Nem tudo está perdido

Ontem estava conversando com meu kinguio, ops, marido sobre "que fez de bom hoje".
Tirando serviço, disse-me que, quando estava voltando pra casa, não deixou de notar uma coisa no ponto de ônibus que fica no quarteirão do bairro: o motorista e os passageiros ajudando uma pessoa paraplégica, de cadeira de rodas, a descer do coletivo! No braço mesmo, pois o veículo não estava ainda adaptado para deficientes físicos. Antes que muita gente fale que "realmente, os japoneses não têm um pingo de solidariedade", a cena que meu marido viu era de admirar. Quatro pessoas ajudando uma pessoa especial seria falta de solidariedade? E os outros passageiros esperando pacientemente, sem reclamar? Se me lembro bem, se fosse no Brasil, muita gente ia mandar o motorista e o coitado do passageiro para a ponte que partiu. Tudo bem que, aqui no Japão é país de primeiro mundo, o povo é mais frio que geleira e materialista ao extremo, mas existem muitas coisas que muitos governantes deveriam fazer um passeio turístico para ver e aplicar na prática.
Exemplos:

- Semáforo (na minha cidade é farol) que toca musiquinha avisando que os pedestres podem atravessar a rua em segurança. Desde pio de passarinho até musiquinha parecendo de enterro, o importante é ouvir. Pra quê? Para os deficientes visuais, claro!
- Placas amarelas com saliências: nas plataformas e nas ruas quase perto ao meio-fio, tem uma trilha amarela com saliências. O menos avisado vai pensar que é decoração ou avisando que logo ali não pode passar de qualquer jeito senão é atropelado. Mas é a segunda opção é o que vale: nas plataformas de trem para avisar os distraídos e deficientes visuais que se passar dali, pode cair e ser atropelado, pra dizer pouco. O mesmo vale nas calçadas.
- Assento especial para deficientes, grávidas, idosos: se entrar num trem ou ônibus, podem reparar na côr dos bancos. Se for de côr diferente, pode ceder o lugar para essas pessoas. Mas também não precisa ser especialmente nesses lugares, basta ter bom senso quando andar de trem ou ônibus. Conselho para essas pessoas especiais: por mais que queiram ir no horário de pico, se não tiver realmente NADA para fazer, melhor ir num horário mais calmo. Mas só se não tiver jeito mesmo. Conselho daquela que pega condução todo santo dia e sempre no horário mais congestionado ( se for mais tarde, sempre chegarei atrasada, oras!).
- Banheiros: já tive oportunidade de ver um sanitário para pessoas especiais, quando realmente precisei de usar um banheiro e os convencionais estavam lotados. Desculpem, mas naquela hora minha situação era muito crítica e se esperasse poderia ser muito tarde demais. Bom, o sanitário em questão, além da porta ser deslizante, é espaçoso e com barras para apoio. Não somente para essas pessoas especiais mas para idosos também. E assento do estilo ocidental, diga-se de passagem... Sem falar que quase todos os convencionais, vêm acompanhados de cadeirinha especial para bebês e até fraldário! Isso é que é preocupação! Sabia que em algumas muitas lojas de departamentos, os banheiros femininos têm uma privada igual a de homens, mas de tamanho menor? São para os filhinhos que não conseguem ir ao banheiro masculino sozinhos e a mamãe precisa ajudar. Só espero que quando crescerem não confudam os sinais....
- Escadas com elevador especial para cadeira-de-rodas: já vi em algumas estações, apesar que as pessoas paraplégicas utilizam elevadores, mas quando na falta de um, ao lado do corrimão, tem uma mini-plataforma para a pessoa subir nela e subir ou descer as escadas. Lembram-se da cena de "Gremlins" que uma velha tem um elevador na escada da casa? Bem por aí, mas a cadeira não sairá voando como no filme...
- Rampas: tudo o que é local, tem rampas para usuários de cadeira-de-rodas. Para facilitar o usuário, óbvio...
- Letreiros com leitura braile: obrigatório em estações de trens e lugares de serviço público. Para os deficientes visuais a se localizarem. Bem como os caixas eletrônicos de bancos.
- Passeio com o totó: ultimamente, os japoneses (e estrangeiros também) estão mais tendo animais de estimação que crianças ( por isso que a população está ficando mais velha!). Você não vê cachorro solto por aí e dificilmente vê gatos soltos ( tá, tem os tomba-latas mas...). Os totózinhos sempre andam na coleira, ou dentro da bolsa ou dentro da gaiolinha especial, mas saibam que a caquinha o dono recolhe com saquinho plástico nos passeios matinais, vespertinais, noturnos com seu animalzinho. Aliás, desde que estou aqui, nunca vi uma caquinha de cachorro na rua...
- Separação de lixo: sim, aqui tudo se separa. Tem um ou outro que erra (de propósito ou não) mas com a coleta seletiva com desenho, fica difícil de errar por não entender o que está escrito ( em japonês e inglês ). Jogar latas, garrafas, jornais e outros lixos, têm lugar certo. Bem como no dia-a-dia, a prefeitura envia o calendário anual das datas de coleta de lixo. Onde moro, toda semana é dia de jogar latas, toda semana é dia de jogar plásticos, três vezes por semana o lixo queimável ( leia-se restos de comida, lixo doméstico, se é que me entendem )... Só não gostei muito que jogar jornais e revistas velhas ficou uma vez por mês ( antes era no mesmo dia que se jogava o lixo queimável, mas deixado em separado ).

Se alguém lembrar de mais alguma coisa, avisem-me.
Tudo bem, tem gente que não respeita, não colabora, mas nem tudo está perdido.
Dizem que jovens de hoje nem estão aí pra coisa, mas se vocês vissem, nem eu acreditei quando estava dentro do trem pra lá de lotado, um "center guy" daqueles pra lá de escrachado, cedeu lugar a uma senhora de bengala!!! Acham que esse tipo de gente não tem coração só pela aparência?
Ah, se todo mundo tivesse consciência, o mundo talvez fosse um pouco melhor. Ou "mais melhor" como dizem.

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