Dores de frustração e como lidar com ela

Conforme eu havia postado aqui uns tempos atrás, muitas vezes ainda recaio no dilema de como lidar com a frustração de eu não ser fluente na língua japonesa mesmo depois de um quarto de século morando aqui, assistindo muita programação japonesa, indo ao cinema e assistindo filme japonês sem legenda, lendo muito manga e tentando criar vergonha na cara e começar a ler novels.

Eu tento amenizar essa frustração assistindo doramas em tempo real, senão quando sai nos streamings (reprise no TVer, arquivos no prime video, etc., mas a maioria está com no máximo legenda em japonês mesmo), assim como filmes e agora animes. Num ponto estou melhorando ao menos no entendimento, mesmo com legenda original, porque, ainda bem que tenho uma boa noção de kanji e os que não sei, eu procuro.

Como eu já comentei antes, eu só não me voluntario para ajudar nas traduções de legenda de doramas e filmes japoneses por motivos de eu não ter os requisitos necessários para isso, como fluência na língua japonesa (tenho N3, mas ainda sofro horrores na hora de falar algo), ter tempo (bem, isso é relativo) e um bom computador (tenho um notebook de cinco anos atrás, Core i7). Além de eu não conseguir cumprir os compromissos. Se não é pra fazer direito, então melhor nem começar, isso que eu sempre tenho em mente.

Minha dor volta com tudo quando fico sabendo que alguns fansubs brasileiros que legendam doramas correm o risco de fechar por não conseguirem autorização de fansubs estrangeiros para traduzir para o português, isso quando não cobram uma taxa para ter com legendas em inglês. Isso desanima qualquer um. 

Muitas vezes eu tenho vontade de mandar um mail para esses fansubs estrangeiros com boas e poucas, mas não faço isso porque 1) tenho amor à vida e 2) quem sou eu para querer desafiar gente que é mil vezes fluente que eu. 

Mas ao mesmo tempo me sinto mal pra caramba em não poder ajudar os fansubs brasileiros que querem trazer projetos diferentes para os dorameiros exigentes, de traduzir direto do japonês mesmo. Motivos eu já expliquei e olha que estou tentando aos poucos superar essa frustração. 

O que eu preciso mais é agir do que ficar me lamentando, e usar os recursos que eu tenho disponível. Nem que eu demore uma vida para traduzir uma simples linha de diálogo, mas que eu estarei me esforçando mais e mais em aprender.

Um paradoxo: ao mesmo tempo que eu consigo resolver vários problemas burocráticos, incluindo renovar visto e até solicitar mudança de placa de carro, eu demoro muito para traduzir uma simples nota curta para uma conta que co-administro para não postar besteira. Imagine traduzir um dorama inteiro de dez a doze episódios.

E lá vou de novo com aquela maldita crise de que "tem-gente-que-nem-sabe-bem-a-cultura-do-país-mas-é-fluente-ao-ponto-de-traduzir-direto-só-ouvindo" e eu que sou terceira geração, tenho que pedir para o nativo repetir e devagar para eu entender melhor. Ou seja, eu tenho que parar com esse complexo de inferioridade perante os outros - cada pessoa tem o seu modo de vida, de entender mais ou menos (em resumo: eu tenho que cuidar de mim mesma e esquecer dos outros, se eles são melhores ou piores que eu, não interessa mais).

Felizmente existe o lado positivo: quando consigo ajudar alguém que está com dificuldade em entender algo em japonês e o resultado foi mais que satisfatório, eu fico agradecida (e aliviada em saber que deu tudo certo). E isso também me anima.

Imagem: foto da autora via smartphone mesmo, do rio Yanagawa, Kisarazu onde tem árvores de cerejeira em ambos os lados, mas no dia que tirei essa foto, as flores ainda estavam pensando em sair. E quando ficaram em full blossom, choveu.

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