O Charme Elegante da Discrição (*)

Quando falamos em sermos discretos, não significa entrar mudo e sair calado como se não existisse. Significa ficar no seu canto, fazer suas coisas mesmo estando com a antena ligada. Se bem que quem tem antena são rádios e insetos, eu quero dizer no sentido figurado da coisa, isto é, ficar atento a tudo, absorver e continuar fazendo o que você está concentrado.
Confesso que muitas vezes sou indiscreta. E quem não tem seu lado "Ofélia", do antigo "Balança mas não Cai" e ressuscitada no "Zorra Total", ambos programas humorísticos da Rede Globo? Ora, ninguém sai incólume de alguma indiscrição. Algumas a gente perdoa, como gritar em caso de outro em perigo. Mas algumas a gente quer se enfiar no buraco como avestruz e ficar por lá, caso de alguém falar pra você ou vice-versa que a calça está rasgada, a braguilha está aberta, e por aí vai. Neste caso, leia-se falar pra todo mundo ouvir. Até a torcida do Tricolor (perdoem-me os outros times, não tenho culpa).
Provocar vexames, bom, não dá pra evitar e não dá pra escapar. Ora, quem nunca foi criança e já fez seus pais passarem vergonha quando você cometia uma gafe? Das grandes ainda. Vamos dar um desconto: afinal, éramos crianças. O duro é engolir quando a gente passa pra vida adulta e fazemos cada uma...
Claro que errando a gente aprende, mas repetir o erro...
Falando em erro, quando uma outra pessoa erra, a gente (tenta, na medida do possível) falar com a pessoa e mostrar entre quatro paredes, você e ela, que é assim e assado mas não grelhado. Pra não "pegar mal" em ambas as partes perante terceiros: você como carrasco e ela como a ignóbil. E saber pedir desculpas pelo erro e perdoar pelo erro.
Posso ser conhecida pela "conhecedora de assuntos aleatórios", ou quando a gente fala de alguma coisa, bom, confesso que exagero e acabo fazendo uma coisa puxando a outra. Do tipo, "entrou por uma porta e saiu por outra, quem souber que conte outra", coisa parecida, típica do tempo que assistia ao "Rá-Tim-Bum", da TV Cultura. Mas tem gente que gosta, pois existem fatos que ninguém lembrava, nostalgia pura. O duro quando o assunto não tem nada a ver com a outra. Ou meter o bedelho sem ser chamado quando nem se tem intimidade com o assunto.
A discrição preza também no vestuário. Tem algo a ver? Para muitos sim, dizem que "a roupa faz o homem" ( e a mulher também, viu, quem criou esse ditado machista?!). Dependendo do ambiente do trabalho ou fora dele, temos um jeito certo de se vestir. Obviamente você não vai a um show de rock pulante (sim, é pulante mesmo, ninguém pára quieto) de sapato de salto Luís XV, num casamento chique de tênis surrado, e escalar o Monte Fuji de maiô. Temos roupa certa pra tudo. Claro que não precisa torrar montes e montes de verdinhas para munir seu guarda-roupa. Basta ser básico (a), cores neutras e algumas coloridas, afinal a vida não é tão monocromática assim, né? Mas também reza o bom-senso. Pra quem não sabe: trabalho em um escritório, como de repente pode aparecer uma visita-surpresa, melhor estar bem-vestido.
Bem-vestido não significa grandes marcas. Uma roupa básica, discreta, que não chame a atenção. Certo, certo, conheço pessoas que não se sentem bem usando uma camisa social, terno, saia e salto. Mas também não precisa vir com uma saia parecendo uma cinta larga ( como diria um colega meu de serviço ) e com o fio-dental aparecendo. Fica até vulgar. Se bem que a roupa mais indiscreta minha até hoje (desde que me conheço) foi ter ido trabalhar no verão com uma blusa listrada de laranja monocromática e no início do outono com uma blusa listrada de outras cores. O que me rendeu por alguns dias o apelido carinhoso de "pirulito", isso levei numa boa...
Tinhamos recebido um e-mail interno dos chefes da empresa onde trabalho a respeito do vestuário. Subentendemos que no verão melhor não aparecermos de camiseta regata ou de alcinhas. Mas que consertem o ar-condicionado logo, pois ano que vem parece que promete.
Mas em outros aspectos, melhor ficar com o bico calado.

(*) O título de hoje é uma pequena paródia com o título do filme do espanhol Luís Buñuel, de 1972, "O Charme Discreto da Burguesia". Preciso voltar a ir ao cinema, alugar filmes, que seja, o mais rápido possível!!!

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