Mensagens Ocultas, Referências, Easter Eggs em... Músicas (Parte 2 - Músicos e Bandas dos anos 60 e 70)

Para quem não lembra da Parte 1, dá uma lidinha nesta postagem aqui, e a gente percebe que no mundo musical, especialmente dos anos 60 em diante, não eram somente os Beatles quem colocavam mensagens ocultas em suas músicas para encobrir amores clandestinos, segundas intenções, substâncias ilícitas, indiretas para seu desafeto, vinganças, ou até mesmo coisas sem sentido algum para fazer outros terem seus neurônios derretidos para tentar decifrar o sentido da letra da música.

Uma das mais conhecidas no mundo rock entre os anos 50-60, é "Louie Louie", original de Richard Berry and The Pharaohs, mas teve uma versão um pouco mais "picante" pra não dizer outra coisa, com a banda The Kingsmen. Não que a letra fosse, mas a entonação e até um palavrão, fez com que a música fosse banida em algumas cidades nos Estados Unidos.

Outra banda que até que tentava esconder referências e algo mais em suas músicas, eram os Rolling Stones, que ainda está na ativa. Desde o início até hoje, muitas de suas músicas têm uso de gírias e mensagens ocultas para dar uma "amenizada" nelas, mas é meio que difícil...

- Em "I Can't Get No Satisfaction", o hino da banda, o verso final era que o cara queria sair com a garota, mas como ela estava naqueles dias, ela pediu para deixar pra outra semana (a frase "I'm on a losing streak" é uma gíria para menstruação).

- "Mother's Little Helper", no que o título parece ser inofensivo, a letra é sobre uma dona de casa entediada e viciada em tranquilizantes, dado a entender em um dos versos - "doutor, por favor, dê-me um pouco mais/ e ao sair toma quatro doses".

- "We Love You", uma das faixas de "Their Satanic Majesties Request", é uma música de agradecimento aos fãs por terem dado apoio durante o período em que Mick Jagger e Keith Richards tiveram que enfrentar o tribunal por causa de possessão de drogas. Além de terem os backing vocals de John Lennon e Paul McCartney, em alguns trechos da música ouvem-se sons de correntes e um portão de ferro sendo fechado, uma alusão de encarceramento.

- "Brown Sugar" na verdade era uma música inspirada na cantora Marsha Hunt (e também em Claudia Lennear, ex-membro do grupo The Ikettes), e não em heroína como se cogitava na época (brown sugar era um dos sinônimos para se referir a heroína).

- "Hackney Diamonds", o último álbum da banda, é uma gíria para "os estilhaços de uma janela quebrada após esta ser quebrada para um assalto". Hackney é um bairro londrino que antigamente era conhecido pelo alto índice de criminalidade, e os londrinos do lado leste - onde fica o bairro - usavam a frase Dalston Diamonds para dar referência a uma área específica de Hackney.

Se eu for listar tudo o que é artista dos anos 60 que tinha música com letra com mensagem oculta ou cheia de referências, não vou terminar nunca. Ainda mais que os anos 60 foi a década de mudanças, revoluções e liberdade, e o uso de substâncias ilícitas para dar maior criatividade (e coloca criatividade nisso), muitos artistas tiveram que botar a criatividade pra funcionar pra esconder ou minimizar algumas frases e palavras que poderiam ser censuradas. 

Quem imaginava que a banda The Monkees tinha uma imagem de "bons garotos" e por isso que os produtores queriam que eles fossem os Beatles circa 1963, melhor rever os seus conceitos, porque depois que começaram a serem mais independentes, saíram algumas músicas com muita mensagem oculta.

(*Nota da autora: pouquíssima gente sabia, mas eu cheguei a assistir todos os episódios quando passava na TV aberta nos anos 70, e cheguei até a frequentar um encontro de fãs da banda quando eu ainda estava no Brasil.)

- "No Time", do álbum "Headquarters", a frase "runnin' from the risin' heat/to find a place to hide/the grass is always greener/growin' the other side" seria estar fugindo da polícia por estar com posse de erva (grass em inglês, além de grama, é uma gíria para marijuana).

- "Randy Scouse Git", faixa que encerra o álbum anteriormente citado, é composição de Micky Dolenz. O título ele pegou de um sitcom londrino chamado "Till Death Us Do Part", onde o protagonista insulta o genro que é de Liverpool (a tradução literal seria "Um Liverpudliano Safado"), e a música é sobre uma festa que os Beatles fizeram para ele e Michael Nesmith quando estiveram em Londres (os dois aparecem no music video dos Beatles "A Day In The Life") - "the four kings of EMI" seriam os Beatles; "the girl in a yellow dress" seria referência a Cass Elliott, do Mamas and The Papas; "she's the wonderful lady" seria a apresentadora Samantha Juste, que viria a ser esposa de Dolenz. Para não dar problema na Europa, a música ganhou o título de "Alternative Title". Então, se acharem algum álbum com esse título, ele foi lançado na Europa.

- "Salesman", composição de Nesmith, que abre o álbum "Pisces, Aquarius, Capricorn & Jones Ltd.", quase foi censurada devido ao teor da música - que seria um cara que vende qualquer coisa bastando sorrir. Muita gente achou que a letra seria sobre traficantes de drogas que estaria sob efeito de estimulantes (porque sempre estava sorrindo).

- "Daily Nightly" também de Nesmith, é sobre o confronto entre jovens e a polícia em Sunset Strip, Califórnia, um dos lugares mais badalados pela juventude nos anos 60. A banda chegou a comentar sobre esse confronto no final do episódio "Find The Monkees - The Audition".

- "Mommy and Daddy", uma das composições de Dolenz, tem duas versões - a que saiu no álbum "The Monkees Present" fala sobre como tratam os índios norte-americanos (já que Dolenz tem raízes indígenas), consumo de remédios e ignorância social. Mas a versão alternativa, já é bem mais pesada - perguntas sobre quem matou John Kennedy, uso de drogas, guerra, reprodução sexual e assassinato (ou tirar a própria vida).

Uma das músicas mais famosas da banda Deep Purple, "Smoke in the Water" de 1972, é baseado em fatos reais - eles estavam em Montreaux, Suíça, gravando nos estúdios que a banda Rolling Stones tinham, e ficava no complexo do Montreaux Casino. Na véspera das gravações do álbum "Machine Head", a banda Mothers of Invention, do Frank Zappa, estava fazendo um concerto no cassino, quando o local pegou fogo, destruindo o equipamento da banda e por pouco o estúdio móvel onde Deep Purple estava, não foi atingido. Pelo fato do cassino ficar próximo a um lago, é um dos motivos da música ter esse título (além de muitas referências no meio da letra).

Qualquer coisa, felizmente as músicas mencionadas e artistas idem, estão no Spotify (eu cito esse aplicativo porque é o único que eu uso, se bem que estou tentando usar o Last.fm mas quando fico no computador, eu acabo esquecendo dele). 

Tem muito mais, mas vou deixar para uma postagem posterior, senão esta vai ficar longa demais e sei que muita gente vai reclamar.

Imagens: Wall Street Journal. Gered Mankowitz Photos, Warner Music.

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