Sem Padrões

Toyohashi, vista pela passarela entre a estação e o Teatro PLAT.

No texto sobre o mês de Outubro, mencionei o fato de que aqui (e no mundo afora) existem pessoas que se acomodam e não querem saber de conhecer outras coisas novas, se divertir, se distrair. Certo que cada um sabe o que faz da vida, mas quando começa a reclamar, aí algo está errado...

Na verdade, eu não me encaixo 100% no perfil do pessoal estrangeiro que mora e trabalha no Japão, aquele tipo de pessoa que só pensa em trabalho, diversão pra quê, imagine estudar para melhorar de vida. Quem me acompanha aqui e nas poucas redes sociais que raramente atualizo, sabe que eu trabalho, sim, mas tenho meus momentos de descanso, diversão e até momentos de pão-durice que poderia fazer o Ninomiya morrer de inveja (ok, exagerei).

Aliás, eu sou bem "fora dos padrões" da maioria aqui...

Como assim fora dos padrões?! Calma que vou tentar explicar...


Acompanho mais dorama (novela japonesa) do que novela brasileira (e/ou séries norte-americanas e européias): Isso porque no Brasil eu nem assistia novela nem série direito, porque eu estudava à noite e, quando me formei, passei a trabalhar em dupla jornada (CLT durante o dia, e lecionava à noite). E a hora que eu chegava em casa, eu conseguia assistir noticiário, documentário e olhe lá. Quando vim parar aqui, minhas colegas de apartamento viviam assistindo dorama, programas de entretenimento e musicais. Em 1998 mal a gente tinha videocassete ou DVD Player, imagine TV por assinatura... Foi de tanto assistir esses programas que acabei aprendendo mais japonês, viciando em dorama, filmes japoneses...

Meguro convencendo carinhosamente o Fukazawa a assistir o dorama da temporada

É mais fácil perguntar qual dorama estou acompanhando do que novela ou série.

Bastidores do CDTV Live Live do dia 14 de novembro, em que juntaram Naniwa Danshi e os recém-debutados Travis Japan fazendo a famosa pose "chuki-chuki" (foto do Instagram do Naniwa Danshi, porque no do Travis Japan, todos estavam fazendo a pose TJ)

Meu player é 95% música japonesa. E os 5% restantes é Beatles e Paul McCartney. Mesmo caso em relação a programação televisiva japonesa. Foi de tanto assistir dorama, programas musicais, etc., que passei a ouvir muito mais j-pop do que o resto (mas nunca esqueci do quarteto de Liverpool). Só consigo falar de j-pop para poucas pessoas, e olhe lá, porque se eu falo de artistas - mesmo do passado - o povo não sabe.


Frequento muito cinema, concerto e agora teatro. Povo fica horrorizado quando eu menciono que vou ao cinema. Acham o preço do ingresso caro pra caramba, sem falar que o preço não inclui pipoca nem refrigerante. Na verdade, eu costumo ir a sessões de cinema nos dias em que tem desconto, e ter o member card do cinema. Paga anuidade, sim, mas existem vantagens que se souber aproveitar, pode até ganhar um ingresso na faixa.

Se o povo acha um absurdo quando falo que vou ao cinema, imaginem quando eu menciono concerto e teatro...

Desde 2006 eu vou em concertos de artistas que eu gosto muito. Para terem uma idéia, perdi as contas de quantos concertos do Masaharu Fukuyama eu já fui desde 2007 até o ano passado. Isso sem contar dos idols (Arashi, KAT-TUN e V6) e até do meu ídolo-mor Paul McCartney (todos os concertos que ele fez no Japão, desde 2013, fui sem nenhum peso na consciência, porque no bolso, bem, trabalhando direitinho, a gente recupera).

Já ouvi muitos comentários de gente dizendo que "não paga um rim pra ficar num lugar apertado e não conseguir ver nada por duas horas". Já paguei quase 20 mil e peguei lugar bom, fora que tem telão de alta definição e som perfeito. Pago caro, sim, mas esqueço do mundo caótico por muitas horas, com as músicas e performances que encantam todo o público.


Sem falar que sabe lá quando eles voltarão a fazer concerto de novo, especialmente o Paul, porque ele já está com 80 anos e não sei não se ele encara uma nova turnê mundial (se bem vindo dele, eu não duvido nada).

Quanto a lugar ser apertado, pra informação dos alienados, pelo menos aqui, a grande maioria dos lugares de concertos e peças de teatro é tudo numerado, certinho. Questões de segurança e controle, vamos dizer assim.

Minhas roupas são de lojas tidas como "populares" quando não muito, eu compro em época de desconto, especialmente quando muda a estação do ano. Sem falar que costumo ir em outlets pra conseguir peças boas a precinhos camaradas - já comprei roupa com 90% de desconto.


Em uma das minhas faxinas no guarda-roupa que faço pelo menos duas vezes no ano, descobri que tenho muita roupa da loja UNIQLO (uma das redes de fast-fashion que faz muito sucesso aqui e a qualidade das roupas é excelente) e da earth music & ecology (rede de lojas que chegou a ter as atrizes Aoi Miyazaki e Suzu Hirose como divulgadoras da marca). 

Roupa para mim, tem que ser aquela que tem que durar anos e não sair de moda, apesar que aqui no Japão tem muito estilo que vem e volta, e se for peça básica, dá pra coordenar com outras sem problemas nenhum.

Mesma coisa com sapatos e tênis - na real, tenho poucos pares, e olha que duram muito. As influencers brasileiras ficariam horrorizadas se verem que aqui sapato estilo ballet e tênis All-Star nunca saem de moda. Muito pelo contrário: as mulheres usam sem dó nem piedade, por causa da facilidade de tirar o sapato em algum lugar. 

Bolsas: confesso que uso de uma marca só e ainda comprei num outlet com desconto e dura até hoje. Mas para ir trabalhar, uso as de concert goods, porque são fáceis de carregar, cabe muita coisa e o design é bacana.

Mesmo assim, o pessoal estrangeiro que mora aqui, generaliza, achando que todo mundo compra tênis de última moda, bolsa cara e ainda reclama da vida. Mas existem pessoas que não segue o "padrão típico dekasegi" e aproveita muito mais, como eu, por exemplo.

Claro que a gente precisa trabalhar porque temos contas a pagar, precisamos comer, vestir e cuidar da saúde, mas também temos que saber aproveitar a vida mesmo morando do outro lado do mundo, aprender novas coisas, conhecer lugares inusitados mesmo dentro de uma cidade turísitica, saber aproveitar promoções, descontos e ofertas, conhecer melhor a gastronomia da cidade e até internacional (mesmo arriscando a ter uma indigestão depois, mas pelo menos experimentou).

Podem achar que essa postagem seria egoísmo de minha parte, que eu me fechei no meu próprio mundo, essas coisas, mas infelizmente (ou felizmente, que seja) eu não acompanho o ritmo da maioria dos estrangeiros que moram aqui e que para eles a vida se resume em trabalho-casa-e-juntar-dinheiro-pra-cair-fora-daqui. Eu sei que o custo de vida é alto aqui, mas se souber controlar finanças e aproveitar o resto, existem coisas que a gente faz uma ou duas vezes no ano.  

Mas existe o fator "barreira da linguagem" ou "choque cultural". Mas isso eu posso comentar em alguma postagem aleatória.

Imagens: via google, exceto a que abre o post e dos cartazes dos filmes que são da autora.

Comments

  1. Oiee Kiyomi!
    Já disse que adoro ler suas postagens, e digo novamente, adorei ler suas experiências e da forma que vc curte sua vida no japão! Chegamos a conclusão que as pessoas reclamam de tudo sobre da vida alheia né, se vc tivesse uma vida cheio de grife, te chamaria de ostentadora, agora se economizar e gastar para ingressos de concertos ou ir na cinema, acham ruim também, vai entender essas pessoas... Eu gosto da forma que vc aproveita sua vida, gastar um pouco as vezes, mas nada de passar por necessidades, olha que vida boa?

    "trabalho-casa-e-juntar-dinheiro-pra-cair-fora-daqui." Sabia que essas pessoas que voltam no país pra comprar a casa, acaba voltando no japão de novo? Porque não conseguem achar um emprego pra sustentar depois... Infelizmente o brasil continua país de terceiro mundo, como que a pessoa acostuma tanto que já acostumou com rotina do japão, além da falta de segurança, salário é baixo, as coisas são bem caras, todo ano tem inflação, entre muitas coisas complicadas. E essas pessoas que mal estudam o que acontece aqui, volta sem planejamento e sem preparo que acaba se ferrando. Meu pai por exemplo é um deles que voltou pra cá depois de 20 anos morando no japão, mas sem tostão que nem consegue se sustentar sozinho...

    Gente, eu amo Uniqlo, é aquele estilo basic que combina com qualquer tipo de roupas ♥ E dei uma olhada na marca earth music & cology, eu achei linda o estilo dela, vou ficar de olho pra ver se compro quando chego no japão hihi ♥

    Kiss
    Tsuki no Shita

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    1. Oi, PaMu!!!!
      Que bom que você ama minhas postagens aleatórias e do meu way-of-life nada comum aqui, porque mal entra meu dia de folga e já vou procurando lugar diferente pra passear, pra comer, até mesmo livraria e artigos de papelaria, porque sou a louca das canetas coloridas, adesivos e masking tape... Se resolvo tirar um dia em casa pra recarregar as baterias, pode ter certeza que estou 1) assistindo dorama ou filme ou 2) lendo mangá ou revistas de economia, trabalho e variedades hahaha

      Quanto ao pessoal ficar reparando em tudo na gente, isso acontece em qualquer lugar, a diferença é que raramente os japoneses ficam comentando da sua roupa ou acessório, a não ser que chame demais a atenção, como roupa apertada demais ou decotada mais ainda... Mas entre os estrangeiros... tirando cabelo, que isso nem tem como passar despercebido, o resto vou te falar...

      Pois é, a maioria que juntou dinheiro em tempo recorde pra logo cair fora daqui, não demorou muito pra retornar por diversos motivos. Ou não soube investir direito ou não procurou aprimorar nos estudos ou tudo junto. Exceções existem, sim, tivemos dois amigos que trabalharam em uma das firmas mais conhecidas aqui e, retornaram ao Brasil e acabaram trabalhando na filial dessa empresa e, felizmente estão bem, pois eles aprenderam muito aqui para usarem o máximo e mais um pouco lá.

      O ruim da gente tentar arranjar emprego no Brasil depois de anos no exterior, é que a maioria do RH não aceita o fato de ter trabalhado e ter tido experiência, ou seja, todos os anos trabalhados aqui, no BR nada servem, isso que é a verdade. Fora o que você disse, a segurança. Quando passei um mês no BR, eu não conseguia sair de casa sozinha, tinha que namorido sair comigo - se bem que, quando fiquei uma semana na casa do meu irmão, pegava metrô sozinha, vai entender...

      Aqui, a UNIQLO está em tudo o que é canto, muitas roupas básicas, apesar de algumas serem sazonais, mas que dá pra combinar tudo. A earth music & ecology é minha favorita, pois as roupas também são básicas. Particularmente, eu gosto muito das blusas de lã e quando fazem collabo com o anime Natsume Yujincho, tanto que tenho uma blusa e uma sacola dessa parceria, e agora esperando chegar o poncho e outra sacola hahaha.

      Tem loja física, sim. Em Nagoya tem no Aeon Nagoya Dome, no Chaya e no Mozo (o mais perto de casa), por exemplo.

      Coragem que falta pouco!!

      Beijao!

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