova - nada de comer ou beber durante a prova, desligar os celulares e guardar na bolsa, na mesa somente lápis e borracha, e relógio comum aqueles de corda sem alarme, não abrir o caderno de perguntas antes da hora, assim que avisam que o tempo terminou, deixa como está, essas coisas.

Sim, prestar o JLPT é cheio de regras mesmo. Se não cumprir, eles cancelam tua prova sem dó nem piedade (o cartão vermelho ou cartão amarelo).

Daí eu fico me perguntando todas as vezes que prestei esse teste - se estão prestando, é óbvio que devem ter pelo menos a noção das regras (no cartão postal que vem sua identificação e local da prova, está tudo explicado em japonês e inglês), os fiscais avisam mais de três vezes, tem até cartaz ilustrando. Mesmo assim, tem gente que acaba levando cartão amarelo na prova (quando prestei o N3, a sala que eu estava, chegaram a dar mais de dez cartões vermelhos por motivos de que a pessoa estava usando celular no meio da prova, deixou o celular tocando na hora do teste de audição, abriu a prova antes da hora, brigou com o fiscal...)

No domingo, uma que estava bem atrás de mim, quase brigou com a fiscal porque já tinha dado o tempo, e ela disse que não tinha terminado (a prova de gramática tinha 72 questões e quase duas horas para responder). A fiscal educadamente disse que o tempo terminou e era para entregar o cartão de respostas assim mesmo. 

Não é que a menina começou a gritar com a fiscal no meio da sala? Resultado: cartão vermelho e, mesmo se fizesse a segunda parte da prova (que era o listening), o dela já estava cancelado.

Uma coisa que não entendo: a pessoa gasta dinheiro para fazer a inscrição (que já não é muito barato), tem que vir de longe (isso se o local da prova fica em outra província que não seja onde você mora), e acaba fazendo esse circo todo ao ponto de ter seus pontos anulados? Para prestar N2, era mais do que óbvio que teria uma boa noção do que estaria fazendo, o que pode e o que não deve fazer durante a prova. Acho que até mesmo quem presta o N5 (o principiante) sabe um pouco das regras. É o que penso, né.

(Pior que depois que essas coisas acontecem, a gente que é estrangeiro, fica com a fama de barraqueiro e encrenqueiro. E sabe que o pessoal aqui costuma generalizar as coisas.)

Nessas alturas do campeonato até eu fico me perguntando porque eu insisto em tentar prestar esse dito JLPT pra ter o bendito do N2, sendo que, mesmo em lugares que pediram o N3, eu levei não na cara. Das duas, uma: ou eu que sou masoquista ou eu que sou teimosa (ou pior ainda, as duas coisas juntas).

Seja como for, já estou me preparando para o exame que terá no verão do ano que bem, porque o teste de domingo tive a certeza de que eu terei que estudar muito mais para não sentir que o resultado foi decepcionante.

Foto: da autora, a caminho para o exame do JLPT que fiz na Universidade de Chiba.

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