O Mico do Constrangimento

*O título eu peguei da minha conhecida do trabalho e Instagram, a @ludyhiga, que também trabalha com mídia social.

O famoso lamen de pimenta vermelha e muito mais que eu jurava que fosse de molho de tomate logo que eu vim parar aqui... (foto via google mesmo)


Atire a primeira pedra quem nunca cometeu gafes, sejam pequenas ou enormes, em qualquer lugar (não precisa ser aqui no Japão, pode ser até na sua própria cidade natal, ou em reunião de família ou no seu cotidiano). Eu também já cometi cada gafe e paguei cada mico, que foi só passando vergonha que aprendi a me virar em qualquer lugar. Ou quase, né.

Um dos motivos que me levou a aprender a língua japonesa e parar de passar vergonha por aí, foi o bendito lamen de pimenta vermelha que eu jurava que fosse de molho de tomate. E esse episódio eu costumo contar sem constrangimento, porque foi dessa forma que criei vergonha na cara e passei a estudar.

Claro que tive vários momentos de vergonha alheia, felizmente eu estava sozinha, então era uma pagação de mico solitária. O duro é quando se está acompanhada...

Sobre "o mico do constrangimento", pode ser que eu tenha feito e não percebi e a outra parte ficou no deixa disso. Confundir nacionalidade de algumas pessoas que moram aqui, talvez seja bem natural, em se tratando de latinos por causa do sotaque (sim, já fiz confusão por causa disso e a maioria dos latinos que conheci, tinha nome semelhante ao português e sobrenome japonês. Por eu ter morado em uma província onde a comunidade peruana era forte, quando conheci paraguaios, argentinos e bolivianos, achei que fossem do Peru, se eu não perguntasse). Mas eu sei que muita gente odeia ser confundido, por isso eu espero a pessoa se manifestar.

Mas, quando cursei língua japonesa em uma escola que atendia outras comunidades asiáticas, como coreanos, chineses e taiwaneses, na hora de eu fazer minha apresentação, todo mundo achava que eu era de qualquer lugar da Asia, menos eu ser nikkei e brasileira.

Talvez o maior constrangimento que já passei na minha vida, e olha que nem fui eu quem cometeu, é muita gente julgar seu gênero pelo corte de cabelo. 

Sério.

Já comentei aqui que eu passei a cortar meu cabelo curto, e achava sempre que pelo menos ninguém ia me encher o saco a respeito. Ledo engano.

Recentemente, umas mulheres de tal nacionalidade chegaram para mim e perguntaram na "cara dura" se eu 1) era homem 2) era lésbica 3) era transexual. Eu perguntei o motivo de elas acharem que eu era tudo isso sendo que eu sou mulher.

"Para nós, mulher que tem cabelo curto, ou é lesbica ou tá querendo virar homem", disseram elas.

E nem adiantava nada eu explicar que mulher de cabelo curto é opção, é porque não aguenta manter um cabelo comprido num verão de lascar, e tem muita mulher aqui que tem uns pixie haircut lindos que dá gosto de pedir pra cortar quase igual.

Ou seja, para algumas pessoas, como elas por exemplo, o corte de cabelo influencia no gênero de uma pessoa - da mesma forma que existem homens de cabelo comprido, alguns de dar inveja a qualquer mulher por ter um cabelo bem-tratado.

Pior que existe um estereótipo entre essa gente, pois em um lugar onde trabalhei, todas dessa nacionalidade tal, que tinham cabelo curto aka pixie haircut (algumas até faziam kariage, que raspavam as laterais mas escondiam com o cabelo), eram lésbicas. E as que tinham cabelo comprido, se diziam hetero. 

Para mim, corte de cabelo não define o gênero nem opção sexual de uma pessoa. Aliás, qualquer pessoa é igual para mim, independente de opção sexual, corte de cabelo, modo de vida... Desde que respeitem também minhas escolhas.

(Até hoje muita gente fica horrorizada quando digo que não sou casada no papel, há mais de vinte anos que vivemos sob o mesmo teto, e outra parte fica passada quando digo que gosto de ler manga BL, assistir j-doramas e gostar de idols da galera dos Johnny's. Perguntem para mim se eu ligo para a opinião alheia - faço a egípcia e vou viver minha vida ué.)

Talvez fosse bem melhor essa gente ter ficado calada e ignorado minha presença - como elas sempre fazem no trabalho que nem bom dia dão de volta.

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