Mensagens Ocultas, Referências, Easter Eggs em... Músicas (Parte 1 - The Beatles e seus membros)


Tudo é válido para entreter as pessoas, mesmo tendo que quebrar a cabeça com isso.

Mensagens ocultas ou subliminares, referências e easter eggs existem desde que o mundo é mundo, mas essas coisas a gente começa a notar quando a gente ouve muita música e/ou assiste muito filme e/ou joga muito videogame. No meu caso, seriam as duas primeiras, porque pra videogame eu sou uma negação por mais que eu já tentei jogar (do tipo, eu bem que queria ser que nem meus irmãos que jogam tudo o que é jogo nos consoles da vida, mas eu até nos joguinhos em celular eu demoro pra pegar).

A situação só piorou para mim no quesito música, já que desde a adolescência fui gostar de uma banda de rock que terminou antes de eu nascer, e essa banda começou a ter o costume de colocar um monte de mensagens subliminares nas músicas que compunham. Quem me conhece, sabe que falo dos Beatles. Voltando, a partir de 1965, eles começaram a colocar mensagens subliminares, referências e outras coisas mais, especialmente John Lennon.

Se bem que os Beatles não foram os únicos a comporem música com letras com mensagens subliminares ou referências. Basta pegar as bandas britânicas ou norte-americanas nos anos 60 que vai encontrar um monte de música repleta de mensagens subliminares para disfarçarem certas coisas, especialmente uso de alucinógenos. Até mesmo no Brasil nos anos 60 que os artistas tinham que usar muito a criatividade para que as músicas passassem inteiras na tesoura da censura.

O já conhecidíssimo álbum "Seargent Pepper's Lonely Hearts Club Band" traz diversas músicas com referências, mas a mais conhecida seria "A Day In The Life",  porque, além da complexibilidade da música em si, algumas frases teriam referências: 

- "He blew his mind out of his car/ he didn't notice that the lights had changed" ("Ele teve a cabeça estourada no carro/ele não tinha percebido que as luzes mudaram") é sobre o acidente de carro que vitimou Tara Browne, herdeiro da cervejaria Guinness. Browne também era amigo da dupla John Lennon e Paul McCartney.

- "4000 (four thousand) holes in Blackburn, Lancashire" (Quatro mil buracos em Blackburn, Lancashire), Lennon viu a notícia em um jornal e resolveu usar na música. Houve quem dissesse que era uma apologia ao uso de heroína.

- "I saw a film today oh boy/The English Army had just won the war" ("Fui assistir um filme hoje, cara/O Exército Britânico ganhou a guerra") uns diriam que seria referência ao filme "How I Won The War", protagonizado por Lennon, no final de 1966.

Fora algumas frases que seriam indiretamente ligadas a uso de alucinógenos, como "estava nas escadas e dei um trago/alguém falou e caí num sonho", "eu gostaria de te deixar ligado" (na época, a expressão "turn on" seria estar sob o efeito de alguma droga). O que resultou que, a rádio BBC londrina baniu a música de ser executada.

Outra que fez muito estudante de literatura inglesa ter os neurônios derretidos, foi "I Am The Walrus", composição majoritária de Lennon. Quando um amigo da época em que Lennon estudava no Quarry Bank High School enviou uma carta pra ele dizendo que os alunos de literatura inglesa estavam analisando as músicas dos Beatles, Lennon compôs uma que foi inspirado em "Alice no País das Maravilhas" e "Alice através do Espelho", de Lewis Carroll, seu autor favorito, mais duas "viagens" de ácido, só pra ver a reação deles.

O título vem do poema "A Morsa e o Carpinteiro", do livro "Alice através do Espelho". Mas muito tempo depois, Lennon se arrependeu de ter usado a morsa como título da música, porque ela era a vilã da história.

- "Lucy in the sky" é referente à música "Lucy in the Sky with Diamonds", que muita gente achou que era sobre LSD devido ao teor da letra, mas Lennon jurou até o fim que se tratava de um desenho que seu filho Julian havia feito de uma colega de escola (o que era verdade, tanto que tinha o desenho e a própria Lucy chegou a ser notícia uns bons anos atrás).

- "Semolina pilchard" seria um trocadilho com o Sargento Pilcher, conhecido nos anos 60 por fazer parte do esquadrão anti-drogas em Londres, que era contra artistas britânicos sobre uso de drogas.

- O "Homem Ovo" ou "Eggman" era o apelido do cantor e compositor Eric Burden, amigo de Lennon na época.

Indiretas (ou diretas mesmo) para seu (des)afeto existem faz muito tempo, não é de hoje. A dupla supracitada, Lennon e McCartney, depois do fim dos Beatles, pelo menos duas músicas ficaram conhecidas por um ter dado a indireta e outro respondido.

"How Do You Sleep", composição de Lennon no álbum "Imagine" de 1971, já dava uma indireta direta agressiva cheio de rancor para McCartney - "A única coisa que você fez foi 'Yesterday'/e depois que você se foi, é agora 'Another Day'" ("Another Day" foi o primeiro single de McCartney após o fim do grupo). Mas Paul deu uma resposta mais amena em "Some People Never Know". Mas outros citam a música "Dear Friend" como uma forma de tentar apaziguar a briga.

Mas como raiva dura pouco, no meio dos anos 70, os dois chegaram a se encontrar.

"Venus and Mars", do álbum homônimo de Paul com a banda Wings, muita gente interpretou que a frase "um grande amigo meu/segue as estrelas" era sobre Lennon, já que a esposa Yoko Ono costumava consultar a astrologia antes de tomar qualquer decisão. Ou também uma metáfora sobre as groupies que faziam de tudo para conseguir uma noite com seu astro favorito, já que no inglês, friend pode ser usado tanto no masculino ou no feminino, e star também seria os artistas famosos.

"Let 'Em In", as pessoas citadas na música seriam a esposa Linda ("Sister Suzie". Em 1977, a banda Wings lançou um single "Seaside Woman", composta por Linda McCartney, mas sob o pseudônimo de Suzie and the Red Stripes), o irmão Michael ("Brother Michael"), o cunhado John Eastman ("Brother John", e muita gente achou que fosse John Lennon), uma de suas tias por lado de seu pai ("Auntie Gin"), Everly Brothers ("Phil and Don"), Martinho Lutero ("Martin Luther"). 

"Flaming Pie", álbum de 1997 de McCartney, a faixa-título qualquer fã dos Beatles já entendeu - era uma piada de Lennon sobre a origem dos Beatles, que ele contava que veio um homem em uma torta flamejante e disse para os meninos que, a partir de hoje se chamariam Beatles com "a".

George Harrison também era outro que tinha uma música ou outra com mensagens subliminares, mas muito carregadas de ironia. Quando perdeu o processo de plágio na música "My Sweet Lord", compôs uma música chamada "This Song" que dizia "não infringir nenhum copyright" e fora o PV que era o Beatle no tribunal (sobre PVs farei uma postagem a respeito depois). Era uma música irônica sobre o processo que perdeu.

"All Those Years Ago", música que compôs em homenagem a John Lennon, existem frases que lembram os tempos dos Beatles ("all you need is love" era uma das músicas compostas por Lennon, e referência a "Imagine", no verso "you were the one who imagined it all"), o verso "agora fomos deixados sozinhos e tristes/por causa do melhor amigo do demônio", é bem claro que se trata daquele que nenhum beatlemaníaco ousa mencionar.

"Faster" era uma homenagem sobre os bastidores da Fórmula-1, que Harrison gostava muito desde adolescente. 

"Devil's Radio", do álbum "Cloud Nine" era uma crítica irônica sobre fofocas, boatos e outras depreciações que as rádios costumam fazer. Os efeitos, Harrison usa metáforas como "abutres", "poluição", "ervas daninhas". Ele sabe muito bem disso, pois ele foi uma das vítimas da imprensa após o fim dos Beatles.

Pode ter muito mais, claro, mas quem é fã dos Beatles, já descobre as mensagens nas músicas. Se tentar descobrir as mensagens subliminares e referências nas músicas dos Beatles, imaginem tentarem fazer em músicas de outras bandas dos anos 60 - que naquela época, se falasse de amor livre, sexo, drogas e política, censurar nas rádios era pouco...

Imagem: Sunday Mirror.

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