Quando Decisões acabam sendo tomadas


Mesmo que elas sejam drásticas, mas temos que enxergar sempre o lado positivo nisso tudo. Já começa que do nada eu havia decidido vir parar aqui no Japão, 24 anos atrás.

Eu tinha um emprego razoável, mas três anos fazendo a mesma coisa e sem perspectiva de melhorar (tanto profissionalmente como financeiramente), e além disso eu não tinha conseguido vaga para lecionar à noite, onde eu trabalhava não me mandava mais para fazer cursos de aprimoramento, e para completar, fiquei dois meses em casa por conta de uma perna engessada.

Quando havia tirado o gesso e peguei o restante das minhas férias, resolvi passar uma semana na praia, mesmo eu não sendo tão chegada assim (tanto que passei uma semana na praia com o tempo nublado com alguns dias de chuva). Numa dessas, eu tinha parado para pensar que raios eu estava fazendo com minha vida. Conheci muita gente errada, estava descontente com meu emprego. O que me salvava era minha família, que numa de nossas conversas do cotidiano, minha mãe disse meio que em tom de brincadeira, mas no fundo era sério:

Por que não fica um tempo no Japão? Quem sabe aproveita mais a vida.

Eu não tinha muito a perder, já que eu era uma pessoa em potencial para conseguir visto de trabalho mais rápido, ainda mais que eu tinha passaporte com vencimento bem longe, e documentação em dia. Foi tão rápido, que minha documentação, visto e emprego ficaram prontos em menos de três meses.

Em dez dias, pedi demissão, fiz as malas e vim parar aqui. O "um tempo" que minha mãe disse, bem...

Nesses vinte e quatro anos que estou aqui, já fiz muita coisa, mas também adiei outras (mas felizmente consegui fazer algum bom tempo depois). Sobre decisões de fazer algo ou não. De encarar mesmo quebrando a cara, e a gente tenta de novo, porque se a gente não tentar, como saberemos se vai dar certo ou não.

Certo que para algumas coisas eu parei muito para pensar, e nesse tempo eu acabei perdendo algumas oportunidades, que a maioria nunca mais consegui ter de novo. Mas há males que vêm pra bem, como o dia que o exame para o TOEIC foi adiado por causa do terremoto e acabei fazendo um ano depois e consegui ter boa pontuação, ou ter demorado um pouco mais para prestar o exame do JLPT e ter obtido pontos no N3.

Uma das maiores decisões que tomei nessa vida foi pedir um período de férias para não voltar tão cedo. Quem me acompanha aqui e nas outras duas redes sociais, já estava cansado de ler minhas reclamações e desabafos constantes de dores pelo corpo todo, e inúmeras decepções nas minhas tentativas de conseguir algo melhor.

Agora tenho a certeza mesmo de que eu precisava fazer certas coisas quando eu estivesse realmente parada (no sentido de eu não estar trabalhando), porque depois que eu entrei de férias, consegui resolver 90% das minhas coisas que estavam pendentes. Inclusive consegui algo melhor, finalmente. E também porque eu estava numa fase em que queria algo o mais rápido possível porque eu estava no limite da minha paciência, mas comprovado, pelo menos para mim, o velho ditado "o apressado come cru".

Mas também eu não podia decidir parar da noite para o dia, de modo abrupto. Eu tinha que esperar namorido completar um mês de trabalho no mesmo lugar onde eu estava, para eu poder pedir minhas "férias". Dos nove anos e seis meses que trabalhei no mesmo lugar, posso dizer que pelo menos seis anos eu fui muito feliz, porque nos últimos anos, tive que me esforçar muito para que as coisas boas cobrissem as ruins, porque só quem me conhece pessoalmente sabe.

Daí vem aquelas pessoas que postam nas redes sociais dizendo que a gente aqui não tem iniciativa, não quer sair do lugar, vive com a vida estagnada. Antes dessa gente falar isso, mesmo tendo presenciado, vivido, etc., procure saber o quê realmente essa pessoa está passando. De repente, ela quer sair do lugar, mas existem fatores que a impedem de fazer isso a curto prazo. Ao invés dessa gente criticar, então use as redes sociais mais para instruir e mostrar o caminho (lembra da postagem em julho que fiz sobre "se vira que a gente não é quadrado"?), pois, afinal, rede social serve para ajudar, também.

Confesso que muitas vezes eu procrastino, mas nem é preguiça, mas muitas vezes é esgotamento mental, e quando fico assim, não consigo nem assistir dez minutos de meus programas e doramas favoritos. Eu tenho que ficar em completo silêncio, ou na pior das hipóteses, dormir e acordar no dia seguinte.

Agora estou bem melhor, fazendo as coisas que eu mais gostava de fazer antes de estar naquele estado físico e mental deploráveis, desde testar receitas novas até voltar a fazer artes manuais. Quando eu voltar às minhas atividades normais, quem sabe eu volto com mais ânimo e tempo a gente sempre vai arranjar.

Foto: da autora, em Osaka, ao lado do CASO Gallery onde fui no dia 6 de agosto.

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