Cinema


Desde o ginasial costumava ir ao cinema da minha cidade (enquanto tinha um), especialmente nas matinês de domingo. Era hábito: ia na escola dominical, depois matinê no cinema da cidade e no final, uma passada na sorveteria da pracinha (toda cidade do interior do Brasil tem uma, inclusive a minha cidade tinha até um coreto no meio). Lembrando que eu só fazia isso caso eu fosse bem nos estudos, senão era da escola dominical direto pra casa.

Acho que de tanto ir nas matinês, criei o hábito de querer assistir filmes, mesmo com o advento das videolocadoras, que todo final de semana eu alugava seis filmes, e normalmente eram os que tinham acabado de serem lançados no cinema (no estrangeiro). A gente fazia isso por dois motivos: não tinha muito o quê fazer no final de semana e, alugando seis filmes na sexta-feira, pagava por cinco e ainda podia devolver na terça-feira (um pouco dá pra entender de onde comecei o hábito de conseguir desconto em tudo).

Quando vim parar aqui no Japão, eu havia parado com o hábito de ir ao cinema, mas de alugar filmes na locadora, eu ainda mantive. As duas primeiras cidades onde morei não tinha cinema, mas a locadora ficava perto de casa. Sorte que tínhamos videocassete (e DVD player) e, mesmo se não tivesse, poderíamos alugar o aparelho. E eu ainda assistia filmes "do estrangeiro", porque em japonês era somente doramas.

Voltei a ir ao cinema depois de oito ou nove anos depois que cheguei aqui, quando fui morar em Yokohama. Alguns colegas de trabalho me convidavam para ir, me ensinaram como comprar ingresso na hora e antecipadamente, saber dos dias com desconto (sim, os cinemas daqui têm descontos especiais), as salas que passam, essas coisas.


Daí por diante, foi ladeira abaixo: pelo menos vou ao cinema com uma boa frequência, e quando durante o ano sai muito filme interessante, já providencio cartão de fidelidade nos principais cinemas (Toho, 109 Cinemas e United), para conseguir desconto, pipoca e até ingresso na faixa. Perdi a conta de quantas vezes saía do trabalho e ia direto ao cinema mesmo no late show para conseguir assistir ao filme que eu estava esperando entrar em cartaz.

Claro que teve filme que foi do tipo assistir uma vez só para ver onde dava e depois nem passava perto da locadora de tanta raiva que passei assistindo. Ou porque era do tipo de filme que gostei, e se quiser ver de novo, só quando der. Mas teve filme que assisti várias vezes ou porque gostei muito ou porque na primeira vez não entendi e tive que assistir de novo (porque até ser lançado em DVD e colocar pra locação ia demorar, e tem filme que leva mais tempo para colocarem nos aplicativos como Netflix ou Docomo TV por exemplo).

Nessas alturas do campeonato vai ter gente me perguntando: "mas você entende?" Pelo menos uns 70% do filme dá para eu entender numa boa, os outros 30% vai na dedução. E outra: tenho que treinar melhor o que estariam comentando na tela, já que estou estudando também.

Obviamente já ouvi muita gente me criticando o fato de eu ir ao cinema - falam que é caro, desperdício de dinheiro, de tempo, de tudo. Que eu poderia passar o final de semana dormindo. Que eu poderia economizar o dinheiro da pipoca para comprar alguma futilidade, sei lá. Mas não ligo. Eu trabalho para quê? Tenho que ter minhas compensações nos dias que folgo, como ir ao cinema, ir ao show do meu artista favorito, frequentar alguma cafeteria nova, ir em eventos que interessam para mim. Essa gente que critica, por acaso pagam minhas contas? Estão pagando meu ingresso? Não, né? Então deixem-me aproveitar a vida, algo que muita gente aqui não faz.

O interessante também dos filmes, são as locações onde foram feitas, que fogem muito do cenário de Tóquio (quero dizer, o famoso cruzamento de Shibuya). Teve filme que assisti que o enredo se passava até fora do Japão. Isso que torna, muitas vezes, o filme interessante, ao ponto de querer visitar as locações.

A maioria dos filmes são baseados em novels e mangas, mas dependendo do diretor, roteirista e do elenco, o filme pode ser melhor (ou pior) que o original. Isso vale no quesito doramas também.

O que muitas vezes me leva até hoje a assistir a um filme, seria o elenco, eu confesso. Depois o enredo. Raramente escolho por causa do enredo. Mas claro que teve filme que assisti que nem o elenco que gostava, salvou. Ou o enredo que era confuso. Ou ambos. Essas coisas acontecem. Dificilmente eu leio críticas sobre o filme, pois cada um tem sua própria. Do tipo: se quiser, vá. Se não quiser, não vá, mas não corte o barato de quem quer ir. E vice-versa.

O que a gente quer mais é se divertir, esquecer o mundo e os problemas nem que sejam por duas ou três horas.

Imagens: @NatsumeYujincho (twitter) e @masaharu_fukuyama_official (Instagram)

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